Glória é uma menina de 12 anos que possui uma cicatriz no peito devido a uma cirurgia no coração. Ela faz amizade com Sofia, uma garota queer de 12 anos cuja bisavó tem Alzheimer. Juntas, elas entram em uma jornada emocionante para descobrir de onde veio o coração de Glória.
Imagem: Gravações de “Sangue do meu Sangue”. Apoteótica Cinematográfica
Esse é o enredo de “Sangue do meu Sangue”, primeiro longa-metragem dirigido por Rafaela Camelo e junto da produtora independente brasiliense Moveo Filmes, com colaboração da produtora francesa Vertical Productions e da diretora de fotografia chilena Francisca Sáez Agurto.
Longa
A grande mensagem que Rafaela pretende passar é que não apenas os seres humanos, mas também os animais possuem alma. A expectativa é que o filme seja lançado em 2025.
O roteiro do filme já foi selecionado para eventos internacionais importantes, como o Sundance Institute e Festival de Berlim, e recebeu prêmios como o Cabíria de Roteiros no Rio de Janeiro.
“Ter a experiência em festival internacional nos coloca em contato com públicos distintos e conseguimos ter uma noção de como desenvolver a carreira comercial da obra. Além disso, é muito importante para as carreiras dos profissionais envolvidos, pois abre novas oportunidades,” diz Daniela Marinho, sócia-fundadora e produtora da Moveo Filmes.
É nos festivais que acontece a captação de talentos para trabalhar com a Moveo. Ainda assim, de acordo com Daniela, a produtora tem como princípio dar oportunidades para profissionais do DF, pois ajuda a dinamizar o mercado local.
No caso do “Sangue do meu Sangue”, a equipe de produção não só é composta por brasilienses em locações no centro-oeste, como também majoritariamente por mulheres, o que, na visão de Daniela, aumenta o olhar sensível e capacidade da narrativa se comunicar com públicos diferentes. Vale mencionar que a conexão entre Daniela Marinho e Rafaela Camelo é mais do que meramente profissional: elas se graduaram juntas em audiovisual na Universidade de Brasília, tendo trabalhado juntas desde essa época.
Imagem: Gravações de “Sangue do meu Sangue”. Apoteótica Cinematográfica
Daniela conta que o desafio de produzir um longa de estreia é lidar com o tempo. O roteiro de “Sangue do meu Sangue” está sendo trabalhado desde 2019. Como o longa exige mais gravações, locações e contratação de serviços, aproveitar os recursos disponíveis, mesmo com baixo orçamento, é fundamental.
“Eu acredito muito no audiovisual como ativo para gerar riquezas, além de gerar ativos culturais de valor intangível”, diz Daniela sobre priorizar profissionais do DF e entorno.
Produção conjunta
“Sangue do meu Sangue” foi autorizado a captar, por meio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF) aproximadamente cinco milhões de reais para produção, exibição e distribuição. Essa é a quantia máxima que produtoras consideradas de nível 1, ou seja, que nunca tiveram um longa-metragem em exibição nas salas comerciais, estão autorizadas a obter do fundo.
O filme ainda obteve recursos vindos do Chile e da França, sendo que os chilenos são co-produtores minoritários com 13% dos direitos patrimoniais e os franceses, mesmo com mais de 20% desses direitos, não são co-produtores devido a um acordo bilateral de posse de propriedades intelectuais entre Brasil e França. De acordo com Daniela, o longa já teve 81% do orçamento executado.
Cenário brasiliense
Imagem:Gravações de “Sangue do meu Sangue”. Apoteótica Cinematográfica
A Moveo se preocupa com o mercado audiovisual do brasiliense, porém ainda é preciso avançar na democratização do consumo e acesso ao cinema.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo ObservaDF sobre hábitos culturais no DF, em média, o brasiliense vai ao cinema somente 0,7 vezes a cada 3 meses. Porém, discrepâncias de acesso podem ser notadas ao analisar a renda de quem consome cinema: famílias que vivem com renda familiar de mais de 10 salários mínimos se deslocam para o cinema uma vez a cada dois meses, enquanto as que vivem com até um salário mínimo, uma vez a cada sete meses.
Imagem: dados da pesquisa realizada pelo observatório ObservaDF
Esses dados podem estar associados ao fato de Brasília possuir 88 salas de cinema para 2,81 milhões de pessoas, das quais 86 estão dentro de shoppings e 29 dentro do Plano Piloto, de acordo com dados de pesquisa realizada pela Oxfam Brasil. É a maior média de salas por habitante do país. A alta centralização de salas justifica as dificuldades de acesso aos cinemas para a população que mora afastada dos shoppings centers e do Plano Piloto.
Para Daniela Marinho, é preciso pensar em uma política pública que possa abranger o ecossistema do mercado cinematográfico por completo:
“Cada elo da cadeia envolve uma política específica, não tem como pensar apenas na produção de novos conteúdos se não há uma reflexão sobre como distribuir e exibir. Ou seja, não adianta apenas pensar na descentralização de recursos para a produção se os espaços para exibição e circulação desses filmes ficam tão somente nas áreas centrais da cidade”, diz a produtora.
Por Vinícius Pinelli
Supervisão de Gilberto Costa