No Museu de Artes de Brasília, a exposição com 38 obras figurativas do artista Manu Militão é uma opção de reflexão sobre a trajetória de mulheres históricas brasileiras que se destacaram no campo político e como líderes de comunidades e de ideais. A mostra fica em cartaz até 29 de janeiro.
O museu fica aberto de quarta a segunda, 10 às 19 horas.
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Manu Militão, de 57 anos, tem trajetória como multiartista. Ele entende que é papel da arte propor discussões na sociedade e trazer mais visibilidade ao que é ocultado pelo machismo estrutural, por exemplo.
Inspiração de artista
Manu MIlitão afirma que é sempre inspirador quando se consegue perceber que um direito que você tem hoje, toda a sociedade desfruta, através da força, da luta, da atitude de uma mulher que viveu em tempos tão difíceis.
“No momento em que vivemos no nosso país, mulheres que enfrentaram a sua condição, a sociedade, a cultura da época para promover uma sociedade mais igualitária é inspirador. Um artista que não percebe isso talvez precise ficar um pouco mais atento”.
Ele acredita que o papel masculino deve ser de apoiar a cidadania. “A arte me faz enxergar o gênero como um mero fator biológico. Aquilo que transcende a intelectualidade, o sentir, o ser é muito maior que isso”.
Ele tem como ponto de partida que a mulher geralmente ocupou o papel em desvantagem com relação ao homem.
“Essas sociedades a suprimiram. Ser inteligente é reconhecer que a mulher tem um universo escondido, um passado colocado debaixo dos tapetes da história. Eu, como artista, tenho observado que na história da arte, a mulher é vista como objeto do prazer, da estética, do simbólico, mas nunca da concretude que representa mesmo a mulher. Cada vez que me aproximo do universo das mulheres me sinto mais pleno”.
Ele explica que cada uma das pinturas ficaram gravadas na mente dele, num cantinho da criatividade. “Eu vejo a arte como uma conexão atemporal na minha passagem neste planeta”.
“Me surpreende muito as mulheres do final do século 19 e início do século 20, mulheres que romperam, que não tinham possibilidades de agir e agiram. Foram mulheres que viveram o futuro no tempo que viveram, essas mulheres foram geniais. E encontro mulheres assim o tempo inteiro, na esquina, que rompem com a condição de ser mulher. Eu espero ver uma sociedade que ser mulher não seja uma condição”.
Manu define o estilo como “realismo espontâneo”, como uma técnica recente. “O meu artista inspirador é o Voka, um artista austríaco. Quando eu vi pela primeira vez esse tipo de expressão, me inspirou bastante. Eu estudei cromologia, estudei cor, fiz formação nas mais variadas artes da estética, mas quando vejo a arte de Voka, percebo que ela me permite ser livre, livre com a cor, por exemplo”.
As cores, segundo explica, o chamam para a inspiração. “Ponho todas em cima da mesa – não é algo transcendental, de outro mundo -, olho a cor que me chama e coloco, sem medo de ser feliz. Aquilo me dá um prazer absurdo”.
Ele espera que os públicos masculino e feminino experimentem também esses sentimentos. “Não quero ir para lugares comuns, quero ir para lugares inabitados, inóspitos, quero transformar gente. Quero fazer com que as pessoas percebam quão genial é o ser humano, muito além da sexualidade, muito além de macho e fêmea, o ser complexo como é. A coisa maravilhosa que Deus nos deu, perceber as diferenças e nessas diferenças percebemos que somos genialmente iguais”.
Segundo a artista plástica Lêda Watson, que foi homenageada na abertura da mostra, Manu representou histórias incríveis e captou suas energias. Lêda também afirmou que é importante estimular a mulher. “Nós não podemos deixar de lutar, sendo mãe ou não. Cada mulher deve escolher a sua profissão. A luta continua”.
“A minha luta continua a 60 anos como professora, como artista plástica”, declarou a artista. Lêda também relatou sua experiência como artista e como isso a influenciou.
“Por 30 anos tive meu ateliê, no qual passaram mais de 400 alunos. Dei aula em seis países diferentes. Enriqueceu a minha experiência humana, porque só artista não dá, tem que conviver com as pessoas, estar com elas para que elas possam ser fontes de sua inspiração”.
Por Amanda Canellas
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira