Em meio ao barulho de buzinas, dos motores dos carros, do andar apressado no centro de Brasília, os sons do acordeom, triângulo e zabumba… A inspiração que não passa despercebida vem do movimento harmonioso e disciplinado de três forrozeiros de primeira, animados e incansáveis. O público, vez por outra, aplaude ou cantarola junto. Nem parece que estão em uma calçada em pleno comércio entre um shopping e a rodoviária do Plano Piloto.
Os músicos são irmãos e cegos. Eles fazem o trajeto de Sobradinho II, onde moram, para o centro da capital para mostrar o som do grupo “Milagre do forró” e entendem que é a fé que os levou tão longe. O show, que não tem parada, rende até R$ 200 por dia. Os irmãos Cordeiro (Marcelo, Ludivan e Romário) fazem do trio forrozeiro a razão da vida, compromisso de todos os dias. De manhã até a noite. Acompanhados pelo pai, vivem com o pé na estrada. Chegaram em Brasília em 2004.
“A gente começou tocar em lata de óleo. Até que uma senhora doou a safona e então aprendi a tocar sozinho, falei para ela que foi dom de Deus. Escolhi a sanfona porque é um instrumento do povo da roça, é o que o as pessoas gostam. A gente gosta de tocar Luiz Gonzaga, Dominguinhos e outros artistas também”, explica Marcelo Cordeiro que celebra o “dom divino”. Romário da Cunha Cordeiro, tem 22 anos e há 10 toca percussão no grupo. “Escolhi a zabumba porque foi o dom que Deus me deu, começamos a carreira batendo tambor em uma banda chamada “Raimundo Tangé do Piauí´” explica o forrozeiro ao falar da relação entre a fé e a música.
Edivam Cordeiro, é o pai e ‘’empresário” do trio, conta que enfrenta algumas dificuldades por cuidar dos filhos sozinho e por eles serem deficientes, mas apesar de tudo, mantém a alegria no olhar de quem sabe que não pode ser visto pelos próprios filhos. Ludivam, Romário e Fernando formam a Banda Milagre do Forró
Por Henrique Kotnick (texto e fotos)