Única biblioteca rural do DF está desativada e prejudica moradores de Chapadinha

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A área rural de Chapadinha, localizada a 10 km do centro de Brazlândia, possui a única biblioteca rural do Distrito Federal. O espaço existe desde 2005 e foi criado pela dona de casa Silvia Ribeiro que cedeu parte da própria casa para a construção da biblioteca. “A ideia surgiu da necessidade das pessoas, que tinham dificuldade de fazer trabalhos escolares e tinham pouco acesso à leitura”, comenta.

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No início, a biblioteca contava com um acervo de 260 livros advindos de doações de instituições sociais e de escolas de Brazlândia. A maioria era de literatura infantil, visto que esse era o público mais assíduo do local. Em 2009, o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS) em parceria com Incra e o Banco de Brasília (BRB), doou três mil exemplares à biblioteca e expandiu os gêneros literários do local.

A doação feita pelo MDS, Incra e BRB é resultado do Programa Arca das Letras, criado pelo Governo Federal em 2003. O objetivo do projeto é disponibilizar livros que auxiliam tanto nas atividades escolares quanto na preservação da identidade cultural dos moradores do meio rural. A iniciativa do Governo Federal já atendeu mais de 1,5 milhão de pessoas nos 26 estados e no DF.

Na página do Incra na internet é possível visualizar o anúncio da inauguração da biblioteca rural de Chapadinha. De acordo com site, o espaço foi construído por meio do Programa Arca das Letras, mas Silvia nega o fato. “A gente nunca recebeu nenhum investimento financeiro do governo. A biblioteca surgiu através de doações dos próprios moradores. O governo trouxe muitos livros, mas foi só isso”.

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Sílvia Ribeiro exercia trabalho voluntário na biblioteca, mas teve parar por falta de recursos

Empecilho

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Apesar dos esforços, a biblioteca passa por dificuldades e está desativada desde 2014. O local que já atendeu duzentas pessoas por semana – Chapadinha tem cerca de mil moradores – encontra-se em más condições de uso e não recebe frequentadores. O motivo é logístico: Silvia era a única responsável pela biblioteca e realizava trabalho voluntário, mas precisou interromper a iniciativa para trabalhar fora.

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Jonatha Santos usava a biblioteca, mas hoje tem que ir até o centro de Brazlândia para estudar.

“Eu, infelizmente, não tenho tempo para ficar só na biblioteca. Eu preciso trabalhar para sustentar minha família e, por isso, não me dedico tanto como antigamente”, explica. Para ela, a única solução seria exercer um trabalho remunerado. “A própria administração [Regional de Brazlândia] poderia me contratar para cuidar da biblioteca. Faria isso com o maior gosto do mundo”.

A Administração Regional de Brazlândia não respondeu a nossa equipe. A Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura também foram questionadas, mas disseram que “como a biblioteca foi construída pelos próprios moradores, o GDF não tem responsabilidade pelo local.” As secretarias afirmaram também que a contratação de Silvia no momento seria inviável e que é necessário discutir o assunto com cautela.

Precariedade

A atual situação da biblioteca é alarmante. O espaço não está organizado, os livros estão envelhecendo e a poeira toma conta do local. A condição prejudicou os moradores da região, tanto as crianças quanto os adultos. O morador Jonatha Santos, 22 anos, mora em Chapadinha desde 2012. Ele costumava frequentar a biblioteca para estudar, mas hoje em dia tem que deslocar-se até o centro de Brazlândia e lamenta a situação. “Eu pretendo passar num concurso público, meu grande sonho é ser servidor. Mas agora fica mais difícil estudar, pois a biblioteca mais próxima fica a quase uma hora da minha casa”.

O estudante conta que a biblioteca não tinha muita infraestrutura, mas o acervo era muito bom. “Era tudo muito simples. Não tinha muitas mesas, cadeiras. Não tinha acesso à internet, mas tinha os livros que eu preciso. Estou com sérias dificuldades de me preparar para os concursos que estou inscrito”.

Crianças têm menos dificuldade

Agora, a única biblioteca que a região possui é a da Escola Classe Chapadinha, que atende 150 alunos de educação infantil e básica. No entanto, o espaço é restrito apenas para os alunos e, por isso, possui apenas acervos voltados para a educação infantil. A diretora da escola, Alcelia das Graças, conta que desenvolve projetos para despertar o interesse dos alunos à leitura. “A gente organiza campeonato de leitura, sabatinas, ensinamos mais sobre a literatura infantil… A ideia é fazer com que as crianças passem por aqui entendendo que a leitura é fundamental na vida de um estudante”, explica.

Entretanto, a biblioteca é pequena, possui apenas quarenta metros quadrados, não possui muitos exemplares e não dispõe de acervo digital. “É tudo muito simples. O espaço é pequeno e não é uma biblioteca moderna, mas a gente vai levando mesmo assim”, conclui.

A biblioteca rural como espaço de cidadania é a oportunidade do homem do campo de tornar-se cidadão ativo no desenvolvimento da sociedade, atendo o direito à educação e à informação. De acordo com o Incra, no Brasil a oito mil bibliotecas rurais, mas apesar disso, o Distrito Federal está longe de ser uma referência no quesito.

Por Igor Caíque Rodrigues

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