Uso do zoom em Aquarius reflete sobre técnica de filmagem de cenas de sexo

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Foto: Sônia Braga – Divulgação

O filme ‘Aquarius’, do pernambucano Kléber Mendonça Filho, que estreou no Brasil no início de setembro, já conta com aproximadamente 300 mil espectadores nas salas de cinema e está em exibição em cerca de outros 60 países, como Alemanha, Austrália, Estados Unidos, França e Polônia. Em palestra em Brasília, o diretor destacou que, apesar do sucesso do filme, a trajetória é de retaliação, tanto por causa da não indicação ao Oscar como pela classificação indicativa (chegou a ser de 18 anos e hoje é de 16) por conta de cenas de sexo que duram 45 segundos.

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Foto: Divulgação do Filme

Mendonça Filho acredita que o “elemento sexual” é muito “pontual” e “curto”. Para ele, foi importante tratar sobre o tema que não deve ser visto como tabu na terceira idade. “Pensamos que as pessoas só fazem sexo ou têm vida amorosa na juventude”, explicou o diretor. A personagem de Sônia Braga chega a contratar um garoto de programa indicado por uma amiga. Na primeira parte do filme, tia Lúcia (Thaia Perez) recorda de uma encontro sexual enquanto sobrinhos contam uma história para a idosa no dia do aniversário.

A linguagem visual do filme é personalizada através de planos e contraplanos que com o uso do “zoom-in” (aproximação) dão um ar de intimidade entre espectador e ator. À primeira vista, podem parecer estranhas imagens de objetos menos óbvios (com mensagens explícitas) e movimentos de câmeras diferenciados que conduzem para um olhar delicado e poético. Esse é o caso da cena em que Clara está descansando em sua rede e no segundo plano aparece Diego, interpretado por Humberto Carrão, fotografando a frente do edifício. Nessa cena é utilizada aproximação do zoom entre o personagem que está do lado de fora do prédio e a protagonista que permanece deitada na rede do seu lar em frente à câmera.
O longa se passa no edifício ‘Aquarius’ nome que intitula o filme, localizado na Avenida Boa viagem, na orla do Pina, zona sul do Recife. O nome verdadeiro do Edifício é Oceania e inicialmente não era a principal escolha de Kléber Mendonça que afirma que o roteiro foi escrito para o prédio Caiçara que fica a metros ao sul do Oceania. Mas prestes a iniciar as gravações do filme o prédio foi semi-demolido o que forçou Kléber a escolher outro edifício na região. O diretor se forçou a escolher este prédio pelo fato de ser símbolo também da resistência à especulação imobiliária, além de ser horizontal e enquadrar bem nas fotografias. Oceania é um prédio de três andares, antigo (1952) e um dos últimos representantes de uma geração de edifícios construídos naquela região que agora é visto como antiquado para o local aglomerado de arranhas céus.

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Foto: Prédios do Recife 1952 – Facebook
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Foto: Prédios do Recife 2016 – Facebook

Na palestra em Brasília, Kléber explicou que retirou por efeito de computador dois prédios no centro da cidade, cuja construção foi polêmica. “O filme é meu. Faço o que eu quiser”, brincou. Uma inspiração “inconsciente”, segundo Mendonça, foi a amiga, jornalista e crítica musical Véronique Mortaigne que o hospedou anos atrás em sua casa na França.

Segundo o crítico de cinema do blog Cinema Cem Anos de Luz, Marcelo Castro, em entrevista à Agência de Notícias UniCEUB, o filme foi bem sucedido a partir do momento em que o cineasta, elenco e equipe de produção protestaram contra o governo Temer no tapete vermelho em Cannes, em maio de 2016.


O enredo

O filme conta a história de Clara, uma jornalista cultural aposentada, sobrevivente de um câncer de mama, viúva e mãe de três filhos. A atriz interpreta uma personagem politizada que possui uma ideologia libertária, firme em seus argumentos e que conhece e luta pelos seus direitos. A crítica de música possui uma vasta quantidade de discos de vinil em sua casa e faz o filme ser quase um musical. Segundo Kléber Mendonça, a ideia foi realmente essa.

A música contracena com Clara durante todo o filme, o que valoriza a coleção de discos como forma de preservação de memórias e serve de caminho para a expressão de sentimentos da protagonista. A jornalista ouve do grande compositor brasileiro, Villa Lobos, a uma das bandas que mais representam o rock britânico e mundial, Queen. Pela sua completa harmonia entre som e imagem, a trama poderia, segundo o diretor, ser transmitido nas rádios, pois possui uma vasta descrição sonora.

A personagem luta por suas memórias afetivas, ideologias e dignidade. Não se intimida e nem se deixa ser influenciada pelo alto valor oferecido pela compra do local. A fragilidade ainda que apenas física de Clara nãoa retrai diante de situações que a constrange, não se entristece por ser sozinha, é transparente quanto aos seus sentimentos e independente no quesito sexual e financeiro.

Ao viver grande parte da sua vida no seu aconchegante apartamento durante 30 anos, Clara se torna vítima da desumanidade do dono do prédio, Geraldo Bonfim (Fernando Teixeira) e de seu neto Diego (Humberto Carrão) que sem princípios morais e éticos, fazem de tudo para conseguir comprar o único apartamento ainda ocupado. A opressão que Clara sofre durante o longa e a ambição da construtora em monopolizar o local para torná-lo um prédio de arquitetura moderna pode retratar de forma evidente as dificuldades em que pessoas de baixo poder econômico sofrem nas mãos dos grandes especuladores imobiliários.

A atriz Sônia Braga que dá voz a Clara, protagonista da trama franco-brasileira, depois de 15 anos sem atuar no cinema nacional manteve a beleza que a consagrou, mas tem agora a maturidade de uma grande mulher que já transitou entre vários papéis é o que afirma Mauricio Witczak, ator, professor e dramaturgo brasiliense, 41 anos.

Por: Letícia Rodrigues e Maria Fernanda Suassuna

Supervisão: Luiz Claudio Ferreira

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