A estreia do filme “Vingadores: Ultimato” foi cercada de expectativas e é responsável pelas maiores filas nos cinemas desde que chegou às telonas na semana passada. Uma legião de fãs do universo cinematográfico da Marvel (composto por 22 filmes em 11 anos, desde o lançamento de Homem de Ferro 1, em 2008), acompanha, com ansiedade, a jornada dos heróis preferidos. O fanatismo por filmes assim, conforme explicam pesquisadores de cinema, tem relação com uma espécie de necessidade de esperança para o nosso cotidiano.
“Há vários fatores que contribuem para o sucesso nas histórias de super heróis. Uma é a cultura de convergência, vários produtos que contam várias histórias diferentes. As pessoas se interessam mais por esses produtos porque se sentem mais participantes daquele universo narrativo, ao lerem quadrinhos, assistirem a filmes, jogarem videogames, por exemplo”, explica a professora Carolina Assunção, pesquisadora com pós-doutorado em narrativas visuais. Ela entende que vivemos uma era de remixagem (de histórias) e descrença com a realidade.
Nessa ideia de convergência, a Marvel trabalhou com a expectativa com o filme
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— Marvel Entertainment (@Marvel) 23 de abril de 2019
O crítico Matheus Jucinsky concorda que o interesse tem relação também com a revisita a filmes de heróis passados, mas que são reinventados para diferentes narrativas. “Existem filmes que são repetitivos sim, mas, quando vamos no cinema, assistir a um filme de herói, também vamos pela aventura que será apresentada, não simplesmente por ele ser um ser superpoderoso”. A professora Carolina Assunção explica que filmes do gênero trabalham com “arquétipos”, que são caracterizações de personalidades que estão no imaginário coletivo de todos. “O herói é aquilo que representa a nossa capacidade de resolver problemas, nosso lado bom, o sacrifício que fazemos para salvar aqueles que amamos, qualidades boas do ser humano. Todo mundo quer ser herói um pouco”.
O crítico Gabriel Gaspar afirma que a estrutura do filme segue uma lógica específica. “Vingadores: Ultimato é algo climático. Os filmes de heróis seguem uma curva dramática padrão com introdução, um clímax perto do fim e a conclusão. É a curva dramática padrão de um filme normal. Só que a Marvel usa como se fosse uma grande curva dramática juntando todos os filmes. Cada filme dos Vingadores pontua o clímax dessas curvas dramáticas. São três horas ininterruptas disso, de ação e resolução de situações extremas”.
Confira trailer do filme
Receita do sucesso
Matheus Jucinsky explica que a Marvel quase faliu. ” Grande sucesso dela se deve ao nosso eterno Stan Lee. Porém, nosso velhinho favorito não pôde fazer muita coisa quando os heróis começaram a estrear no cinema e na TV, já que ele não era uma das mentes criativas por trás dos roteiros”. Ele explica que a empresa tentava, mas a DC sempre explodia nas bilheteria com os filmes do Batman e do Superman. “Porém, enquanto a DC fazia filmes apenas desses heróis, a Marvel estava fracassando com todos os outros longas que ela produzia (com exceção de X-Men e Homem-Aranha, que eram propriedades da FOX e Sony no começo dos anos 2000), ela soube exatamente o que publico queria consumir”.
Para o crítico Gabriel Gaspar, por mais que os filmes estejam com os resultados esperados, mudanças seriam bem vindas a fim de dar mais liberdade aos diretores. “Principalmente por causa dos filmes do Universo Marvel, tem tido muita repetição da fórmula. É algo que eu entendo do ponto de vista da produtora. Quanto menos risco ela correr melhor, maior a chance de potencializar os lucros, mas é sempre bom valorizar a criatividade. Ele considera interessante a participações de diretores mais autorais, com uma linguagem particular e assinatura particular”.
Gênero
Gabriel Gaspar afirma que a Marvel costuma direcionar os filmes de ação e de aventura para o público masculino e filmes de romance para o público feminino. “Com o tempo, esse movimento acabou extrapolando o público que curte só filme de ação, só filme de aventura e acabou se tornando um produto pra todo mundo, pra todos os gêneros, pra todas as idades, e é o ideal que o produto alcance não só metade, mas o mercado inteiro”. Ele entende ser natural que haja essa estratégia para garantir expansão em protagonistas femininas que também atinjam o público. “Então, eu considero isso um movimento natural de expansão do mercado, já que nenhum mercado quer ficar restrito a vender seus produtos pra metade do público potencial. Obviamente sempre vai ter uma reclamação de um público de nicho”.
Por Adriel Oliveira, Luanna Tavares e Vitória Von Bentzeen
Trailer e imagens: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira