Ambientado em uma Veneza (na Itália) obscura de meados do século 20, o filme “A Noite das Bruxas” é a adaptação, da obra de mesmo nome, da autora de suspense mais aclamada, Agatha Christie. Estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14.9).
O filme é sequência de “Assassinato no Expresso do Oriente” (2017) e “Morte no Nilo” (2022), trilogia do célebre detetive, Hercule Poirot. O mesmo diretor, Kenneth Branagh, que atua no papel deste detetive, pôde retratar seu olhar sob as três histórias.
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Prepare-se para uma noite das bruxas repleta de mistérios e suspense. No filme, o talento singular de Agatha Christie envolve o público em uma trama que desafiará seus instintos investigativos.
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“Quem morre nesta casa tende a voltar”
O detetive Hercule Poirot, desfrutando de sua aposentadoria em Veneza, é persuadido por sua velha amiga, Ariadne Oliver (Tina Fey), a se envolver em uma intrigante sessão espírita. O propósito é desvendar a autenticidade da vidente, Sra. Reynolds (Michelle Yeoh).
Essa experiência foi realizada em um majestoso palazzo onde uma enigmática mulher, Alicia, encontrou seu fim sob circunstâncias obscuras. Contudo, pouco depois da interrupção da sessão, houve uma morte inesperada entre os convidados e instiga Poirot a iniciar uma investigação.
De forma cética, ele precisa lidar com a teoria de a casa ser amaldiçoada e no ar pairar um misterioso aspecto de vingança. A hipótese está no número de mortes de crianças que morreram, anos antes, no porão.
Ao decorrer da investigação, as vozes infantis, a torneira superaquecendo e ligando sozinha levam a crer que a teoria possa se concretizar verdadeiramente.
Todos são suspeitos até que se prove o contrário
Com o passar do tempo, é possível observar alguns toques sutis de características do cinema surrealista nas cenas de investigação. Justamente com a intenção de gerar o suspense e criar um clima, até mesmo, sobrenatural.
O movimento cinematográfico conhecido como “Cinema Surrealista” se desenvolveu principalmente na década de 1920. É caracterizado por suas representações oníricas, simbolismo e ações que muitas vezes desafiam a lógica convencional. Duelando com a personalidade de Poirot, que utiliza a lógica cética e simples.
Observe alguns desse pontos:
📽️ Quebra da quarta parede
Durante a investigação, em algumas cenas, o diretor convida o público a olhar pelos olhos do detetive. Com a quebra da “quarta parede”, aspecto em que o personagem fala diretamente para o público, torna o observador parte dela.
Apesar dessa inclusão, esse aspecto dentro do movimento surrealista tem como objetivo mais profundo. Gera estranheza e desconforto, pois não há mais a visão geral da cena. O espectador se encontra dentro de alguém ou mesmo é incluído grosseiramente.
📽️ Close-ups
A cada vez que os personagens falavam, eles se posicionavam muito próximos à tela, exibindo expressões claras que permitiam a distinção de suas emoções.
Além disso, eles também traziam os objetos para o primeiro plano, acentuando-os e conferindo-lhes um aspecto ainda mais caricatural.
Dentro da estética surrealista, ao aproximar objetos ou rostos das pessoas, destacam-se detalhes que podem provocar diversas reações e sensações no público.
Isso não apenas realça elementos visuais, mas também contribui significativamente para a construção da temática do filme, gerando um suspense envolvente.
📽️ Jogo de luz e sombra
No Cinema Surrealista, a utilização de iluminação dramática e jogos de luz e sombra frequentemente ocorre com o propósito de instilar uma aura de mistério e incerteza.
Essa abordagem enfatiza elementos-chave do filme, como a iluminação facial, amplificando ou atenuando-a, de modo a suscitar interrogações e incertezas sobre a moral do personagem, tudo isso contribuindo para a intensificação da natureza investigativa da trama.
📽️ Frames de diferentes ângulos
O diretor utilizou diversos posicionamentos de câmera para enriquecer uma mesma cena, explorando o ambiente e contextualizando a experiência do público. Um exemplo é quando a personagem percorria um corredor; a câmera seguia seus passos, revelando o que estava à sua frente e o que o cercava.
No cinema surrealista, é comum a manipulação de ângulos de câmera pouco convencionais e perspectivas variadas, o que contribui para a sensação de irrealidade. Dessa forma, intensifica-se a teoria de que a trama possui elementos sobrenaturais.
📽️ Sons caricatos
Sons caricatos, como os de uma enfática máquina de escrever ou o ‘tic-tac’ de um relógio, enriqueciam as cenas. Utilizados pelo surrealismo para acentuar o aspecto irracional e ilógico, principalmente durante as entrevistas com os suspeitos.
Ao somar esta característica com o close-up, é possível gerar sensações de agonia e provocar o espectador a se atentar aos detalhes.
Por Ana Beatriz Cabral Cavalcante*
* A repórter assistiu à pré-estreia do filme a convite da Espaço/Z
Fotos e trailer: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira