Poluição na Capital: Ativistas reclamam da qualidade do Rio Melchior

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Apelidado de Tietê do DF, o Rio Melchior recebe 40% dos esgotos do Distrito Federal e abastece 1,3 milhão de pessoas. O rio está classificado como nível IV de poluição, considerado o pior na graduação de alarme.

Localizado entre Ceilândia e Samambaia, o curso d’água da bacia hidrográfica de 25 quilômetros recebe despejos de chorume, cobre e outros líquidos poluentes prejudiciais aos humanos, segundo ativistas e pesquisas. 

Foto: Lucas Neiva / Jornal de Brasília

Os números da turbidez e a presença de cobre são cinco vezes maiores do que o permitido pela legislação brasileira, de acordo com relatórios da UnB.

O professor líder do estudo, José Francisco Gonçalves Júnior, conta que o frequente contato com o nível de metais pesados presentes no rio pode levar uma pessoa até a morte.

Mesmo assim, os órgãos fiscalizadores afirmam que nenhum desses agentes poluidores pode ser penalizado pela destruição do rio. 

O ativista ambiental Newton Vieira Vasconcelos, que é policial militar, explica que há descarte de agentes poluentes já tratados no rio.

Ele explica que os resíduos são parcialmente tratados e, em seguida, despejados no rio. O ativista acusa que órgãos governamentais disponibilizam laudos que não identificam a poluição no Melchior.

Vasconcelos entende que a tecnologia de detecção de poluição usada é ultrapassada, o que minimiza a situação. O ativista também argumenta a partir do estudo feito pela UnB, que descobriu elevados níveis de cobre presentes nas águas do Melchior. 

Ele testemunha que costuma acompanhar, com frequência, outros colegas defensores do meio ambiente em visitas ao rio para verificar a turbidez e a poluição.

Newton Vieira Vasconcelos ratifica que denunciam a situação para Polícia Civil, o Ministério Público e também para a imprensa, que tem o papel de dar voz e visibilidade aos problemas encontrados no rio. 

Ataques

As retaliações, coações e ameaças recebidas por quem denuncia os perigos que rondam o rio não são incomuns.

Inclusive, Newton garante que ele e seu grupo já foram recebidos a tiros cinco vezes nas margens do rio Melchior.

No último atentado ocorrido, os ativistas estavam acompanhados por uma equipe de telejornal. Um repórter e um cinegrafista estavam lá para procurar a origem da mudança de cor do rio quando presenciaram a tentativa de homicídio.

O deputado Chico Vigilante (PT) é um dos parlamentares engajados nessa pauta ambiental. Ele tem contato direto e permanente com esses ativistas, acompanha e tem ciência de todos os ataques.

Ele acusa os grileiros de serem os responsáveis pelas agressões e aconselha as vítimas a sempre procurarem as autoridades policiais para se manifestar contra esses criminosos.

O parlamentar lamenta a situação do rio Melchior. Vigilante diz que cresceu na Ceilândia e acompanhou o processo de destruição do rio. Ele recorda que, antigamente, as águas eram transparentes, limpas e livres de qualquer tipo de poluição.

Ocupação desordenada

Segundo o deputado, a poluição na bacia hidrográfica tem relação com as ocupações desordenadas, do aterro sanitário localizado na Samambaia que jogou chorume no rio, do matadouro da JBS, da estação de tratamento de lixo e da estação de tratamento de água da Caesb, que despeja uma água que não está cem por cento limpa.

“O problema não está só na conta da Caesb”, afirma o parlamentar. Ele acredita que o comportamento da empresa em relação ao rio está correto.

Ele diz que o Governo do Distrito Federal tem que fazer com que a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) cumpra a lei, pare de poluir o rio e fiscalize eficientemente a JBS, além de verificar as chácaras que estão na margem da bacia.

“O meio ambiente é vida. Ele que proporciona o ar limpo que temos para respirar. Sem esse ar limpo, todos nós vamos morrer em função da poluição. Mas vai morrer todo mundo de uma vez. É necessário que as autoridades tragam debates que sensibilizam a população sobre a importância do rio. Acredito que assim iremos encontrar uma solução para essa poluição desordenada”, afirma Chico Vigilante.

Para esses debates e conscientização, Chico Vigilante organiza comissões gerais para levar o tema à população. Especialista em educação do meio ambiente, Ivanete Silva dos Santos diz que essas comissões são muito importantes e já vêm tendo seus efeitos.

De lá, saiu o encaminhamento de que, em 180 dias, a Caesb, o SLU, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) e a sociedade civil organizada já tenham feito uma nova avaliação do rio para saber o grau de poluição da água.

“Falar do rio Melchior é questão de vida”, destaca a especialista

A ativista também é coordenadora socioambiental da Casa da Natureza, um espaço ecopedagógico no Sol Nascente. A ONG é um Centro de Preservação e Conservação Ambiental criado em 2009, e usa uma forma lúdica para fomentar a educação ambiental como ferramenta de transformação de comportamento.

Ela explica que a proteção do rio, além de ser necessária para a preservação da biodiversidade do cerrado, também deve ser feita em prol do turismo e do paisagismo.

O monitoramento das águas, reclassificação do rio, fiscalização dos lançamentos clandestinos de esgoto e programas de educação ambiental contínuos envolvendo escolas, igrejas, comunidades e órgãos ambientais são muito importantes para a evolução do processo de despoluição do Melchior, de acordo com a educadora.

“O homem tem que entender que ele precisa da natureza assim como a natureza precisa do homem, só que com uma diferença. Se o homem ficar um ano sem entrar nas margens do Melchior, sem olhar para o rio, as águas dele têm uma melhorada na qualidade. Já o homem, se ele ficar sem a água do Melchior, ele não sobrevive”, destaca Ivanete. 

A coordenadora questiona como a Caesb, com toda a excelência do serviço prestado, não tem uma alternativa sustentável para minimizar os efeitos negativos do despejo.

“Será que apenas montar uma ética para a instituição dizer que tratam o esgoto e devolvem a água é o suficiente sendo que a água não volta potável?”, pergunta Ivanete.

Tratamento

Em nota à reportagem, a Caesb explica que os esgotos são tratados nas estações Ete Melchior e ETE Samambaia no rio Melchior.

Essas unidades são responsáveis pelo tratamento de esgotos de uma área extremamente densa, com uma população superior a 1,2 milhão de habitantes, das cidades de Samambaia, Ceilândia, Taguatinga, Vicente Pires e Águas Claras.

A instituição afirma que tanto a qualidade dos esgotos tratados quanto a qualidade da água do Rio Melchior são monitoradas em pontos de amostragem localizados antes e após os pontos de lançamentos, e o trabalho de acompanhamento é feito diariamente.

A empresa não se posicionou sobre a poluição do rio.

A empresa repete o discurso dos efluentes tratados e afirma que, por ser apenas um dos usuários do corpo hídrico, o assunto não cabe somente à companhia.

Por Rebeca Kemilly
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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