Tema tratado como tabu, o acompanhamento psicológico no esporte tem se tornado cada dia mais indispensável na vida dos atletas. Casos de depressão como o da ginasta Simone Biles antes das Olimpíadas de Tóquio, e do futebolista Richarlison em 2023, destacam a crescente no número de problemas psicológicos no meio esportivo.
Em pesquisa realizada pela Unicamp em 2023, com atletas e treinadores brasileiros, constatou-se que 3% dos participantes apresentaram sintomas de depressão grave, e cerca de 30% apresentaram sintomas de depressão leve ou moderada. Outro dado revela que 24% já tiveram pensamentos suicidas, e 6% efetivamente tentaram tirar a própria vida.
A psicóloga Maíra Ruas, do Cruzeiro Esporte Clube (MG) e do Time Brasil, destaca que casos de problemas psicológicos no esporte sempre existiram. Entretanto, os atletas têm sido encorajados a buscar acompanhamento profissional, e com o crescimento e popularização das redes sociais, casos assim têm ficado cada vez mais em evidência.
“A preparação mental é tão importante quanto a preparação física para o atleta render bem dentro do esporte. Para o atleta desempenhar bem, ele tem que ter qualidade de vida, ou seja, olhar para as competições como desafios de crescimento, e não como pressão e obrigação de gerar resultados”, explicou.

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Maíra diz que é um dever falar sobre depressão, segundo a psicóloga. “É importante verbalizar da forma correta, para que essas pessoas entendam que é algo comum, e que tem ajuda, tem tratamento e tem saída”.
A psicóloga afirma que o maior desafio é conscientizar as pessoas da maneira correta, porque uma pessoa que possui pensamentos ou atos suicidas, na grande maioria dos casos, sofre em silêncio, o que torna difícil acessar a pessoa ou perceber alguma manifestação.
Maíra alerta que a sociedade ainda tem certo preconceito com a psicologia, e que o atleta é uma parte disso. Entretanto, a partir do momento que atletas mundialmente famosos, como a Simone Biles, verbalizam sobre a preparação mental, começa a se construir um novo conceito, que não é ligado a um tratamento e a problemas, e sim como algo que tem que fazer parte da preparação do atleta.
Dentre os sinais que podem indicar que um atleta pode estar passando por um problema psicológico, Maíra destaca quando os mesmos deixam de demonstrar emoções, quando vencer ou perder tanto faz, ou até mesmo sintomas físicos, como vômitos, no caso de ansiedade em excesso.
Trabalho
Maíra destaca ainda que as campanhas que os clubes fazem em relação a saúde mental, sejam camisas, campanhas em redes sociais, são importantes, mas que é feito um “trabalho de formiguinha”, um processo lento, mas que impacta positivamente na conscientização sobre essa causa.
Recentemente, o goleiro Cássio, do Cruzeiro, em entrevista concedida à ESPN, também ressaltou a importância do acompanhamento psicológico com atletas, e que todos os clubes deveriam fazer esse acompanhamento com profissionais da área da saúde mental.
O goleiro falou ainda sobre a diminuição do preconceito com a psicologia no meio esportivo, que tem se tornado algo comum entre os atletas.
O Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço que ajudou na criação do Setembro Amarelo, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, durante todo o ano, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voz 24 horas por dia. Caso precise de ajuda ligue para o 188 ou acesse https://www.cvv.org.br
Por João Pedro Nunes e Marcello Hendriks
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira