Burnout: especialistas falam sobre o esgotamento crônico

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

O cansaço, esgotamento, estresse, a cobrança e responsabilidades sem fim. Esses são alguns sintomas que a filmmaker de uma multinacional, que preferiu se identificar como Luanna Salles, descreveu sobre quando passou pelo burnout, entre 2022 e 2023.

De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome. Vale lembrar ainda que, apenas um ano antes, em 2022, a condição foi oficialmente classificada como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Acompanhe o podcast “A gota que falta”

Luanna Salles conta a dinâmica do trabalho dela era híbrida e ter os equipamentos em casa funcionava como um ímã, que a atraia para frente do computador. O que deveria ser oito horas de jornada, frequentemente se estendia para 11 ou 12 horas. Os almoços eram reduzidos a 20 ou 30 minutos, seguidos por uma “sobremesa” de tarefas acumuladas. A pressão para entregar resultados rápidos aumentava.

“Eu trabalhava 8 horas e tinha um salário equivalente a um estagiário que trabalhava 5 e eu estava num ambiente de trabalho que me demandava muito, muito, muito de tudo, de decisões criativas, decisões administrativas, tomadas de decisões que iriam ter grandes consequências.”

Sobrecarga

A psicóloga Carla Carvalho explica que a doença pode ser provocada principalmente pela sobrecarga colocada no trabalhador, seja por demandas excessivas, longas jornadas ou prazos apertados. Além disso, a falta de autonomia para exercer o trabalho, como a falta de espaço para tomada de decisões, falta de influência sobre o processo do trabalho e as expectativas pouco claras sobre o que se espera do trabalho deste indivíduo podem ser o pontapé para o desenvolvimento do burnout.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, pessoas que sofrem com o burnout têm uma síndrome provocada, principalmente, por ambientes de trabalhos tóxicos. Os sintomas, em geral, não só podem afetar o desempenho no trabalho, como também na vida pessoal fora desse ambiente.

Arte: Inteligência Artificial

Confusão entre diagnósticos

Definir quais os sintomas da doença e de onde ela surge é importante para identificar quando é a hora de procurar atendimento psicológico. No caso da jornalista Márcia Fernandes, os primeiros sintomas foram confusos, ela chegou a pensar que pudesse estar com outras doenças psicológicas, como depressão ou a ansiedade.

“Eu percebia que mentalmente eu não estava bem em relação ao meu corpo, estava mais deprimida. Só que até então eu achava que isso podia ser uma depressão e aí depois eu comecei a ter manifestações físicas mais claras desse problema de saúde mental. Então, por exemplo, eu ia me deitar, eu dormia e eu acordava com o coração muito disparado. Como se eu tivesse feito uma corrida com muita taquicardia”.

De acordo com a jornalista tudo começou em 2022, quando os problemas pessoais e profissional vinheram de uma vez. Ela conta que estava vivendo o luto pela morte da avó. Na mesma época o pai dela adoeceu pela covid. “Então eu tive várias questões na minha vida pessoal que me deram uma sobrecarga e junto a isso eu trabalho como jornalista e estava trabalhando na cobertura das eleições ali de 2022 naquela eleição que era Lula versus Bolsonaro e era e eu estava sofrendo uma sobrecarga de trabalho muito grande”.

Márcia fala que não era só uma questão de muito trabalho, mas de ser um trabalho cansativo e de ser um trabalho em que as pessoas tem uma energia muito pesada.

A profissional da posologia Carla Carvalho acrescenta que burnout é uma doença causada na maioria das vezes por estresse crônico, ou seja, é o acúmulo desse estresse cotidiano que vai se instaurando e não vai sendo feito esse retorno ao estado emocional natural ou normal, vamos dizer assim.

Segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2023, o Brasil registrou 412 afastamentos do trabalho devido a doença.

Texto por Nathália Maciel

Podcast por Ana Neves, Luana Nogueira, Milena Dias, Nathália Maciel e Paulo Gontijo

Supervisão: Luiz Claúdio Ferreira e Isa Stacciarini

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress