Casal trans em Brasília revela história repleta de barreiras e planeja casar na Catedral

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Mãos dadas e sorrisos tímidos estampados. Wanda Araújo, de 26 anos e Christopher João, 22, têm uma história de mais de um ano de amor. Além das juras de união eterna, eles sabem que não é  fácil manter essa relação que, conforme alguns consideram, “incomum”. Para eles, é única. E um sonho: casar na Catedral de Brasília.

Não por serem católicos, mas por admirarem a arquitetura do local. Christopher se assumiu transexual em 2015, um ano antes de Wanda, que começou a transição no começo do relacionamento. “Ele me dava as roupas antigas dele”. Ela conta também que morria de medo de sair na rua sozinha. “Me apeguei a um óculos escuro que ele me deu. Sentia que me protegia do mundo”. Mas com o tempo foi abandonando tanto os óculos quanto o receio que a fazia se esconder por trás dele.

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Em agosto de 2016, foram apresentados por uma amiga em comum. Wanda, que se declara como tímida, tinha acabado de se mudar para Brasília. Ela demorou a acreditar na seriedade das investidas de Christopher. “Eu achei que ele estivesse só brincando”.

“A ALEGRIA QUE ME DÁ, ISSO VAI SEM EU DIZER”

Após esse primeiro encontro, Wanda foi trabalhar. “Vi aquela moça indo em direção ao metrô, então tive que ir atrás”. Quando estava prestes a entrar no vagão, Christopher estava lá. Ofegante por não conseguir acompanhar a rápida caminhada de Wanda, conta que recuperou fôlego suficiente para pedir o número de telefone da mulher que tanto tinha lhe encantado. Alta, com cabelos pretos e portadora de um sorriso que contagia. Os primeiros encontros foram no próprio Museu da República para uma mostra de cinema. Onde o amor e olhares confusos ganharam lugar. “Tinham vezes em que achavam que a gente era um casal gay”. Mas isso não era o suficiente para incomodar os dois que buscavam assumir novas identidades.

Após a semana da mostra na qual eles se aproximaram, Christopher ousou mandar uma solicitação de namoro através do Facebook. “Não aguentava esperar
mais”. Namorar não foi o suficiente para o casal apaixonado. Haviam encontrado no outro, o tão esperado final feliz.

“ÀS VEZES EU ME SINTO UMA MOLA ENCOLHIDA” (DE TODA FORMA DE AMOR)

Ao entrar em um novo trabalho em busca de melhores condições, para casar, Christopher acabou encontrando o contrário. Sofreu preconceito na empresa que trabalhou por um mês. “Eles nem me chamavam pelo meu nome”. Em viagens da empresa, era negado o direito de ficar no quarto masculino. “Tive que dormir sozinho.”

Apesar das dificuldades encontradas, o amor prevalecia. “Ele me levou para escolhermos as alianças. E queria fazer o pedido ali, no meio do shopping. Quase morri de vergonha”. Christopher comenta que “Apesar do pedido não ter sido do jeito que eu queria, ela aceitou”. Mas não perdeu tempo, na manhã seguinte fez uma surpresa para a noiva. “Levei café na cama, coloquei as alianças em uma caixinha, e pedi novamente”.

“EU SOU TEU HOMEM… VOCÊ É MINHA MULHER”

O noivado foi no dia 3 de maio de 2017. Hoje estagiando na área de direitos humanos, se sente completamente confortável e esperançosa pelo futuro. “E a gente vai à luta, e conhece a dor”. Nessa história, que não tem fim, cheia de versos, prosas e redescobertas, há sorrisos de sobra, mãos dadas e luta para ser apenas mais uma de amor.

 

Ao  lado podemos ver as denúncias feitas anualmente em seis cidades diferentes de 2011 a  2015. Os dados são da Secretária de Direitos Humanos. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Em 2016, foram 127, um a cada três dias. A expectativa de vida deles é de 35 anos, menos da metade da média nacional, que é de 75 anos de acordo com Grupo Gay da Bahia.

 

Por: Gabriela Bernardes

Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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