Consciência Negra: confira histórias chocantes de dor e racismo na capital do país

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Essa dor não é de 20 de novembro, mas de 365 dias do ano. A estudante Kátia Sabrina de Jesus, de 14 anos, convive com injúrias raciais também em novembro. Ela afirma que foi perseguida por ter o cabelo cacheado e foi vítima de zombarias por ser adotada. Todos os conflitos fizeram com que a estudante entrasse em depressão e mudasse de escola.

Confira vídeo com entrevistas na Praça do Relógio, em Taguatinga.

Mesmo mudando de escola, o preconceito continua na rua, na igreja que Kátia frequenta e a jovem acredita que os racistas não tem amor ao próximo. Retração e timidez é o que a jovem Darlene, 27 anos, demonstra. Ela se declara negra e afirma ter sofrido muitas injúrias raciais que a abalaram, a ponto de não conseguir comentar os casos que sofreu sem se emocionar.

Lauany, 18 anos, é uma jovem negra que sonha em tornar-se médica, embora não acredite que seja possível e afirma sofrer preconceito constantemente.  “É muito ruim me arrumar e gostar do meu cabelo, mas ouvir dos outros que se estivesse liso ficaria mais bonito”, afirmou.

Empoderamento

Rapper e negra, Vera Veronika trabalha há 25 anos no mercado musical e suas letras tratam do combate à discriminação racial e à homofobia, além de defender os direitos humanos e igualdade de gênero.  “Ser negra nesse movimento, para mim, é empoderamento”.  A violência acontece todos os dias e já foi mencionada em uma de suas músicas, chamada “Genocídios” (para morrer/basta minha cor/a cada dez jovens mortos/sete são negros no Brasil). “Isso acontece todos os dias. Quem é negro e quem é negra já sabe”. Segundo ela, a violência contra negros é maior, ela é física e verbal.  “Isso é o que faz a violência contra os negros: a gente ser negro”. 

Para Vera Veronika, falta ação “de uma política ideológica que não estamos vivendo mais”. A desmotivação dos jovens negros pela falta e eliminação de políticas públicas para o combate à discriminação racial, segundo a rapper, atrasa uma ação eficiente. “O processo que a gente passa é muito dolorido”. Ouça na íntegra o que a rapper comenta:


 

Na moda

Ser mulher no ambiente de moda é outro desafio para quem tem pele negra. A moda para Weyni Odunaiyá, 20 anos, é seu universo. Desde que começou um blog de moda e comportamento, com enfoque em empoderamento feminino negro, passou a participar de eventos de moda e percebeu a falta de mulheres negras em todas as etapas.

Sinto muita falta de ter mulheres negras no mundo da moda. Seja mulheres negras estilistas, donas de loja, designers, produtoras de moda, editoras de revista, colunistas”.

A representatividade de artistas, cantores e celebridades negras é algo que ela gostaria que fosse mais evidente antes. Ela acredita que ter alguém com a mesma cor de sua pele na mídia faz com os negros se sintam menos invisíveis. “Hoje, eu vejo o quanto isso faz diferença na minha vida. Quando a se vê em outra pessoa é algo incrível. A gente se humaniza mais”.

Os desafios vão além do universo da moda. Andar na rua, poder assumir seu cabelo natural e ter destaque na área profissional são dificuldades que Weyni já percebeu. “A mulher negra sofre mais porque ela é hipersexualidada. A parte do trabalho também é muito difícil. Uma mulher negra vai ter que trabalhar duas ou três vezes mais para talvez ela receber metade que uma mulher branca”. Ouça o comentário que ela fez para outras mulheres negras:

Uma educação sobre a história africana, para ela, é o primeiro ponto que deve ser trabalhado para que essas disparidade e situações de discriminação diminuam. “É muito ruim contar a história dos negros só como escravos, sendo que tem uma outra parte tão grande, tão linda, que é esquecida”.

A blogueira enxerga o dia 20 de novembro como muito importante, mas lamenta que a campanha de combate ao racismo seja reservada para esse dia. “Deveria ser praticado todos os dias. Deveria ter mais voz, mais incentivo, mais campanha, no decorrer do ano todo”.

Dados trágicos

Segundo o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2015 a 2016, dos 5.896 registros de boletins de ocorrência de mortes decorridas de intervenções policiais, a maior parte foi de homens, de 18 a 29 anos e negros. Vítimas de pele negra – a pesquisa considerou pretos e pardos – representaram 55% do total.

O Mapa da Violência de 2016 também mostrou que de 2003 a 2014, o número de vítimas negras por homicídios de armas de fogo aumentou 46,9%. E outro levantamento, realizado em 2013, mostrava que adolescentes negros têm 2,88 mais chance de serem vítimas de homicídios.

 

Por Júlia Fagundes, Vitor Tobias e Larissa Lustoza.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Isa Stacciarini

 

 

 

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