Uma faixa preta e amarela isola o local onde ocorreu o crime. O corpo está coberto, mas ainda é possível ver o sangue que caracteriza homicídio. Peritos criminais procuram dados que levarão a identidade do suspeito. Averiguam a cena enquanto buscam desde as pistas mais óbvias, como gotas de sangue, fios de cabelo e impressões digitais, até detalhes sutis. Toda pista é importante para profissionais da criminalística, cientistas em campo de trabalho, que utilizam métodos de diferentes áreas. Na próxima semana (dias 17 e 18), a Academia Brasileira de Ciência Forense e o Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) realizam um evento que traz para Brasília referências internacionais na pesquisa da área.
Entre eles, estará na capital do país o especialista Barry Logan, que já foi presidente da Academia Americana de Ciências Forenses. Além dele, outros pesquisadores trazem experiências em toxicologia e biologia para investigação. Para o presidente da Academia Brasileira de Ciência Forense, Hélio Buchmüller, investir nesta ciência multidisciplinar é buscar potencializar a investigação criminal. “Grande parte dos inquéritos dos processos criminais que envolvem homicídio no Brasil são arquivados por que não temos prova. A principal prova para esses crimes é a pericial, que é coleta de material. A ausência deste material é o que leva o arquivamento e a não solução do crime”, recorda o perito criminal federal.
Ao ressaltar a importância da pesquisa na área, Hélio Buchmuller lembra que, nos países como Estados Unidos, onde 65% dos crimes são solucionados, o índice de aproveitamento de prova é muito mais alto graças, também, a ciência forense. “O Brasil é bastante avançado em questões tecnológicas, principalmente no âmbito da polícia federal. Temos um parque tecnológico bastante avançado”.
Buchmuller acredita que o Brasil tem boas perspectivas quanto aos métodos forenses. “Hoje a aplicação da ciência nas perícias oficiais é boa dentro do cenário nacional. É preciso reconhecer que comparada a países mais desenvolvidos, estamos atrasados, principalmente por não haver a discussão desses métodos no meio acadêmico”, lamenta o doutor em biologia celular e molecular. “Em outros países isso é discutido com maior maturidade nas universidades. Contudo, uma das grandes motivações da Academia Brasileira de Ciência Forense é a discussão que ocorrerá na próxima semana em Brasília abordando a Introdução às Ciências Forenses”.
Bancos de Material Genético e a veracidade da investigação
Na missão de solucionar crimes, principalmente homicídios e estupros, a análise do DNA se tornou um importante instrumento para os peritos criminais. A tecnologia em questão utiliza restos mortais e amostras biológicas, como saliva, cabelo ou esperma, para provar a inocência ou culpa de suspeitos. “Existem diversas ferramentas científicas que o mundo está utilizando amplamente e que no Brasil ainda é pouco utilizado. Ume exemplo é o banco de dados de DNA que é certamente a ferramenta mais importante no combate dos crimes violentos”, comenta o presidente da academia.
Entre outros métodos empregados pela ciência forense destaca-se a utilização da comparação balística, que permite o reconhecimento de quem realizou o disparo e a análise toxicológica, que realiza agentes tóxicos em fluidos biológicos.
Para Hélio Buchmuller, as pesquisas no campo da ciência forense fortalecem o caráter de fidelidade das investigações. “A prova testemunhal é muito importante, só que a testemunha muitas vezes falha. Isso porque existem muitos fatores que a envolvem. A aplicação de método científico tem uma falibilidade muito menor”, ressalta. Ele entende que a utilização da ciência forense, que é um método científico, é mais precisa e próxima da verdade real. “Você aplica um método, seja onde for, dará o mesmo resultado. A testemunha, dependendo da condição e estímulos, falará algo diferente. Existe uma imprecisão muito grande no testemunho que não acontece na ciência forense”.
Por: Guilherme Cavalli