De braçada em braçada: nadadora cega do DF chama atenção por performance

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A nadadora brasiliense Larissa Nakabayashi Rossi Langamer passou a nadar competitivamente aos 20 anos e se apaixonou. Cinco anos depois, ela se encontra entre as melhores do Brasil em sua modalidade e segue superando todos os obstáculos à sua frente com apenas um objetivo em mente: se tornar uma campeã paralímpica.

A vida de atleta é uma de constante superação, mas alguns vivem desafios também fora do esporte que os fazem trabalhar ainda mais para alcançar seus sonhos. Deficiente visual desde pequena, ela  imagina o topo do pódio todos os dias. 

Primeira colocada no país, Larissa visa o ciclo paralímpico em Los Angeles 2028. Foto: Marcello Hendriks

Dificuldades

         “A gente como deficiente tem uma dificuldade maior porque nós não temos uma visibilidade tão grande. Para conseguir patrocínios, é muito difícil. Eu tenho apoiadores que eu agradeço imensamente porque a gente sabe que realmente se está com a gente é porque acredita mesmo”, desabafa a nadadora.

         Ela diz que recebe, junto com seus colegas, apoio da Secretaria de Esportes para custear passagens para competições. Isso porém não se mostra o suficiente, e os atletas acabam recorrendo para atividades informais, inclusive de comércio para poder bancar as despesas que envolvem deixar a cidade rumo aos torneios.

         “A gente tem as passagens, mas não temos hospedagem, alimentação, transporte local, seguro viagem e uma bolsa atleta não consegue arcar com isso, é impossível. O esporte em si já é muito caro. Então roupa para treinos, trajes, óculos. Um óculos custa 600 reais. Uma nadadeira 700 reais. É muito material. É muito investimento”, explica. Ela ressalta ainda a importância do termo “investimento”, pois acredita que apesar das dificuldades esse dinheiro gasto dará retorno profissional.

         A dificuldade mais recente para Larissa foi não conseguir classificação para os Jogos Paralímpicos de Paris, neste ano. Apesar de acreditar que teria capacidade para conquistar um lugar na disputa, não teve a chance de concorrer por ainda não ter um ranking no índice internacional da modalidade, tendo que esperar uma banca de oftalmologistas definir sua classe, referente a seu grau de capacidade visual. Apesar de estar decepcionada, ela se mostra empolgada com suas chances de estar presente na próxima edição: “Morreu Paris, mas nasceu Los Angeles”, afirma.

Desafio

Assim como a história de Larissa, a música “A Vida é Desafio”, da banda Racionais MC’s, fala sobre os grandes desafios que as pessoas enfrentam para alcançar o sucesso. Na canção, o cantor Mano Brown diz que tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas obstáculos como a falta de dinheiro e problemas com a lei estavam pelo caminho.

É necessário sempre acreditar que um sonho é possível

Que o céu é o limite e você, truta, é imbatível

Que o tempo ruim vai passar, é só uma fase

Que o sofrimento alimenta mais a sua coragem

         Os obstáculos de Larissa vêm desde sua infância. Sua deficiência visual tenta impedir sua ascensão no esporte, mas a vontade da nadadora puxa mais forte. Assim como o cantor eventualmente virou um rapper de sucesso, o esforço da atleta vai sendo recompensado e o seu sonho de disputar uma Paralimpíada segue vivo.

E pude realizar o meu sonho

Por isso que eu, Afro-X, nunca deixo de sonhar

Sonhando alto

         A ansiedade pelos Jogos Paralímpicos de Los Angeles, daqui a 4 anos, já é gigante na cabeça de Larissa. A nadadora diz que a expectativa é alta e que já consegue se ver chegando ao topo do pódio nos Estados Unidos. “Eu sempre sonho com esse momento. Chegar no pódio, ouvir o hino e, sabe, lembrar de todos os desgastes, todos os momentos difíceis, porque não é fácil. E as pessoas, na maioria das vezes, olham muito só os lucros e não quando você tá no perrengue.”

Larissa conquistou o primeiro lugar no último circuito paralímpico 2024

Foto: Divulgação

         Em apenas 5 anos de natação profissional, a jovem já teve a oportunidade de representar o país em outros continentes. As dificuldades no caminho que a tiraram da atual edição das Paralimpíadas não a afetam mais, ela apenas levanta a cabeça e segue superando qualquer pedra no caminho.

Na cidade grande é assim

Você espera tempo bom e o que vem é só tempo ruim

No esporte, no boxe ou no futebol

Alguém sonhando com uma medalha, o seu lugar ao sol

“A gente nunca pensa que vai ser tão difícil, mas viver as experiências dentro do esporte que eu tenho vivido não tem preço. Poder viajar, conhecer pessoas, ter esse empoderamento de poder bater no peito e falar: “vamos para cima”. Ter pessoas que acreditam no nosso trabalho é incrível. É gratificante. Se em tão pouco tempo eu já consegui um terceiro lugar do Brasil, por que não pensar em ser campeã brasileira? Por que não pensar em um ciclo paralímpico?”.

Como uma fênix

São 16h de uma quarta-feira ensolarada no Centro Olímpico da Universidade de Brasília. Os atletas em seu tradicional ritual antes do início do treino. Todos alongando, aquecendo, risadas de fundo… um clima descontraído antes do esforço dentro da água. Larissa, um pouco mais tímida que os demais, senta-se na beira da piscina e observa o horizonte. 

Ao fundo o som do apito sinalizando o início do treino. “Todos para a piscina”, diz o treinador Marcus Lima Espírito Santo em alto tom. Logo em seguida, o treinador se aproxima da Larissa e com as mão nas costas da atleta pergunta se ela está bem. Ela balança a cabeça sinalizando que está pronta, afinal a natação é tudo na vida da Larissa.  Óculos no rosto, nadadeira nos pés e direto para dentro da água.

Treinador com participação nas paralimpidas de Tóquio 2021 enxerga o potencial em nova pupila. Foto: Marcello Hendriks

Larissa, mesmo passando por alguma dificuldade fora do ambiente de natação, quando entra na piscina só tem uma coisa em mente: dar o seu máximo, custe o que custar. Marcus Lima Espírito Santo, treinador da jovem atleta e um dos integrantes do projeto “Natação sem limites”, fez uma relação dizendo que ela é igual uma Fênix. “O Marcus sempre falou que me vê como uma fênix, porque eu posso estar passando pelos piores problemas, mas quando eu subo no bloco eu sou outra pessoa. Me transformo e vou pra cima”.

Em 24 de Julho de 2018, Larissa ingressou ao “Natação Sem Limites”, projeto da Universidade de Brasília que visa trazer leveza e autoestima para pessoas portadoras de deficiência. A atleta diz que frequentava o ambiente de natação apenas por hobby, mas o seu treinador, Marcus Lima, já via um talento na Larissa. “De início eu entrei como um hobby. Só que o meu treinador já falava que eu tinha futuro”.

Desde os 9 anos de idade que a Larissa tem a natação na sua rotina.  Mas em 2019 a atleta precisou tomar uma decisão: Continuar estudando para concurso ou seguir o seu sonho?

“Eu não conseguia arcar com duas responsabilidades ao mesmo tempo. Me vi numa bifurcação, tive que decidir. E aí eu falei: eu vou seguir com a natação”.

E foi ainda em 2019 que conseguiu o seu primeiro grande resultado. Em outubro, com poucos meses de experiência na natação profissional, Larissa foi a terceira colocada do país. “Em outubro de 2019, com apenas sete meses na natação, fui a terceira colocada do Brasil. 

Se antes ela se via em uma bifurcação por conta do seu futuro, não restava mais duvida: Larissa nasceu para nadar. “Agora tenho que escolher um caminho ou outro. E aí foi quando deixei os estudos para concurso e segui como atleta na natação. Encarei como trabalho mesmo o alto rendimento”.

O treinador de 48 anos, Marcus Lima Espírito Santo, foi uma pessoa importante na sua vida de atleta. Ao falar sobre ela, o treinador com participação olímpica fez questão de destacar o potencial da atleta. ”Eu tenho certeza que ela consegue chegar lá (disputar grandes competições). Ela hoje é a melhor do país, quem que vai ganhar dela ?!”.

Além disso, Marcus Lima faz questão de destacar a importância do esporte na vida não só de Larissa, mas de todos os atletas paralímpicos. “Vemos um projeto que você é uma pessoa deficiente e com ele trazemos saúde, uma possibilidade de emprego, de sonhar… O esporte possibilita isso. Que o atleta possa trazer uma renda para a família, que ele possa ajudar em casa. É um jargão, mas o esporte salva”.

Por Henrique Sucena, Rodrigo Fontão e Jorge Agle

Fotos: Marcello Hendriks

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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