Dia da água: lixo na margem do Lago Paranoá é só a ponta do iceberg

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Parte dos resíduos sólidos gerados pela população ainda é descartada de forma irregular, o que vem causando a poluição fluvial e também do solo próximo às margens, trazendo grandes desequilíbrios ambientais para a região. A decomposição de resíduos plásticos na água prejudica o ecossistema. Professor dos cursos de biomedicina e enfermagem, Eduardo Cyrino entende que os plásticos são vilões para o lago. Os plásticos são compostos por uma série de agentes químicos. O plástico se apresenta como um resíduo físico, capaz de afundar ou flutuar e prejudicar algumas espécies por suas características físicas, mas sua decomposição gera uma série de compostos, muitas vezes de efeitos desconhecidos e de difícil quantificação no ambiente, além disso, alguns compostos gerados pela decomposição dos materiais plásticos podem causar danos à reprodução de espécies aquáticas”. Segundo especialistas consultados, o lixo na margem e na superfície é apenas a ponta de um iceberg em que a poluição é profunda.

Confira dados

Ocorre que a incidência do sol em conjunto com a movimentação das águas e a ação de microrganismos provocam a fragmentação dos resíduos plásticos. Essas micropartículas, então, são facilmente ingeridas por animais que vivem ou se alimentam nas águas do local e passam a fazer parte dessas cadeias alimentares. Além disso, a decomposição desse lixo libera diversos produtos químicos que se acumularão na água.

O plástico é derivado de polímeros sintéticos fabricados à base de petróleo. Copos descartáveis, por exemplo, possuem poliestireno em sua composição, trazendo-lhes características tóxicas. O bisfenol é outro dos compostos químicos empregados na fabricação de embalagens plástica que gera preocupação em relação à saúde humana pois, são compostos que podem simular o comportamento de hormônios no organismo, desregulando o sistema endócrino de pessoas e animais.

Tendo em vista os sérios problemas que o lixo plástico pode causar para a natureza e para a saúde das pessoas, a diminuição no uso deste material é necessária. Foi publicada no dia 30 de janeiro de 2019 uma lei que proíbe embalagens descartáveis de plástico em estabelecimentos comerciais do DF.  As embalagens, incluindo os canudos de plástico, deverão ser substituídos por opções que não agridam tanto o meio ambiente e a saúde humana.

Multa

Os estabelecimentos comerciais no DF que não fizerem as adaptações com relação ao uso de embalagens plásticas dentro do prazo estipulado poderão receber uma multa variável entre R$ 1 mil e R$ 5 mil. Se ocorrerem outras reincidências do não cumprimento da lei em um mesmo estabelecimento,  esse preço poderá ser duplicado.  

Contudo, há várias alternativas para a substituição dos canudos e embalagens descartáveis nos comércios locais. Existem opções biodegradáveis feitas de papel, amido de milho ou de mandioca, de proteína de soja ou até mesmo de beterraba, ou seja, matérias orgânicas diferentes cuja decomposição causa menos danos à natureza. Em prática, um canudo de plástico demora cerca de 200 anos para se decompor enquanto um biodegradável leva, em média,180 dias.

É possível também optar por opções comestíveis, como canudos e recipientes feitos de macarrão ou biscoito que podem inclusive ser utilizados como um complemento para a bebida ou para o prato. Um exemplo disso são as casquinhas de sorvete feitas de biscoito, que tornam completamente desnecessário o uso de copinhos plásticos para a venda destes alimentos.

Preservação

Mesmo com a diminuição da produção de resíduos plásticos por parte do comércio é importante que haja também um conjunto de ações para preservar a diversidade natural do Lago Paranoá. Ações como não jogar lixo no chão nas áreas próximas do lago ou até mesmo nas áreas distantes pois, a água das chuvas leva os resíduos para o fundo do Lago. Além disso, é preciso que haja a instalação de mais lixeiras na orla do lago para que os cidadãos que desfrutam da área possam ter um local correto de descarte dos lixos que produzem.

Ações coletivas de limpeza também são necessárias, não apenas nas margens, mas também no fundo do lago, para que os materiais depositados no fundo das águas não continuem decompondo-se e poluindo cada vez mais o ecossistema da área.

Situação do Lago

O Lago Paranoá é um dos principais cartões postais da capital do país, com uma área superficial de cerca 37,5 quilômetros quadrados. O famoso lago artificial não tem sua importância resumida apenas ao paisagismo,  também é um ambiente para lazer, prática de esportes e pesca, além de ajudar a controlar a umidade da região.

A água do Lago Paranoá desde 2017 já abastece algumas regiões como Asa Norte, Asa Sul, Noroeste, Sudoeste, Lago Norte, Paranoá, Varjão e parte de Sobradinho.

O SLU (Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal) é o responsável por fazer a limpeza diária das margens do Lago e só no ano de 2017 foram retiradas 840 toneladas de lixo pelo órgão. Em resposta à Agência, o SLU informou que mantém, diariamente, quatro garis fazendo a limpeza e catação do lixo na Orla Sul e seis garis na Orla Norte. O problema está no fato de que, com seus 12,4 metros de profundidade, na maior parte de sua extensão, o Lago armazena uma enorme quantidade de lixo em seu fundo e o SLU já destacou que  não é de sua responsabilidade a retirada desse lixo no interior do espelho d’água.

Os garis responsáveis pela limpeza das margens afirmam que os resíduos mais encontrados são latinhas, garrafas e isopor. Isso mostra um grande descaso da população com as águas do Paranoá devido ao desconhecimento do quanto a poluição deste pode impactar na saúde dos cidadãos brasilienses.

A limpeza interna das águas é feita principalmente por equipes voluntárias de mergulhadores. A principal equipe responsável é a do movimento Ocupe o Lago.

O #OcupeOLago

O movimento surgiu em 2013 após os dois  episódios de vazamentos de óleo no Lago Paranoá um provocado pelo Hospital Regional da Asa Norte e outro pelo Palácio do Planalto. O primeiro evento aconteceu em 22 de março de 2014 e o que se iniciou como um movimento, cresceu e hoje já é uma associação que busca mobilizar cada vez mais pessoas e associações para mover a ação voluntária de limpeza do Lago Paranoá. Só no ano de 2016 a associação contou com a ajuda de 278 mergulhadores voluntários para a coleta subaquática.

As ações buscam envolver esportes, cultura e lazer, para mostrar que todas essas atividades podem ser realizadas ao mesmo tempo que se cuida da natureza. A equipe reforça a importância do cuidado com os recursos hídricos e com o bioma da região conscientizando as pessoas.

O “Ocupe o Lago” promove a consciência ambiental do uso da água juntamente com o entretenimento, além disso estimula a prática do esporte que tem sua importância para a saúde humana.

Idealizador do projeto, Marcelo Ottoni, que é presidente da ONG, explica que as ações do movimento buscam envolver a prática de esportes, a cultura e entretenimento consciente, para mostrar que todas essas atividades podem ser realizadas com sensibilidade com o meio ambiente. “O grande problema que existe hoje é na época das chuvas pois os resíduos que descem pelas redes pluviais e acabam indo para o lago”,  ressalta Marcelo. Resíduos dos mais diversos são encontrados pelos mergulhadores que fazem a limpeza do interior das águas, desde embalagens plásticas a computadores e  até mesmo armas. Todo ano a associação promove eventos o dia 22 de março, e neste ano não será diferente. Confira vídeo em que o presidente da ONG convida para o evento.

 

Por Camila Demienzuck

Com a supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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