Ainda hoje há episódios em que o crime de racismo (que é inafiançável) é confundido como injúria racial e, assim, amenizado. Essa é uma crítica da filósofa e ativista Djamila Ribeiro, que esteve em Brasília nesta semana. Ela entende que a legislação precisa de muitos avanços. No campo das disputas sociais , ela não crê que as redes da internet são apenas espaços de intolerância, mas também de proporcionar visibilidade para temáticas ligadas aos direitos humanos, como os movimentos contra racismo. “As pessoas se organizam em grupo, no sentido de conhecer artistas independentes, cineastas negras que acabam não tendo espaço. Acho que tem contribuído no sentido de dar visibilidade a algumas questões importantes para as pautas”, avalia. Confira a entrevista abaixo.
Agência de Notícias UniCEUB: Você acha que as redes sociais têm dado voz contra o racismo?
Djamila Ribeiro: Acho que a militância tem conseguido trabalhar dentro desse espaço, mas por um outro lado também tem reação aquilo que a gente produz, então você tem muitas pessoas racistas que promovem ataque, fake news e um lado conservador que entendeu esse espaço como um espaço de disputa de narrativa também.
Agência de Notícias UniCEUB: Até que ponto você acha que as redes sociais tem ajudado a militância negra?
Djamila Ribeiro: Eu acho que tem ajudado no sentido de dar visibilidade a muitas questões que a mídia hegemônica ainda ignora.
Agência de Notícias UniCEUB: Você acha que um negro com condições financeiras sofre menos racismo do que um negro em situação de vulnerabilidade?
Djamila Ribeiro: Eu acho que uma pessoa negra que tem uma questão financeira confortável ela não vai passar pela opressão de classe, mas ela vai sofrer racismo porque o Brasil ainda é uma sociedade racista.
Agen. UniCEUB: Sobre a punição para crimes de injúria racial, como você vê essa punição para uma pessoa que trabalha em um caixa de supermercado ao Bolsonaro (denunciado ao STF por crime de racismo neste ano)?
Djamila Ribeiro: No Brasil a questão legal ainda precisa de muitos avanços, mesmo que entenda certos crimes como racismo eles vão ser como injúria racial. Ainda há um entendimento da lei que ainda não contempla o que a gente acredita.
Agen. UniCEUB: Você acha que a mídia tem exercido bem o seu papel na divulgação dos casos da militância negra?
Djamila Ribeiro: De uns tempos pra cá a mídia tem divulgado porque a gente forçou essa divulgação, é importante dizer que a gente forçou ser visto.
Agen. UniCEUB: Você acha que o papel das relações do negro tem mudado dentro da dramaturgia?
Djamila Ribeiro: Acho que mudou, mas pouco. Em algumas novelas se debate, mas de maneira geral ainda está muito incipiente, não reflete a diversidade do nosso povo de maneira geral.
Por Marília Sena
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira