“A minha visão mudou demais depois da pesquisa, sempre venho aprendendo muito sobre a causa. Quando a gente conhece uma pessoa trans tudo muda. A conclusão que cheguei no final foi que todos nós somos iguais (…) até hoje cresço muito”. As palavras são do diretor do filme Advento de Maria, Vinícius Machado.
O filme venceu em cinco categorias no 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Ganhou os prêmios de melhor longa-metragem pelo júri popular, melhor roteiro de Vinicius Machado, melhor atriz protagonista para Maria Eduarda Maia – a interprete da menina – , melhor maquiagem por Alzira Bosaipo e melhor figurino de Tiago Venusto.
Para o diretor, a violência contra pessoas trans é um fato trágico. Porém, ele acredita em uma crescente conscientização sobre o tema.
“Sou otimista e vejo a mudança sim. Podemos ver isso em artistas trans que estão cada vez mais incluídos em filmes”.
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O filme afirma que tem mais impactado o público refere-se ao momento em que a personagem coloca a toalha acima do peito como uma mulher. “O que ela está sentindo é crucial (…) É um ponto forte, onde ela toma uma decisão”. Nessa cena, o diretor, expõe que queria gerar conhecimento ou um sentimento de pertencimento, uma identificação, por quem faz parte dessa comunidade.

O filme conta com a atriz Maria Eduarda Maia como protagonista. “Passamos uma semana desenvolvendo o longa com pessoas nacionais e internacionais e conheci a Duda um mês antes do filme ser produzido”. A história da obra tem relação com relatos e fatos de pessoas transgênero que ele conheceu e pesquisou.
Vinicius Machado diz que a ideia para fazer o filme foi o fato de ter visto um documentário sobre uma criança trans. “Nunca havia produzido um filme com essa temática antes. A questão das pessoas trans surgiu quando estava assistindo a história de uma criança trans e fiquei surpreso porque não conhecia nada”.
Caminho difícil
A atriz Beta Rangel, mãe da personagem Maria no filme, entende a luta da comunidade LGBTQIA+ está longe de ser fácil nos dias atuais. Por isso, acredita que a sociedade não está deixando de ser intolerante. “Temos um governo genocida e que não se importa (com o tema). O ódio está liberado no momento, mas a luta continua”.
Ela concorda que, para entender o assunto, é necessário estabelecer aproximação. “A gente imagina como é, mas estamos distantes de saber o que uma pessoa trans passa (…) Eu li o roteiro e quando vi que no final a Maria fala presente na aula, eu comecei a chorar”, revela.
Ela ficou feliz em realizar a obra e trabalhar com o diretor, engajado na luta. “Eu não sou mãe, não tenho cara de mãe (…) porém eu procuro papéis que mostram o que eu acredito”.
Religião
Como mostrado no filme, as religiões de matriz africana são tratadas com preconceito. “Esse entendimento errado, veio de tendências radicais cristãs que viam o mal em tudo (…) para competir com outras culturas, diziam que eram ruins”, afirma o diretor.
Para ele, essa intolerância relaciona-se com o racismo. “Temos que mostrar um pouco de tudo, sempre. Isso é muito importante para que conheçam verdadeiramente essas religiões”.
Por Monique Del Rosso
Imagem e trailer: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira