O mês de abril ficará marcado como o momento em que o Brasil testemunhou o maior número de ataques a escolas, em diferentes regiões do país. Esse cenário de medo e pânico coletivo exacerbado chamou a atenção de profissionais da saúde e da educação para a necessidade de compreender e lidar com a violência nas escolas.
A psicóloga Sandy Luiza lamentou que os esforços governamentais têm direcionado escolas a buscar a militarização como uma estratégia para coibir comportamentos agressivos. Essa medida tem sido adotada como uma abordagem para promover a disciplina, a segurança e a prevenção de atos de violência.
Além da militarização das escolas, medidas como a instalação de catracas e o acesso por biometria também foram implementadas. A psicóloga destaca que essas medidas têm como objetivo fortalecer a segurança nas instituições de ensino. Entretanto, ela compreende que não são medidas eficazes. “Tem sua prospecção como meio de segurança, mas quantos desses atentados não foram realizados pelos próprios estudantes da escola que realizaram?”.
Dados do Instituto Sou da Paz indicam uma preocupante escalada de violência nas escolas brasileiras nos últimos anos. Desde o primeiro ataque registrado no país, foram relatados 24 casos, dos quais 5 resultaram em mortes, no período entre 2022 e 2023. Esses números alarmantes refletem a gravidade da situação e suscitam preocupações sobre a segurança emocional dos alunos.
Valdete Caselato, moradora de Brasília, cujos filhos estudam presencialmente em escolas pública, relata que os desafios enfrentados pelos pais e alunos têm relação principalmente com segurança emocional, que também está colocada em risco. “A escola foi muito rápida em esclarecer os fatos e junto aos meios de segurança chegar ao responsável pela ameaça. Após o episódio, a escola aumentou o efetivo em relação à segurança, adotou medidas de reflexão, buscando ampliar a cultura de paz na escola”, conta.
Esforços governamentais
Desde o início da implantação do projeto de militarização das escolas no Distrito Federal, por exemplo, o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) manifestou discordância. Segundo a entidade, não houve diálogo com os setores envolvidos e a comunidade escolar, algo que tem sido recorrente no atual governo de Ibaneis Rocha.
Conforme divulgou o sindicato dos professores, a diretora do Sinpro, Berenice Darc, destacou que para atuar na escola, são necessários conhecimentos, experiências e competências das quais os policiais militares não dispõem. “Além disso, a militarização desrespeita o livre pensar e a pluralidade de ideias, que são muito importantes para a formação do ou da estudante. Estamos ansiosos pelo fim desse projeto, em defesa da gestão democrática e da educação pública”, declara.
Por isso, conforme indicado pela psicóloga Sandy Luiza, é de extrema importância considerar o grupo-alvo ao elaborar políticas públicas para casos como esse. “Quem são os alunos, os professores, qual a estrutura social dessas pessoas?”
Ao levar em consideração esses aspectos, juntamente com outras questões que auxiliem na inclusão do cenário social dos envolvidos, é possível desenvolver abordagens mais assertivas, que atenderão às necessidades específicas de cada contexto e promoverão resultados de forma mais efetiva.
Bullying
A psicóloga clínica Amanda Oliveira, destaca que embora o bullying possa aumentar a probabilidade de ocorrência de algum tipo de atentado, nem todas as pessoas que sofrem bullying irão desenvolver comportamentos violentos. Ela ressalta que não se pode estabelecer uma conexão entre o bullying e a violência. “Não podemos falar que tem uma correlação”, afirma.
Sendo assim, é essencial, segundo ela, considerar outros fatores que também contribuem para a ocorrência desses crimes. Segundo a psicóloga, o acesso a armas e o reconhecimento que essas pessoas recebem, especialmente nas redes sociais, devido à disseminação de informações, desempenham um papel significativo nesse contexto.
De acordo com o mapeamento realizado pelo Instituto Sou da Paz, em média, os incidentes envolvendo armas brancas resultaram em uma pessoa morta e três pessoas feridas, enquanto os incidentes com armas de fogo resultaram em três vítimas fatais e cinco feridas.
Ao ser questionada sobre o tema, a psicóloga Sandy reforça a importância da escuta ativa de psicólogos e professores nas escolas para a prevenção de futuros atentados, mas ressalta que essa não deve ser uma função exclusiva desses profissionais. “Esse é um trabalho multiprofissional. O ideal é que o professor e pedagogo trabalhem com os alunos as questões relacionadas à temática escolar, e em complemento, tenha o psicólogo para prevenção e conscientização”, ressalta.
Para Sandy Luiza, o psicólogo não deve ser acionado apenas quando há um problema ou quando precisa cuidar de um aluno que possui um laudo, ele pode trabalhar com todos. “Mas infelizmente ainda não vejo, ao menos nas escolas públicas, os psicólogos conseguindo abranger todas essas atuações”.
Diante desses fatores, a especialista Amanda Oliveira destaca que a base para abordar o bullying começa em casa, mas que essa é uma responsabilidade da comunidade em geral. Ela ressalta a importância de envolver os pais nesse diálogo e conscientização. “É um tema extremamente relevante, e as escolas devem promover a participação dos pais para iniciar o trabalho de conscientização dentro de casa.”
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Texto por: Nathália Queiroz
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira