Intervenção no Rio: ministra do STM diz que eventuais abusos devem ser julgados por Justiça Militar

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Após um mês de intervenção federal no Rio de Janeiro, a ministra do Supremo Tribunal Militar (STM) Maria Elizabeth Guimarães defende que a ação dos militares precisa estar concatenada com outras instituições estaduais. “Não é simplesmente colocar as Forças Armadas nas ruas para combater a criminalidade. É preciso que haja comunicação entre elas e as polícia”, considerou em entrevista à Agência de Notícias UniCEUB.  A ação dos militares federais no Rio de Janeiro foi determinada pelo presidente Michel Temer no dia 16 de fevereiro.

O STM faz parte do Poder Judiciário e é o responsável por julgar crimes militares definidos no Código Penal Militar. Com a intervenção, há a possibilidade de que aumente os julgamentos contra militares que abusem de violência de gênero contra mulheres em situação de vulnerabilidade. Para a magistrada, os abusos que podem ocorrer não ocorrerão apenas em razão de questões de gêneros e sim pela falta de investimento necessário e capacitação humana “Eventuais extrapolações da missão ou de má execução acontecem porque segurança pública vai além da contenção da violência. Por isso a Justiça Militar da União mostra-se tão relevante para julgá-los.”

“Sou feminista”

A magistrada revelou que o preconceito não a intimidou. “Eventuais discriminações que sempre acontecem na sociedade, me impulsionam a lutar pela liberdade. Sou feminista e defendo o republicanismo isonômico entre os indivíduos. Ninguém pode ser segregado”. Ela acredita que a intolerância de gênero está cada vez mais sendo superada e combatida “Quando as mulheres abraçam com ardor uma profissão há a quebra de  paradigmas e tradições. Não tem espaço para o sexismo”, reitera.

Paridade de gênero

“A integração da mulher nas fileiras do Exército, Marinha e Força Aérea, tem sido uma luta árdua, porém, exitosa”, explica Maria Elizabeth Guimarães. A Marinha foi a primeira Força a incorporar mulheres em seus contingentes,no Corpo Auxiliar Feminino,  no início dos anos 80. Em 1998 a Marinha promoveu uma reestruturação dos quadros funcionais, extinguiu o Corpo Auxiliar Feminino e criou o primeiro cargo de oficial-general uma mulher. Já a Aeronáutica admitiu o ingresso feminino em 1982.

O Exército foi o último a criar Quadro Complementar de Oficiais em 1990, mas diferente dos dois últimos onde as mulheres encontravam-se num quadro à parte, o complementar do Exército era composto por homens e mulheres com o objetivo de suprir as necessidades da Organização Militar. “Sem dúvidas, a diversidade de gêneros nas Forças Armadas é um cenário positivo para a igualação, a repercutir positivamente na sociedade brasileira”, comemora a ministra.

A única entre 15

O Supremo Tribunal Militar (STM) é composto por 15 cargos de ministros e apenas um deles é ocupado por uma mulher. É a mais antiga Corte de Justiça no Brasil,que completa 210 anos de existência. Foi apenas em 2007 que a primeira mulher assumiu o cargo de ministra do STM. Para ela, é um desafio ser a única mulher um Tribunal ainda marcadamente masculino “Sobretudo por ter a oportunidade de mostrar a importância da inclusão, do respeito e da tolerância entre humanos ao projetar minha visão feminina,” explicou.

Além de ser a primeira ministra, ela também foi responsável por presidir o STM em 2014, para completar o biênio 2013-2015. “Sinto-me honrada, foi uma conquista de muitos anos de luta, que não é só minha, mas de todas as brasileiras, cada qual no seu universo, numa sociedade ainda sexista e discriminatória em questões de gênero”,  destacou.

As mulheres  que seguem carreiras jurídicas e alcançam os altos cargos do Poder Judiciário e Ministério Público enfrentam desafios. No caso do Superior Tribunal Militar a participação feminina é pequena. Isso é um reflexo da reduzida integração delas no interior das Forças Armadas. A ministra acredita que “o cenário está mudando, mas as promoções na carreira levam tempo.”

Representatividade

Na Justiça Ordinária, a atuação feminina também necessita de ampliação.”A representatividade das mulheres na primeira instância é percebida porque as mulheres ingressam na carreira por concurso público de provas e títulos”, explica a ministra.  As juízas já representam mais de 25% dos cargos na Justiça Federal, e, na Justiça Comum, esse percentual é torno de 40% das ocupações.

Já nos  Tribunais Superiores e Tribunais de 2ª instância, porém, a presença feminina é reduzida. Atualmente a Magistratura Superior, incluindo o Tribunal de Contas da União, conta, apenas, com 16 Ministras.

No Ministério Público Militar, o quantitativo feminino é significativo, conta com 15 promotoras, 6 procuradoras de Justiça Militar, 4 subprocuradores Gerais de Justiça Militar, sendo que 4 mulheres já chegaram à instituição na condição de Procuradora-Geral.

Por Isabela Guimarães

Fotos: STM/Divulgação

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress