Intolerância religiosa: denúncias aumentaram 119% em um ano

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Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Em meio à diversidade religiosa, vivenciar a fé e ser respeitado pela crença ainda é um problema para quem segue os atos. Em 2016, terreiros umbandas foram atacados, imagens de santos depredados e seguidores da religião ameaçados. Criada há pouco mais de um ano, a Delegacia Especial de Repressão aos crimes por discriminação racial, religiosa ou por orientação sexual ou contra a pessoa idosa ou com deficiência (Decrin) registrou 163 ocorrências e recebeu 278 denúncias. Segundo dados do Disque 100, as denúncias de casos de intolerância religiosa aumentaram em 119% em 2016 em relação a 2015.

Em 2015, dois terreiros foram incendiados no DF por desrespeito aos religiosos. A ocorrência mais grave aconteceu em Santo Antônio do Descoberto (GO), no Entorno do Distrito Federal. O local ficou destruído pelo fogo. Em Águas Lindas de Goiás, intolerantes usaram carros para derrubar o portão.  

Para o Baba (pai de santo) Luciano dos Anjos, é inaceitável ainda existir tantas pessoas intolerantes. Ele pede respeito para todas as religiões. “Deixem que cada um viva sua fé. Já ocorreu de fazermos incursões na prainha e, em meio a uma ritualística, surgirem pessoas de carro gritando ‘olha o macumbeiro’, ‘vai adorar a Deus e não ao Diabo’”, lamentou Luciano.

Para ele, os umbandistas não têm definição de diabo, mas acreditam que o homem é capaz de fazer o bem e o mal. “Assim como existem pessoas más, existem as pessoas de bem que não descansam e, no fim, só o que a gente quer é paz. E nós mostramos nossa força fazendo o bem”, acrescenta.

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Punição em lei

A muçulmana Farah Murtadha, 19 anos, revela que já precisou “esconder” a religião para não ser alvo de ataques preconceituosos.  “Já ouvi um colega falar muito mal, dizendo que somos monstros sem saber que eu sou muçulmana. Fiquei chocada e muito ofendida”, lamenta. Por optar pelo silêncio, ela também sofre. “Acabo que fico afetada. Não sou do tipo de pessoa que refuta, então simplesmente fico quieta, mas preferi não me envolver mais com essa pessoa especificamente para não ter que ouvir sobre isso”, acrescenta.

O preconceito religioso é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenças ou crenças religiosas. A advogada criminalista Thaynara Suzany Gonçalves especifica que o ordenamento jurídico brasileiro protege a liberdade ao culto como preceito constitucional. Assim, determina ser crime condutas que possam violar esse direito. “O Código Penal, em seu artigo 208,  estabelece pena de um mês a um ano em casos de violência religiosa”, explicou.

O pastor Larry Randolph já sofreu com intolerância quando ia a um velório. “Fui para dar uma palavra de esperança e fé. Ao saberem que eu era pastor evangélico, me hostilizaram. Alguns saíram, outros riram. Não respeitaram nem a nossa fé cristã por sermos minoria naquele lugar”, explicou.

Ele conta que já ouviu ofensas, mas procura não deixar ser afetado. “Para superar, não deixo me abater pela opinião alheia. Sou bem definido no que penso e no que creio”, destacou.

A Divisão de Comunicação da Polícia Civil informou, por e-mail, que aquelas pessoas que se sentirem vítimas de preconceitos ou de atos de discriminação por religião, raça cor, etnia ou procedência nacional deve procurar a delegacia mais próxima (e não somente a Decrin) para fazer o registro da ocorrência. A pena para quem pratica, induz, ou incita a discriminação ou preconceito está sujeito à pena de reclusão, de um a três anos e multa, conforme a Lei 9.459/97.

Mariane Rodrigues

Sob supervisão de Isa Stacciarini

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