Com a falta de investimentos e a falta de patrocínios da CBF com o futebol feminino, os clubes buscam por outras alternativas ao invés de pagarem pelo salário das atletas, como bolsa estudo, alojamentos e alimentação. Com isso, a saída para atletas brasiliense é manter outro emprego, além do futebol, para poderem se sustentar.
Saiba mais sobre preconceito de gênero
A meia esquerda Taiana Almeida Silva, 27 anos, é jogadora profissional do time Cresspom, equipe que disputa a segunda divisão do Brasileirão Feminino. O problema é que, para conseguir manter o sonho de ser atleta ela precisa se sustentar com outra profissão, a de fisioterapeuta (ela se formou no ano de 2017 na Bahia). “A gente tenta pelo menos pagar nossas dívidas, ajudar os filhos, família e etc”, desabafa a atleta. Histórias como a de Taiana são comuns nesse campo, muitas estão cheias de vontade de ser atleta, mas cercadas pela angústia de ter que pagar as contas no final do mês.
“É corrido, porque às vezes você não consegue nem parar no horário de descanso ou de almoço. Teve situação que eu andava de ônibus para me deslocar até a casa do paciente e tinha que comer durante o trajeto para poder atendê-lo. (…) Atendia, voltava, às vezes tinha que tomar banho no local de treino, é assim corrido, não é fácil não”, conta Taiana.
Thamires Nascimento da Conceição, 22 anos, é estudante de educação física e também atleta do time Cresspom. “A visibilidade e o patrocínio que o futebol feminino tem hoje em dia, está bem melhor do que antigamente (…) O futebol feminino ainda está muito mal divulgado e muito mal visto. Para um país do futebol, deveria ser para todos, seja mulher, homem, deficiente, o que for; mas infelizmente não é”, desabafa.
Para a atleta do Cresspom, hoje em dia seria difícil de se sustentar apenas sendo jogadora profissional, pois a diferença salarial entre o masculino e o feminino é muito grande. Por isso, ela precisa fazer um duplo expediente. “Trabalho em uma escolinha de futebol. Saio do treino correndo para meu trabalho, minha rotina é, estudar pela manhã, treinar a tarde e trabalhar a noite”.
Segunda a Federação Brasiliense de Futebol, os os únicos times registrados oficialmente são o Cresspom e o Minas/Icesp. De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Sporting Intelligence em 2017, há 137.021 jogadores profissionais de futebol no mundo para 1.287 jogadoras profissionais. Apenas 0,93% dos atletas profissionais de futebol são mulheres.
Para Ellen Pereira, 22 anos, jogadora do Minas/Icesp, único time na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, a equipe mesmo com patrocínio não trabalha nas condições ideais. As atletas possuem uma bolsa de estudos que ajuda a embarcar para um novo sonho depois de pendurarem as chuteiras. Realidades assim são raras ainda. “É complicado isso, aqui em Brasilia nao tem como você virar e falar que vai ser jogadora de futebol, de manter a vida só sendo jogadora”, conta a atleta.
Mesmo com o grande número de feitos e conquistas de atletas, a visibilidade e credibilidade delas são colocadas diariamente em debate apenas por causa do gênero. Atleta do time Minas/Icesp, Camila Manchin, 28 anos, afirma que ser mulher é um dos maiores desafios no futebol porque ele não é tão bem visto. “Atualmente ele tem tido umas progressões, mas ainda não é o suficiente, não é o que a gente merece, é difícil ser mulher no meio de tantos homens”, explica.
Desprestígio
De acordo com uma pesquisa feita pelo Sindicato Internacional de Atletas do Futebol, em parceria com a Universidade de Manchester, metade das atletas não recebem salário para jogar e nem possuem contrato formal com os times. Um levantamento feito pela ESPN em 2017 mostrou que apenas dois clubes pagam salários com carteira assinada para as jogadoras no país e são considerados profissionais pela CBF: o Santos e o América de Minas. Ainda assim o teto salarial não ultrapassava, na época, R$ 5 mil.
“O preconceito e a falta de oportunidade já me doeram ao longo do meu caminho. Doeu quando meninos não me deixaram jogar. Doeu quando treinadores me tiravam dos campeonatos porque eu era apenas uma menina (…) ” – Marta, camisa 10 da seleção brasileira, eleita 6 vezes a melhor do mundo em discurso feito em março de 2019 no Women and Sport Trophy do Comitê Olímpico Internacional.
Dono de escolinhas de futebol em Brasília e assistente técnico do time Minas icesp, Helber Damião critica a falta de investimentos. “Hoje os valores são totalmente diferentes, no futebol masculino podemos falar em milhões e no feminino não temos isso”, relata. A própria CBF, historicamente, investe menos na modalidade feminina do esporte. O campeão brasileiro feminino de 2018, Corinthians, recebeu R$120 mil da Confederação como premiação, já o Palmeiras, campeão masculino de 2018, foi premiado com R$ 30 milhões.
Por Catarina Chaves (texto e fotos)
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira