Jornalista da FSP defende “empatia” para investigar pensamento conservador

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Garantir espaço para grupos conservadores, incluindo pensamentos e posições da extrema direita brasileira, foi o desafio que o jornalista Fábio Zanini passou a lidar com a criação de uma página especial na Folha de S. Paulo, o blog “Saída pela direita” . A proposta da publicação, segundo o repórter especial, é buscar compreender as argumentações de grupos que passaram a ter mais espaço desde a campanha presidencial de 2018, que elegeu o capitão da reserva Jair Bolsonaro (e deputado federal por 27 anos) para a chefia do Executivo federal.

Esse conservadorismo, segundo estima, permanecerá e não sumirá com eventual derrota de Bolsonaro em 2022, quando o político, hoje sem partido, deverá concorrer à reeleição. “O conservadorismo veio para ficar”, alerta. Inclusive, argumenta que as posições religiosas também trazem traços fortes desta visão.

 

Exercício da empatia

O jornalista argumenta que o trabalho é um exercício de “empatia”, não para concordar, mas para buscar entender o fenômeno político com grande influência política. “Esse movimento é chamado de nova direita. Mas não é inédita. O conservadorismo no Brasil tem um DNA histórico, mas ficou submerso. Houve uma ressaca por causa da pós-ditadura, mas ressurgiu com força na década passada”, afirma.

Fábio Zanini participou, nesta terça (25), da Semana de Comunicação do CEUB (confira aqui a programação completa), em conversa mediada pelos professores Gilberto Costa e Vivaldo de Sousa. Zanini, que também foi editor de política, é o autor do livro “Pé na África”. 

Ele considera que a direita, antes da eleição de Bolsonaro, era tida como folclórica por grupos eleitorais, muito devido aos seus representantes, como os escritores Olavo de Carvalho e Enéas Carneiro (que chegou a ser candidato a presidente). No entanto, Zanini considera que esse pensamento está ancorado em pensamentos tradicionalistas internalizados na população desde o período do Império, atravessou o século 20 e chegou até nosso tempo. 

Fábio compartilhou suas vivências e opiniões com os alunos e professores (Foto: Reprodução da live)

Antibolsonarismo

O jornalista concorda que as últimas pesquisas indicam o fortalecimento do pensamento antibolsonarista na população brasileira. A rejeição de 54% para Jair Bolsonaro (sem partido) é relevante numa comparação com os dados do seu principal concorrente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 36%.

Embora os dados sejam significativos, ele ainda considera muito cedo para dizer qual é a principal força política no Brasil, uma vez que as apurações fazem parte do retrato dos desgastes atuais alavancados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da  pandemia de covid-19 e podem ser alteradas por conta da distância da votação. “Se as eleições fossem em outubro, a situação seria complicada para o atual presidente”.

Confira o bate-papo na íntegra:

Tensão na cobertura

Sobre a cobertura da corrida eleitoral para 2022, o profissional aponta que os meios de comunicação tradicionais ainda serão muito importantes para mitigar os efeitos das fake news. Ele destaca que as mídias sociais estão crescendo cada vez mais e têm um papel muito importante na política eleitoral de Bolsonaro, além de que, em breve, as discussões nas redes estarão muito acirradas e a imprensa será alvo de “patrulha” dos dois lados.

Além disso, ele constata que o papel do jornalista vem se renovando à medida que se descobrem novos modos de cobrir a direita e relata a necessidade de atender um público muito mais diversificado em razão do aparecimento de novos grupos nas eleições de 2018.

“O que me surpreende na direita é como ela é diversa, é um processo natural de movimentos que crescem. Outra coisa que me chama atenção é como é ambiciosa, está querendo se espalhar. Então chegou ao governo com o Bolsonaro e ao congresso com vários deputados. Agora, tenta chegar nas academias, nas universidades, nos centros de pensamentos. Na minha opinião, a grande prioridade da direita e dos conservadores no momento é se espalhar pelos meios culturais e pela imprensa”, compartilhou.

Por Arthur Ribeiro, Maria Eduarda Cardoso e Thiago Quint

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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