Machismo e racismo em festa universitária em GO

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O que era apenas para ser uma edição dos Jogos Internos da Universidade Federal de Goiás, em maio, se transformou em um ato público de machismo, racismo, agressões verbais e abuso de álcool. A reportagem da Agência de Notícias UniCEUB acompanhou as atividades do evento, que trazia mais do que disputas esportivas. Os estudantes, regados de muito “mé” (bebida feita por cada uma das atléticas participantes geralmente com vodca e suco), viravam a madrugada em uma festa open bar.

Reprodução-FacebookSegundo Leonardo Macedo, diretor executivo da atlética de Direito da UFG, as festas universitárias, principalmente o Inter UFG, servem para descontrair os alunos que já estão exaustos por conta do final do semestre, então, é um clima muito mais relaxado e solto. “É aquela galera que está cansada da faculdade, fim de semestre pesado, estudou muito e vê no InterUFG o momento para extravasar a tensão”, afirma.

Polêmica

Foi divulgado por via de redes sociais o “Regulamento InterUFG 2016”. A lista creditava pontos para os homens que fossem para o evento de acordo com a mulher que eles tivessem “pegado” na festa. O ranking é machista e discriminatório por ter um conteúdo racista. Assumir ter feito relação sexual com mulher casada ganhava 40 pontos, “ficar” com uma “gostosa e feia” acumula 4 pontos, se for “pretinha bonitinha” 2 pontos, “preta feia ou gorda” -1 e beijar um travesti é eliminado da competição.

A organização do evento publicou uma nota de repúdio em sua página do Facebook e a reitoria da UFG já pensa em desvincular o nome da universidade dos jogos. Em nota oficial, a reitoria afirmou que “apesar de afirmarem desconhecer a autoria da publicação, os estudantes foram comunicados que o evento em suas próximas edições, caso aconteça, não mais poderá ter o nome da UFG vinculado ao mesmo”. Além disso, será aberto processo de sindicância para apuração dos fatos e adoção de sanções disciplinares, caso alunos da UFG estejam envolvidos na elaboração e veiculação deste “regulamento”. Para Orlando Amaral, é lamentável que o nome da UFG esteja vinculado indevidamente a um evento que não é organizado pela instituição e que não acontece em suas dependências. A Universidade repudia o fato de que eventos como o Inter UFG, que contam com a participação de estudantes da instituição, possam ser utilizados para explicitação de posturas preconceituosas, racistas, transfóbicas e ofensivas, sobretudo às mulheres.

O evento

Uma das maiores festividades universitárias do Centro-Oeste é o InterUFG. Acontece sempre de ano em ano, e é organizado pela Liga InterUFG, união de 15 atléticas da universidade. As competições vêm sempre acompanhadas de festas open bar, onde os alunos ecoam o canto “UFG vamos beber”. O aluno ou o visitante precisa de muita disposição e fígado. Durante o dia, enquanto alguns disputam jogos esportivos, outros ficam em uma área do clube SESI Ferreira Pacheco apenas enchendo a caneca. Sempre com algum item que demonstre de qual atlética pertence. O “mé”, como é chamada a bebida alcoólica, vai passando em baldes com caixas de som do lado, sem nenhuma procedência, apenas com muitas pessoas cercando a bebida. Esse rito dura até 20h ou 20h30. Aqueles que ficam até os últimos momentos no clube têm apenas poucas horas para recarregar as baterias e partirem para Centro Cultural Oscar Niemeyer, onde acontecem os shows com cerveja, pinga, vodca e vinho à vontade. Os gorros e canecas das atléticas continuam presentes, mas agora vira algo nacional, pois cores de outras universidades também preenchem o local. A última musica é tocada até 4h, alvo de reclamação de muitos vizinhos do Centro Cultural.

Assédio

Bebidas batizadas, comentários desrespeitosos e até puxões no meio da festa são práticas comuns de assédios em festas universitárias. Essas ações intimidam as mulheres e constroem uma barreira na liberdade delas. “Essa situação de assédios sexuais frequentes cria um medo na mulher em relação a beber que o homem não possui”, descreve Leonora Couto, estudante de Medicina da UFG.

Direitos Iguais

Eu vejo a mulher como público, ela é tão importante quanto o homem. A mulher não pode ser vista como um atrativo para a festa, infelizmente tem gente que pensa assim, mas ela faz parte da festa”, disse o diretor da Atlética. As mulheres no InterUFG participam igualmente do evento, tanto durante o dia nos jogos e happy hour ou nas festas open bar.

Leonora conta que apesar de estar acabando o conceito de que homens e mulheres não podem fazer as mesmas vontades nas festas, ele ainda é presente. “Existe um contexto social bem estabelecido de que o homem é quem ‘chega’ e conquista, enquanto a mulher está lá apenas esperando o homem, com suas roupas e comportamento demonstrando está disponível”, diz a estudante.

Por Gabriel Dias

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