Na semana em que o Distrito Federal registrou a temperatura mais baixa do ano, 11,2 ºC , de acordo com o Inmet (Instituto de Meteorologia), moradores de rua Reginaldo Oliveira, Marlene dos Santos e Jonatan Mendes, buscam alternativas para fugir do frio.
Deitado no chão da rodoviária sobre edredons e um travesseiro que parece novo, está Reginaldo de Oliveira. O paranaense de 33 anos aprecia a doação que acabou de receber e termina de dar um gole em uma sopa que enche um copo descartável. “Nem sempre foi assim”, desabafa Reginaldo. “Tem muita gente que não pode arrumar uma coberta, nada. Aí, eles bebem ´umas pinga´pra conseguir dormir. Na hora que você tá bêbado nem sente o frio. O problema é a hora que a cachaça passa”, brinca. Para ele, a bebida é a principal estratégia para driblar os tremores causados pela noite gelada. Mas, segundo ele, receber cobertores é melhor ainda.

O morador de rua conta que saiu do frio do Paraná para tentar sobreviver em um clima mais ameno, como o da capital brasileira. Mesmo assim, ele conta que em 22 anos de rua, já viu muitos colegas ficarem doentes por causa do frio. Ele alega que contraiu tuberculose em uma das noites frias de rua.
O infectologista Tarquino Sanchez explica que a tuberculose não é uma consequência direta da exposição ao frio, mas sim do contato direto com pessoas portadoras da agente etiológico da doença. Mais comum em dias frios. “Se existe uma pessoa contaminada, doente, transmite a doença com as pessoas ao redor [que compartilham o mesmo local para dormir]”, explica o médico.
Alguns quilômetros à frente, em uma penumbra, encontramos Marlene dos Santos, 38 anos. Ela, que também é paranaense, se encolhia em um dos cantos de uma mureta e vestia um vestido longo, um gorro, uma blusa de frio e um chinelo. “Tem muita gente que ajuda a gente”, fala timidamente ao apontar para uma mala com alguns itens básicos e um galão de água de 10 litros. Para ela, a ajuda recebida é a melhor alternativa para conseguir dormir minimamente aquecida.
Em outro ponto do Plano Piloto, está Jonatas Mendes, 31 anos, que está nas ruas há apenas um mês. Ao relatar a experiência da primeira nas ruas, relembra que passou muito frio – mesmo não sendo inverno – e não conseguiu dormir. Por essa razão, o rapaz concorda com Marlene e alega que as doações são a principal estratégia para fugir do frio. Ele também cometa que encontrar locais protegidos do frio (como a Rodoviária do Plano Piloto, por exemplo) é outra alternativa. “Tem que usar muita roupa, o máximo que conseguir”, enfatiza Jonatas.
Hipotermia
De acordo com o infectologista, Tarquino Sanchez, a temperatura normal do corpo está ente 36.5 ºC a 37.5 ºC. Sendo que temperaturas menores de 36ºC são chamadas hipotermia e maiores de 37,5 ºC febre. “A hipotermia severa pode levar o indivíduo à morte. Porque o organismo não consegue regular as perdas de calor, inclusive dos órgãos internos”, explica.
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Por Aline do Valle
Colaboração: Marcelo Lima e Vinícius Brandão
Fotos: Vinícius Brandão
Ilustração: Marcelo Lima