Mulheres em áreas de exatas são ainda minoria e reclamam de machismo

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A professora Carina Borges, 33, era a única mulher de uma turma de 45 alunos. Foto: Arquivo pessoal

A maior parte dos universitários brasileiros são mulheres. No entanto, nos cursos de ciências exatas, a participação feminina cai para 41%, segundo o censo da educação superior 2015 (do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Em cursos de engenharia o valor é ainda menor sendo 70,7% homens e 29,3% mulheres.

A estudante de engenharia de produção, Carolina Gonçalves, 28 anos afirma que mulheres são constantemente postas umas contra as outras pelos colegas e que em um ambiente acadêmico a realidade é ainda mais árdua. ‘’Entre disciplinas, trotes, reviravoltas políticas da universidade, pude perceber o trato completamente diferente entre homens e mulheres. Percebi que nós, mulheres, éramos, às vezes, postas uma contra a outra como um jogo competitivo’’.

Leia mais: Diminui diferença entre homens e mulheres em cursos historicamente masculinos 

 Carolina é formada em letras e ao comparar a diferença entre os cursos destacou que engenharia foi algo ainda algo mais difícil de se conviver ‘’O campus era totalmente masculino, machista, diversas vezes, misógino, racista, homofóbico e elitista. Até mesmo quando tive professoras, as piadinhas não pararam, e vinham da parcela majoritária masculina dos discentes da disciplina’’, afirmou.  

Houve um caso em que as colegas de Carol acusaram um professor de assédio moral. O docente foi afastado do cargo respondendo à acusação. A estudante desabafa que essa diferença entre os sexos teve uma influência negativa sobre sua formação ‘’Dessa forma, eu fui me retraindo, deixando de tirar dúvidas com os professores durante o horário de aula para não sofrer alguma ofensa ou alguma retaliação da turma”.

A professora de matemática, Carina Borges, 33, era a única mulher de uma turma de 45 alunos e enfrentou alguns desafios ‘’Isso (ser a única aluna) gerou aquela vontade de me sair melhor e eu acabava me comparando. Sempre tentava ficar no nível dos meninos que na minha cabeça eram melhores’’ destacou.  

Carina explica que a experiência se refletiu no ambiente profissional “Acabei sempre me dedicando mais e fazendo o melhor que posso para não dar margem a julgamentos e erros’’  

A socióloga Márcia Guedes crítica a discrepância salarial entre os sexos ‘’Embora estudos apontem que as estudantes são maioria nos cursos universitários elas ainda recebem salários menores do que os homens para desempenhar as mesmas funções.’’

Segundo a socióloga, a esperança para o futuro não é otimista “Não temos alternativa, senão continuar brigando por igualdade e lutar por isso significa também buscar uma sociedade mais igualitária”. A solução pode nascer na base educacional “Ações afirmativas podem ser consideradas, mas não de forma isolada; processos educativos com vivências de relações igualitárias de gênero”.

Por Rafaela Garcêz

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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