A proibição pelo Procon do Distrito Federal de produtos Del Valle Fresh neste mês, após ser identificada a prática de publicidade enganosa, trouxe à tona riscos de que as famílias entendam ser natural um produto que não é.
De acordo com a nutricionista Patrícia Gomes, o consumo desse “suco” leva a consequências que não estão alertados nos rótulos do produto. “A curto prazo seriam as carências nutricionais: falta de vitaminas e minerais (que estão presentes na fruta de verdade), como as vitaminas A e C e a falta de fibras também. Ao longo prazo, devido a essas carências citadas, pode ocorrer um aumento da obesidade na população.”
A nutricionista entende que essa propaganda enganosa é um desserviço para com a população. “Nossa população carece de serviços básicos e serviços de saúde, o que faz ela optar pela praticidade na hora da alimentação.”
Carência de informações
“Acredito que a mudança deveria começar pelo aumento de campanhas de orientação nutricional, que ensinassem a população a ler as tabelas nutricionais dos produtos. Além disso, um projeto de lei que mude a legislação, melhorando a regulamentação dos alimentos. Assim, com a população educada e a legislação renovada, seria de conhecimento comum as propriedades negativas dos sucos Dell Valle e outros alimentos e bebidas ultraprocessados.” disse a doutora.
A nutricionista também explicou que o substituto ideal é o suco natural de frutas e consumi-las in natura também, já que, ao inserir a fruta de fato a ingestão de fibras é maior e traz mais saciedade.
Além da suspensão da venda e distribuição, o Procon-DF determinou que a Brasal realize uma contrapropaganda para informar os consumidores de forma clara as características do produto.
Publicidade enganosa
No rótulo das embalagens da linha de bebidas Del Valle Fresh havia ilustrações que levavam o consumidor a concluir, erroneamente, que o produto era saudável e feito à base de frutas. A verdade é que, as frutas não representam nem 1,5% do conteúdo.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o suco é a bebida que contém somente suco de fruta; néctar é aquela que contém entre 10 e 50% de suco de fruta; e refresco, o que contém entre 5 e 30%. Com apenas 1,5% de fruta nas bebidas da Del Valle Fresh, ele não se encaixa em nenhuma dessas categorias.
Na plataforma online reclame aqui, onde o consumidor pode dar o seu feedback sobre produtos consumidos pelo mesmo, a Del Valle requer uma série de reclamações sobre os componentes de seus sucos “naturais”, desde de 2020, e todas as respostas aos seus clientes foram padronizadas e robotizadas.
De acordo com o Art.37 do código de defesa do consumidor é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
Ética
Cada caixinha e embalagem do suco, supostamente natural, da Del Valle tem aproximadamente 49g de açúcar. De acordo com a OMS, crianças a partir dos 2 anos só podem ingerir 25g de açúcar por dia. “Por isso, é de suma importância que os pais regulem esse consumo”, afirma.
“Você se sentiu ofendido por uma peça publicitária – um filme de TV, spot de rádio, anúncio de revista, jornal, outdoor ou internet, por uma mala direta ou mesmo cartaz de ponto-de-venda? Constatou que o anunciante não cumpriu com o prometido no anúncio? Julgou que a peça publicitária não corresponde à verdade, fere os princípios da leal concorrência ou desrespeita a atividade publicitária como um todo?”, trecho do código do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária.
O professor e publicitário, Bruno Nalon, afirma que não é necessário fazer propaganda enganosa para conseguir ser reconhecido, e casos como a Del Valle só “mancha” mais a reputação do publicitário.
As principais consequências dessa ação incluem a perda de credibilidade da marca com seus clientes e o currículo do profissional.
“Praticar a profissão observando as leis em vigência. E aí existe também a esfera moral. É o que vai, enfim, permear os valores, as crenças, aquilo que esse profissional acredita”, complementou Nalon.
Por Danyelle Silva e Maria Clara Britto
Foto: Creative Commons – Pixabay