COP30: Grupo de voluntários do Cerrado defende financiamento internacional para preservação do bioma

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Movidos pela urgência da crise climática e a degradação acelerada do Cerrado, a associação civil “A Vida no Cerrado (Avinc)”, composta por jovens voluntários, majoritariamente do Centro-Oeste, se prepara para sua primeira COP do Clima em Belém.

O grupo se considera “como parte da última geração que pode salvar o Cerrado” e, demanda visibilidade e financiamento internacional para o bioma. Em entrevista com a ativista do grupo, Natália Brito, defende que a proteção do Cerrado é crucial para a segurança hídrica da América do Sul e o legado de resiliência que a juventude busca deixar.


Uma Oportunidade para o Cerrado


As negociações climáticas em Belém serão um marco para o grupo “A Vida no Cerrado”, conforme explica Natália Brito. Será a primeira COP de Clima da associação, um passo que a sede no Brasil facilita, mas que vai além da logística.

Para Natália, a COP30 é a grande chance de romper a hegemonia amazônica nas pautas internacionais e colocar o Cerrado no centro do debate.


“A COP 30 será a nossa primeira COP de clima… ela ser no Brasil é uma oportunidade, facilita essa questão, mas também abre portas para que a gente possa mostrar o Cerrado, embora ela seja na Amazônia e recorrentemente ter a Amazônia como pauta… [o Brasil] tem Caatinga, o Brasil tem Pampa, enfim… Espero que isso gere a curiosidade das pessoas que estão ali na COP também conhecerem e explorarem esses outros biomas e essas outras realidades que também constroem o Brasil.”


A ativista reforça que o Cerrado, é essencial para a segurança hídrica e alimentar, provedor de soluções climáticas, e com alta biodiversidade, porém é “negligenciado nas discussões internacionais”. A intenção, então, é levar a voz da juventude cerratense e reforçar a necessidade de sua preservação.

Mensagens


A mensagem principal da Avinc para a conferência é clara e de escala continental: a proteção do Cerrado é intrínseca à estabilidade hídrica de toda a América do Sul.

“Nós pretendemos levar a mensagem de que ao proteger os Cerrados estamos intrinsecamente protegendo a estabilidade hídrica e a resiliência de toda a América do Sul, inclusive a manutenção [da] integridade do bioma é uma estratégia de segurança hídrica, de segurança climática de escala continental e global.”


Diante da expansão agrícola que define o Cerrado como o “celeiro do mundo”, o grupo exige o reconhecimento de que a conservação do bioma requer “um investimento robusto e permanente”.

A demanda por justiça climática se aprofunda na crítica aos mecanismos financeiros internacionais, como o REDD+ e o Fundo Florestas Tropicais, que negligenciam a vegetação savânica.


“É crucial para a estabilidade dos regimes de chuva, para mitigação de eventos extremos… nisso vale mencionar que o Cerrado, a vegetação savânica, não é considerada nos mecanismos financeiros internacionais como REDD+, e o fundo que está sendo criado , ‘Fundo Florestas Tropicais para sempre’. Então esses grandes instrumentos de investimento não consideram a vegetação e o Cerrado como importante. Isso é de um simbolismo tremendo sobre o conhecimento, na verdade a ausência de conhecimento [e] valorização desse bioma.”


Natália também destaca a resiliência e a solução que vêm dos povos tradicionais, citando os Calungas (quilombolas do Cerrado) como “grandes exemplos de como o Cerrado, com seus povos [e] comunidades são resistência, são resiliência e são a solução. Também, são caminho para a solução diante do aumento das queimadas com as mudanças climáticas.”


Resultados concretos


A expectativa de retorno da Avinc se concentra em resultados concretos que amparam a juventude e o bioma.


“A gente espera trazer financiamento para o Cerrado, né? Após essa visibilidade, que aconteçam mais investimentos substanciais no Cerrado, na sua biodiversidade, na bioeconomia do Cerrado. Gerando oportunidades, novas oportunidades econômicas que tragam uma nova realidade, de uso dos recursos naturais de forma mais conciliatória com os modos de vida dos povos [e] comunidades tradicionais, e com o Cerrado de pé.”


O grupo almeja que o apoio internacional seja direcionado para a capacitação e infraestrutura de mercados que valorizem a biodiversidade e que não sejam baseados na derrubada e na supressão da vegetação nativa.


Ambição climática


Em um cenário onde as metas globais são insuficientes para conter o aquecimento em 1,5°C, Natália demonstra confiança na capacidade do Brasil em sediar a conferência e elevar a ambição climática.


“Acredito que os ativistas brasileiros são muito bem capacitados, conseguem produzir um grande impacto e creio que vão estar em grande quantidade, em massa, nunca vista antes, diante da oportunidade do Brasil sediar a COP… Além disso, o próprio Brasil, ele é considerado uma grande referência em relação a políticas para clima e natureza. Ele tem um longo histórico de alta competência da diplomacia brasileira para participar dessas negociações.”

Foto: Divulgação


A ativista expressa a esperança de que o anfitrião se destaque em comparação a países que sediaram conferências anteriores: “Creio que o Brasil quer fazer bonito. Ele tem, diferente dos últimos dois países, tem um histórico prévio ambiental, ele tem um histórico prévio de diplomacia nesse sentido, um vasto arcabouço de grandes conquistas nessas temáticas, né. Então, creio que isso também vai se refletir durante a COP.”


Protagonismo


A importância estratégica de sediar a COP30 no Brasil, na visão da Avinc, reside em ir além da visibilidade. O evento deve influenciar as negociações, sobretudo sobre os biomas negligenciados.


“Tudo isso acho que reflete e traz que tanto os subnacionais, os estados estão se mobilizando, as organizações da sociedade civil e o próprio governo federal para tentar trazer essas diferentes narrativas, essas diferentes realidades e dar visibilidade sobre a riqueza de tudo isso que compõem o Brasil que vai além da Amazônia.”

Preocupações


Diante da instabilidade global e das pressões econômicas, Natália espera que esses fatores, paradoxalmente, fortaleçam a agenda climática.


“Eu espero que isso fortaleça a agenda, fortaleça a necessidade de união dos demais, fortaleça sobretudo o Sul Global, enquanto países emergentes. E para trazer uma união e consolidar propostas que sejam um resultado positivo de toda essa situação.”


A ativista acredita que a experiência e a capacidade de articulação do Brasil, referências em cooperação internacional, podem concretizar resultados positivos e impactantes.

Juventude


O ativismo juvenil é visto por Natália como uma força vital, impulsionada pela paixão e a urgência de construir um futuro.


“A juventude tem uma grande potência, energia, vontade de fazer, de impactar, desconstruir algo diferente, de trazer novas realidades, né, participar dessa consolidação de novas realidades. “


Para a Avinc, o ativismo não é um capricho, mas uma necessidade existencial. O legado mais urgente que o grupo busca deixar é o da participação indispensável na tomada de decisões.


“Se trata sobre as nossas vidas, né, as vidas das nossas gerações seguintes, sobretudo. Por isso é indispensável que nós sejamos ouvidos, que nós participemos das tomadas de decisões e façamos nossas mobilizações, porque se trata do nosso futuro. (…) A juventude é potente, a juventude traz inovações, a juventude pensa em soluções e novas realidades. E ela está disposta a construir isso. E ela tem que participar disso, porque é sobre ela, sobretudo é sobre a vida dela.”

O que é a COP


A Conferência das Partes (COP) é o principal evento global sobre mudanças climáticas e o mais alto órgão decisório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), é um tratado internacional que visa estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.

Realizada anualmente desde 1995, a COP reúne representantes de quase 200 países para negociar acordos, revisar compromissos e definir estratégias que combatam o aquecimento global, promovam a adaptação e estabeleçam o financiamento climático.

Sua importância reside na capacidade de alinhar esforços globais para limitar o aumento da temperatura, monitorar o progresso dos compromissos climáticos (como o Acordo de Paris) e facilitar a cooperação internacional, definindo o ritmo da transição energética e os recursos destinados à resiliência climática.

Por Anna Carolina de Oliveira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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