O movimento é rápido. Olhos atentos aos clientes e aos homens uniformizados de preto que descem da van branca com o adesivo da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) e que caminham junto com a Polícia Militar em direção à Rodoviária do Plano Piloto. A chegada dos fiscais da Agefis gera tumulto quando as vozes entoam o “olha o rapa!” no local. Esse é o sinal que gera correria, assobios e muito barulho na Rodoviária do Plano Piloto, localizada a menos de 5 km do Congresso Nacional.
Vendedores impulsionam o carrinho para pegar velocidade e sobem no transporte improvisado para a fuga ser mais rápida. Outros se escondem nas filas dos ônibus ou entre as pilastras da rodoviária. O pano estendido no chão com os produtos tem o propósito de formar uma trouxa para facilitar na hora da correria, vender as frutas em um carrinho de mão também é mais prático na hora de correr com o material de trabalho.
É impossível prestar atenção no caminho da fuga, quem caminha com pressa para pegar ônibus de volta para casa, por exemplo, precisa desviar os passos dos ambulantes que tentam proteger os materiais de trabalho de serem apreendidos ou até mesmo a vida, já que reclamam da truculência da fiscalização da Agefis.
Para pagar os estudos
Gabriela* tem 24 anos e faz parte dos 316 mil desempregados do Distrito Federal. A moça de cabelos longos, pele clara, vestida com calça jeans e camiseta divide o dia entre o trabalho e os estudos. Pela manhã assiste às aulas no cursinho preparatório para o vestibular de odontologia e na parte da tarde trabalha como vendedora ambulante na rodoviária do Plano Piloto para pagar as despesas dos estudos. A rotina já soma sete anos. Para ela, conseguir um emprego formal está difícil e a única saída que teve foi o trabalho informal.
“O jeito é ficar correndo da Agefis enquanto tenta trabalhar”, lamentou.
Enquanto tentam despistar a fiscalização, Gabriel*, Vitor* e Denis* desabafam debaixo das árvores em um canteiro próximo a rodoviária, a conversa entre os três é sobre a última apreensão da Agefis. “Levaram mais de R$ 800 de mercadoria minha, mas eu não fui buscar porque o valor da multa é muito alta”, reclamou Vitor,21, que vende materiais eletrônicos e estava trabalhando com a nova mercadoria escondida na mochila. Gabriel, 22, já teve o material apreendido mais de cinco vezes, mas não desanimou de trabalhar porque precisa sustentar a mãe e a esposa em casa e Denis, 37, que está desempregado há 12 anos lamenta “fugir da fiscalização e da polícia o dia inteiro” enquanto tenta trabalhar.
Todas essas pessoas têm algo em comum: não conseguem emprego formal e precisam ser vítimas do corre corre que toma conta do principal ponto de partida e chegada de Brasília. A maioria dos ambulantes entrevistados temem a apreensão de suas mercadoria, pois segundo eles, a multa para a retirada é muito alta e como não dão conta de pagar tentam proteger mais ainda o material de trabalho para o nome não ficar sujo, pois uma vez que uma mercadoria não é retirada do depósito da Agefis o nome da pessoa vai para a dívida ativa, o que contribui para o índice de 63 milhões de brasileiros que estão endividados com o nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
“Por segurança”
Segundo a assessoria da AGEFIS, os fiscais trabalham junto com os policiais para proteger a integridade física dos seus servidores. Segundo o órgão, toda a mercadoria apreendida nas ações são levadas para o depósito da Agefis e ficam por cerca de 30 dias, a multa para a retirada dos materiais são de cerca de R$ 3.069.
O trabalho dos fiscais acontece por todo o dia. Segundo a Agefis, a atuação dos servidores é para prevenir a atividade econômica sem licenciamento. “ Há também outra equipe volante de Auditores combatendo atividades econômicas sem o devido licenciamento, que faz operações nos pontos mais congestionados, mais denunciados e em eventos”, afirmou em nota.
Por Marília Sena
Foto: Creative Commons
- Nomes dos personagens deste texto foram preservados
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira