Olhar e escuta: professora explica que preparar uma pauta jornalística exige mais do que técnica

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No Festival do Prêmio Engenho de Jornalismo, professora de jornalismo Maíra Moraes defendeu que a construção de pautas vai além da técnica.

Como se preparar para uma pauta? A resposta não está apenas na rotina da redação, mas no exercício constante de observar e interpretar o mundo.

Foi o que defendeu a professora Maíra Moraes, doutora em Comunicação e Sociedade e pesquisadora em padrões discursivos, durante conversa com estudantes de jornalismo na manhã desta quarta-feira (20) no Festival do Prêmio Engenho.

Maíra Moraes. Foto: Mateus Péres

Segundo a professora, a preparação não é apenas um procedimento técnico, mas um ato de poder.

“O exercício de se construir uma pauta vem muito antes da pauta. Está relacionado ao exercício do fazer jornalismo, de olhar para mundo. É isso que nos faz humanos”, afirmou.

Para orientar os estudantes, ela apresentou o que chamou de “tripé da pauta”:

Contexto: Que relações de poder atravessam o tema? Quais interesses estão em jogo?

Fontes: Quem controla a narrativa? Quem tem capital simbólico para falar?

Perguntas: Quem se beneficia dessa versão dos fatos? O que não está sendo dito?

Maíra também destacou a necessidade de planejamento aliado à sensibilidade. “Toda boa reportagem começa antes da rua, mas a mesma boa reportagem também começa a partir da rua. Quem observa também é observado. Olhem o mundo,” destaca.

Embora não descarte o uso de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, a professora fez uma ressalva: “Não sou contra, mas é preciso discernimento. É necessário analisar o que a IA traz e ter esforço para interpretar.”

O encontro ainda lembrou experiências de pauta que exigiram “novo olhar” para voltar à cena pública, como o caso da adutização infantil, denunciado pelo influenciador Felca nas últimas semanas.

Para Maíra, cabe ao jornalista reconhecer que o trabalho envolve escolhas fundamentais: “O jornalista tem o poder de definir o que pode ser dito e o que pode ser silenciado”.

Por Ana Tominaga

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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