ONG no Gama abriga 600 animais abandonados

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Na quadra 108 da Asa Sul, todos sábados, grandes olhos reluzentes encaram os visitantes. Todos vítimas do abandono. O abrigo Flora e Fauna realiza a feira de adoção ao lado da clínica veterinária Di Petti. A ONG abriga 200 gatos e 400 cachorros e, por mais que a feira seja realizada regularmente todos os sábados e que o abrigo tenha passado por uma reforma recente, o número de animais abandonados só cresce, segundo os responsáveis pela entidade

Seis toneladas de ração são necessárias para alimentar todos os animais por mês e há os gastos com veterinários. Alguns dos animais ficam doentes, além de ser necessário estar com a vacina de todos em dia. Mas o grande problema permanece sendo o abandono.

 

Desde que o abrigo participou do programa Caldeirão do Huck, no quadro “Um por Todos, Todos por um”, a quantidade de animais abandonados aumentou. “Há um abandono muito grande na nossa porta lá. Agora não é [o abandono] de um, é de caixa”, explica uma voluntária do abrigo que se identificou apenas como Ana Lúcia, de 50 anos.

No programa da Globo, Orcilene Arruda de Carvalho, fundadora do abrigo, contou sobre sua conexão com animais, que começou desde os oito anos. O abrigo foi completamente reformado. Ganhou um novo espaço de gatil, canil, quarentena, clínica e maternidade. Mas, assim como diz um post na página oficial do abrigo, muitas pessoas entenderam que o abrigo tem a obrigação de aceitar qualquer animal – inclusive os que já possuem família – e o número de abandono na porta do abrigo cresceu.

Toda ação do abrigo é custeado pelas doações que recebem e voluntários se dedicam a ajudar com o cuidado dos animais. Outra voluntária do abrigo, Adra Gabriela Naves, 46 anos, a participação das ações começou quando o cachorro de doze anos morreu. Segundo ela, a maioria dos voluntários começa assim. “Eu comecei a ajudar, a ir nos mutirões no abrigo, depois a ajudar aqui na feira. Depois que você começa, você não para mais”.

Um problema, porém, é que dos voluntários, poucos se dispõem a realmente estarem presentes e lidar com a parte mais pesada do trabalho. “O grupo tem muitos voluntários, mas atuantes, se tiver oito é muito”, explica Ana Lúcia.

A dor dos animais e o número de abandonos crescentes fizeram com que o trabalho seja dobrado. “Eu falo que todo protetor, todo voluntário, ele enxuga gelo”, disse Adra. Ela enxerga que por mais trabalhem muito, tem muito mais abandono, muito mais maus tratos. “Não tem um caso que não surpreenda”, diz a respeito dos animais machucados que o abrigo recebe.

Outro grupo, problemas similares

A Associação Protetora de Animais do DF, ProAnima, trabalha além do resgate de animais e tem como objetivo a educação e orientação da sociedade  quanto a questões relativas aos animais. Possuem diversos programas em luta de uma maior vigilância com maus-tratos animais e com cuidado de animais maltratados, entre eles: Projeto Pangaré, Veganize, Pelos Amigos.

Diferente do Abrigo Flora e Fauna, a ProAnima não mantém abrigo. Eles funcionam através de lares temporários. Os animais resgatados são acolhidos por pessoas comuns que se dispõem a cuidar deles até que sejam doados.

As dificuldades, porém, são semelhantes. “Todo nosso trabalho é feito por voluntários e mantido com doações. Portanto, nossas ações ficam limitadas aos recursos disponíveis”. Uma grande quantidade de animais para serem amparados também apresenta uma dificuldade muito grande, pois a associação depende da disponibilidade dos lares temporários. “Situação como essa foi vivida quando acolhemos, de uma vez, 41 animais provenientes de uma apreensão de maus-tratos”.

Cuidados para adotar

Para adotar um animal do Abrigo Flora e Fauna, existe uma série de pré-requisitos. A pessoa tem que ser maior de 21 anos, ter renda fixa, mostrar um documento com foto e um comprovante de residência. Além disso, é feita uma entrevista na hora da adoção e é entregue um Termo de Adoção responsável para o preenchimento dos dados e assinatura do adotante. O abrigo realiza visitas de acompanhamento da adoção, nem todas com aviso prévio.

O veterinário Marcelo Duarte Cardoso, 50 anos, acredita que adotar é um tiro escuro e reforça a importância de levar o animal ao veterinário se for resgatado da rua. “Tem que procurar um veterinário mesmo para fazer um check-up no animal para ver se vai adotar e estando saudável, fazer as primeiras vacinas”.

Mesmo assim, ele acredita que a ação de adotar um animal é muito positiva e importante para a saúde da população não só canina, mas humana. “Adotar é uma coisa boa porque vai tirar aqueles cão vadios da rua e vai diminuir a população de cães que ficam transmitindo doenças”.

Qual escolher: adotar ou comprar? Saiba mais. 

Como ajudar os abrigos

O abrigo Fauna e Flora já tentou diversas formas para diminuir o número de animais abandonados, inclusive na frente do terreno deles. Instalaram câmaras de vigilância, produziram folhetos de conscientização e folders. Mas Ana Lúcia diz que não teve muito resultado. “O ser humano é complicado”.

A ProAnima acredita na conscientização da sociedade para a guarda responsável de animais domésticos, no não abandono e na adoção em vez da compra. “Também passa pela efetiva punição de quem abandona um animal, pois abandono é crime”.

O apego com esses animais é instantâneo no momento em que os olhos do visitante encontram o do pobre animal abandonado, conforme conta Ana Lúcia. Ela mesma adotou uma gatinha abandonada do abrigo, que tinha um pequeno problema no olho. Era algo fácil, mas esse já foi um motivo suficiente para deixá-la no abrigo. Ana Lúcia a levou para casa, tratou a doença e lhe deu um nome: Preciosa.

Nas palavras de Clarice

Há  57 anos, Clarice Lispector escreveu sobre o crime do professor de matemática, em Laços de Família. Enquanto ele enterrava um cachorro, recordava do verdadeiro cão. O verdadeiro cão era o que ele abandonou e esse era o seu verdadeiro crime. Até o professor de matemática sabia, ao final, a gravidade do seu ato e não podia negar o lugar especial desses animais na sua vida. Afinal, segundo ele, “agora estou  bem  certo  de  que  não  fui  eu  quem  teve  um  cão. Foste  tu  que  tiveste  uma  pessoa”.

Por Larissa Lustoza

*sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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