Participação das mulheres na construção de Brasília foi invisibilizada, diz documentarista 

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O documentário “Poeira e Batom no Planalto Central”, da brasiliense Tânia Fontenele, compartilha a memória viva das pioneiras de Brasília.

No aniversário de 50 anos da capital, a documentarista quis inovar com uma nova perspectiva da história da cidade. E nos 64 anos de Brasília, as falas femininas ainda não são protagonistas desta história.   

Acervo Beatriz Maia/ livro Poeira e batom no Planalto Central

Maria Inês Fontenele tinha apenas 22 anos e era recém casada quando chegou à nova cidade para ensinar geografia na Escola Industrial de Taguatinga.

Já na capital, Maria Inês teve três filhos e Tânia foi a primeira geração da cidade. As memórias afetivas de sua mãe motivaram Fontenele a contar a história de milhares de outras mulheres invisibilizadas. 

Família vindo do RS, de carroça, para inauguração de Brasília/ Arquivo Público do Distrito Federal

“Muitas mulheres fizeram parte da história da capital, mas não se achavam importantes de estar na história”, explica Tânia. Dona Maria das Neves, uma das entrevistadas do documentário, contou estar muito emocionada em ter alguém pela primeira vez interessado em ouvir suas vivências.

“Quando comecei a conversar com elas, elas não tinham noção de quanto a história delas importavam”, lamenta Fontenele. 

A diretora percebeu, ao longo das filmagens, que as mulheres partilhavam um mesmo sentimento: orgulho em fazer parte do pioneirismo da nova Capital.

“Nas minhas entrevistas, eu não percebi lamento por parte delas, e sim, orgulho, liberdade e esperança da jornada que se iniciou em 1960”, diz.  

Junto ao sentimento esperançoso, foi necessário também muita coragem para enfrentar a precariedade em uma cidade de poeira.

Dona Luiza Ferreira foi uma dessas mulheres que precisou de muita coragem quando, na hora do parto do seu filho, o hospital não tinha os recursos suficientes para uma cesariana.

“Amarraram meus braços, amarraram minhas pernas e abriram minha barriga no seco. Senti o sangue quente correndo”, relembra a pioneira. 

Apesar das dificuldades, as mulheres enfrentavam juntas os obstáculos de Brasília. “Havia uma cumplicidade e um senso de solidariedade muito forte entre elas”, conta Tânia. Esta solidariedade foi fundamental para enfrentar a escassez dos recursos dos novos moradores. 

A documentarista acredita que a preservação das memórias femininas é fundamental para completar a história dos candangos.

Tânia, além de coletar relatos de pioneiras, também expôs seus trabalhos sobre a invisibilidade da mulher na história ao redor de Brasília e do mundo. A brasiliense defende a criação de um espaço permanente para lembrar a trajetória das mulheres de Brasília. 

Tânia Fontenele em seu estúdio. Foto: Júlia Lopes

Por Júlia Lopes e Maria Beatriz Giusti 

Supervisão: Luiz Claudio Ferreira 

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