O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro) e o Setembro Amarelo como um todo buscam o trabalho de valorização da vida.
Adriana Gouveia, voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) há sete anos, é um exemplo de como o voluntariado pode mudar tanto a vida de quem oferece ajuda quanto a de quem a recebe.
Adriana lembra que foi a partir da campanha do Setembro Amarelo que conheceu o CVV e, motivada pela causa, se inscreveu no curso de seleção para seu primeiro voluntariado.
Desde então, dedica seu tempo a ouvir, apoiar e oferecer acolhimento a pessoas de todo o Brasil.
“Na época eu estava em busca de um trabalho voluntário que nunca tinha feito. Eu, que me identifiquei com a campanha do Setembro Amarelo, conheci o CVV e participo já tem sete anos”.
Sobre a instituição
O Centro de Valorização da Vida (CVV), uma organização sem fins lucrativos fundada em 1962 e reconhecida como Entidade de Utilidade Pública Federal (pelo Decreto-Lei 73.348, de 1973), desempenha um papel crucial ao oferecer apoio emocional gratuito e voluntário, 24 horas por dia, por meio de diversos canais: telefone (188), chat, e-mail e atendimentos presenciais nos postos distribuídos pelo Brasil.
O site da organização, além de ser um canal de atendimento, oferece uma ampla variedade de informações sobre transparência, meios de doação, como se tornar um voluntário, publicações do blog CVV, além dos materiais informativos como o guia “Compreendendo o Suicídio”, que busca propagar informação responsável sobre o tema.
Segundo o relatório sobre o primeiro trimestre de 2024 da instituição, o CVV contava com 3.500 voluntários, que se revezam em plantões de 2 a 4 horas semanais.
Desses, 2.417 estão no atendimento telefônico. Nesse período, foram registradas 642 mil ligações, totalizando mais de 76 mil horas dedicadas ao acolhimento emocional.
A média de cada ligação foi de 6 minutos e 51 segundos, tempo de escuta ativa que os voluntários oferecem a cada pessoa atendida.
Para o médico psiquiatra Lucas Benevides, as campanhas de conscientização vêm desempenhando um papel crucial no enfrentamento ao estigma associado à saúde mental.
“Ao longo do tempo, testemunhamos um aumento significativo no número de pessoas que se sentem à vontade para buscar ajuda e compartilhar abertamente suas experiências íntimas”.
Benevides acrescenta que uma conversa livre de julgamentos é fundamental e pode ser o pontapé inicial para que a pessoa que está em sofrimento mental busque ajuda profissional.
Uma doação genuína
O trabalho voluntário no CVV exige preparo e comprometimento. O processo inclui de 10 a 12 encontros ao longo de, aproximadamente, três meses. Para Adriana, a experiência é transformadora.
“Você não sai a mesma pessoa do processo de seleção. É um trabalho de autoconhecimento e identificação com a causa. Apesar de ser um trabalho difícil, porque, muitas vezes, a gente atende situações difíceis, é um trabalho gratificante. Eu me sinto realizado como ser humano de poder me doar para um outro ser humano de uma forma genuína”.
Adriana explica que um dos pilares do CVV é a prática da escuta ativa, um método que vai muito além de apenas ouvir. Essa abordagem permite que os voluntários ofereçam um suporte em que a pessoa atendida se sinta verdadeiramente compreendida e amparada. “É uma reflexão que leva o outro a se enxergar, se olhar e se sentir acolhido”, descreve. Para ela, é um trabalho de acolhimento sem julgamentos, em que o voluntário se coloca de igual para igual, de ser humano para ser humano e cria um espaço de conexão e respeito.
Os plantões dos voluntários são definidos por Adriana como uma “caixinha de presentes”, devido à diversidade dos atendimentos.
“Muitas pessoas não ligam só quando estão em sofrimento. Elas também ligam quando estão felizes, mas não têm com quem conversar. O tema da campanha do CVV este ano é: ‘A atenção aproxima as pessoas’. Estar presente e oferecer um ombro amigo pode salvar vidas”, conta.
Adriana compartilha que sua relação com o CVV vai além do voluntariado: ela mesma, em momentos de necessidade, recorre ao serviço como qualquer pessoa.
“O CVV é reconhecido como um número de emergência emocional, assim como o 190 da polícia”, destaca, referindo-se ao 188.
“Sempre haverá alguém para ouvir, acolher e receber a pessoa da forma como ela está, sem julgamentos. Quem precisar de apoio emocional, pode ligar para o 188 e será atendido com respeito e empatia.”
Saúde pública
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida anualmente. No Brasil, o Boletim Epidemiológico (vol. 55, nº 4) divulgado em 2024, que analisou suicídios e lesões autoprovocadas no país entre 2010 e 2021, definiu, com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o suicídio como a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos e a quarta entre pessoas de 20 a 29 anos.
O estudo também apontou diferenças significativas entre homens e mulheres. Entre os homens, as taxas de suicídio aumentaram progressivamente com a idade, atingindo o pico entre idosos acima de 70 anos, com 18,1 óbitos por 100 mil habitantes. Já entre as mulheres, o risco é maior nas adolescentes de 15 a 19 anos, com 4,5 óbitos por 100 mil habitantes.
Onde conseguir ajuda?
Além do Centro de Valorização da Vida (CVV), que fornece atendimentos gratuitos oferecidos por voluntários disponíveis 24 horas por dia através do telefone (188), chat, e-mail e atendimentos presenciais em postos distribuídos pelo Brasil (confira maiores informações no site https://cvv.org.br/), a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) também disponibiliza opções.
Em nota, a Secretaria informa que a Atenção em Saúde Mental na rede SES-DF se organiza conforme critérios estabelecidos para direcionamento de acordo com as necessidades específicas dos usuários. O atendimento pode ocorrer nas Unidades Básicas de Saúde (Atenção Primária), em Policlínicas, CAPS e ambulatórios especializados (Atenção Secundária), ou ainda em hospitais (Atenção Terciária).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são destinados a pessoas com sofrimento mental grave, incluindo aqueles relacionados ao uso de álcool e outras drogas, tanto em situações de crise quanto em processos de reabilitação psicossocial. O atendimento nos CAPS pode ser realizado por demanda espontânea ou por encaminhamento de outros dispositivos da rede de saúde ou intersetoriais, como Assistência Social, Educação e Justiça. Devido ao caráter territorial e comunitário dos CAPS, é recomendado que o cidadão busque o CAPS de sua região. A assistência é oferecida por uma equipe multiprofissional, composta por psiquiatras, clínicos, pediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, equipe de enfermagem e farmacêuticos, conforme a modalidade do CAPS.
Para situações de emergência psiquiátrica, a SES-DF indica que a população deve buscar atendimento pelo SAMU, UPA ou pronto-socorro dos hospitais gerais.
A Secretaria esclarece que o Distrito Federal possui um serviço de saúde mental no SAMU/192, que funciona 24h/semana, incluindo finais de semana e feriados. Conta com uma equipe especializada em saúde mental que realiza teleatendimento e assistência. Para obter atendimento, a pessoa deve ligar para o número 192 e o atendente, ao verificar a necessidade de atendimento em saúde mental, encaminhará a ligação para a equipe multidisciplinar que poderá realizar orientação por telefone ou ir ao encontro do paciente.
Perfil dos pacientes com demanda de Saúde Mental atendidos pelo SAMU 192:
– Com sofrimento e transtornos mentais agudos, graves e persistentes;
– Com agitação psicomotora, auto-agressividade e/ou agressividade a outros;
– Comportamento violento com riscos para si, outras pessoas e/ou ao patrimônio;
– Em crise psicótica;
– Com necessidade de contenção química in loco;
– Vítimas de violência (física e sexual);
– Dependentes químicos graves em situação de vulnerabilidade;
– Em situações de crise, desastres, catástrofes, calamidades, emergências, mortes inesperadas ou traumáticas, entre outros, visando uma ação preventiva para situações de estresse pós-traumático.
Por Ana Tominaga e Fernanda Ghazali
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira