Em dezembro o espírito natalino invade os lares brasilienses. Mas essa realidade ainda não faz parte de muitos moradores do Distrito Federal. Há quem não conhece o Natal nem tem a chance de vivenciá-lo. Hoje, no DF, aproximadamente 4 mil pessoas se encaixam em situação de rua, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS). No fim do ano, essa população aumenta. Para aliviar a falta de acessos e a dor de quem vive na rua, projetos e ações sociais surgem para fazer a diferença na vida dessas pessoas. A intenção é proporcionar um fim de ano menos árduo diante da realidade de sofrimento e ausência de direitos.

Depois de realizar uma ação social no réveillon voltado para garotas de programa e travestis, o missionário Robert Itamar Alves da Costa, 39 anos, conseguiu perceber a importância de levar o espírito do Natal para ambientes de vulnerabilidade social. Desde 2007 ele conduz um grupo de voluntários. Juntos, organizam uma ceia de natal solidária na Rodoviária do Plano Piloto, graças a arrecadações feitas durante todo o ano. “Conseguimos proporcionar uma grande ceia para os moradores de rua e levar o verdadeiro sentimento do Natal para essa comunidade”, ressaltou.
Dentro desse objetivo de levar assistência a quem precisa, os Correios promovem, há 28 anos, o projeto Papai Noel dos Correios. Sensibilizados com as cartas entregues por crianças de todo o DF endereçadas ao Papai Noel, os servidores decidiram tirar esses sonhos do papel e unir toda a empresa em uma grande corrente de solidariedade. Nos últimos três anos eles já receberam mais de 2,5 milhões de cartas. Em 2017, 25 mil foram disponibilizadas para adoção.
A servidora pública Ana Luísa Feitosa Guimarães, 29 anos, adota as cartinhas há 3. “A sensação de ver o sorriso no rosto de uma criança quando ela recebe uma simples boneca é algo incomparável”, ressaltou. Nas letras infantis crianças pedem desde material escolar, roupas e saúde para a família até brinquedos, como bonecas, bola de futebol, carrinhos e bicicletas.
A preocupação com a classe baixa do DF somada a vontade de acrescentar, ajudar e compartilhar um pouco de carinho para quem não possui tal benefício se tornou um dos motivos da aposentada Maria das Graças Mathne, 64 anos. Guiada pelo espírito solidário, a dona de casa conta com a bondade de outras pessoas para arrecadar mantimentos e distribuí-los em orfanatos e hospitais. “Todos podemos fazer algo para o próximo, independente da sua miséria, sem julgar, sem cobrar, simplesmente fazer, doar”, destacou.
Ajuda o ano todo
Com a proximidade do dia 25 de Dezembro, ruas e casas são enfeitadas e os sentimentos de caridade e solidariedade se afloram. Mas a assistência e o apoio oferecidos no fim de ano pouco se repete durante os outros 11 meses. A psicóloga Joana Cândida Pinheiro Lima explicou que quando a pessoa tem um engajamento ao voluntariado este tipo de assistência costuma ocorrer independente da data do ano. “Mas é plausível que no mês de Natal, os apelos à solidariedade são maiores e comove a opinião coletiva.”
A estudante Michelle Aparecida Martins Miguel Mathne, 33 anos , acredita que nesta época do ano as pessoas ficam sensibilizadas. “No fim de um ano e no começo de outro acho que as pessoas olham para trás e veem que não fizeram nada pelo seu próximo. Todos param para refletir no que fizeram no decorrer do ano e tudo de bom que deixam de fazer para que o mundo seja melhor”, opinou.
Mas, na visão da psicóloga Joana Cândida Pinheiro Lima, para amenizar ou mudar a situação dos indivíduos menos favorecidos deve se investir em políticas públicas eficientes, de educação,cultura e formação profissional. “Por menor que sejam as ações, elas são válidas,pois oferecem apoio emocional e material, mesmo que por um curto período de tempo”, esclareceu.
Vitor Tobias e Willian Netto
Sob supervisão de Isa Stacciarini