Racismo no futebol: psicólogos dizem que impunidade incentiva violência

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A impunidade a torcedores que se manifestam com racismo em jogos de futebol é o principal incentivo para que esse tipo de violência se repita. Essa é uma avaliação de psicólogos que trabalham na área dos esportes.

Durante a fase de grupos dos torneios sul-americanos, já foram registrados ao menos sete casos de racismo vindo dos torcedores na Libertadores. Contra equipes brasileiras essa discriminação ganhou força. 

Quatro deles foram direcionados a torcedores e jogadores de equipes nos confrontos entre Palmeiras x Emelec, Corinthians x Boca Juniors, Fluminense x Olímpia e Flamengo x River Plate.

O psicólogo esportivo Matheus Vasconcelos diz que os motivos para que torcedores cometam essas violações têm relação com a sensação de impunidade. “Há diversas explicações para isso. O primeiro é a sensação de não haveria limites para as atitudes na arquibancada. Esse é um viés jurídico e social. Outra é o entendimento muito ultrapassado de que isso é uma brincadeira e não um tipo de violência/crime”

 Quem comete atos racistas, na avaliação dos especialistas, é que geralmente se julga superior e pertencente a uma ‘’elite social’’’. Os risos dos torcedores do Boca Juniors são, de acordo com o pesquisador, um exemplo disso. 

Para a psicóloga Maíra Ruas, que já trabalhou com equipes como Vasco da Gama, Botafogo, Vitória e Bahia, os atletas também são afetados por esse contexto.

“Eu acredito que o racismo, assim como qualquer situação de exclusão, tem que ser tratada da mesma forma dentro do futebol”. Ela explica que, quando se detecta algo em relação a racismo e identidade sexual, principalmente nas categorias de base, é necessário a realização de uma psicoeducação individualizada.

“Nós fazemos esse trabalho aqui no Vasco da Gama. A equipe tradicionalmente já tem esse traço social por ser conhecida como um clube antirracista, muito disso pela história e por esse trabalho que é feito desde o início da carreira desses jovens”.

A psicóloga explica que esse trabalho também deve ser feito com os profissionais, para prepará-los caso essa situação ocorra

A forma como o atleta vai lidar por sofrer atos como o de racismo vai depender muito do suporte psicológico de cada um, dizem os profissionais. O jogador brasileiro Daniel Alves, por exemplo, em 2014, comeu uma banana arremessada em sua direção. “Mas já presenciei vários momentos que vi jogadores chorando no gramado. Em ambos os casos, psicologicamente falando, precisam ser tratados individualmente para que o atleta crie uma personalidade de enfrentamento sem prejudicar sua imagem’’, diz a psicóloga. 

O código de conduta da Conmebol (instituição esportiva internacional responsável por organizar a competição), permite aos árbitros e outras autoridades presentes no campo que interrompam a partida caso presenciado qualquer tipo de insulto contra a dignidade humana, seja ele dentro ou fora das quatro linhas. 

Essas medidas não são muitas vezes colocadas em prática, ou simplesmente passam despercebidas por quem deveria cumpri-las. A pena ao atleta é a suspensão de partidas, que varia entre 5 jogos e 2 meses dependendo do caso.

Assim que noticiado, a instituição se manifestou em nota oficial dizendo que repudia qualquer manifestação de racismo ou quaisquer outras formas de violência em suas competições.

Na rodada 4 da Libertadores, as torcidas brasileiras mais uma vez se manifestaram nas arquibancadas. Os apoiadores do Fortaleza montaram um mosaico com as frases “Stop racism” e “Juntos na luta”.

Vítimas de atos racistas, os torcedores do Fluminense protestaram com uma faixa escrito “Conmebol Racista” em decorrência do descaso da instituição com os recentes casos de racismo.

Os torcedores do “Vozão”, como é conhecida a equipe do Ceará, também fizeram seu protesto. Em jogo válido pela Liga Sul-americana, os apoiadores levaram uma faixa com a seguinte mensagem: “Por um mundo melhor, sem racismo, sem preconceito”.

Por Pedro José
Imagem: Corinthians / Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

 

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