Resistência Teko Haw: a história dos Guajajara na capital

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No coração da capital do Brasil, onde a modernidade de Brasília se impõe com suas avenidas largas e arquitetura imponente, um grupo de indígenas Guajajara, originários do Maranhão, estabeleceu uma aldeia em meio ao cerrado. Desde 2009, a comunidade chama de lar a aldeia Teko Haw. 

Entrada para Aldeia Teko Haw. Crédito: Juliana Weizel

Nesta primeira reportagem de uma série de três, exploramos o contexto histórico e os principais desafios que marcaram a vinda dos Guajajara para Brasília, bem como as condições de vida que enfrentam na aldeia Teko Haw.

O que parecia ser uma busca por melhores oportunidades e segurança se transformou em uma luta constante por reconhecimento e igualdade. A comunidade, liderada pelo cacique Francisco, clama por justiça e pela regularização de seu território, algo que é visto como essencial para garantir o apoio do governo e a preservação de sua cultura.

“Quando se fala território indígena, não é só do cacique. O cacique luta para defender os povos que estão ali, sobrevivendo, se alimentando e cuidando da vida”, pontua o cacique.

Por meio de suas palavras e experiências, vamos entender melhor a realidade dos Guajajara em um ambiente que deveria ser o símbolo da modernidade, mas que ainda reflete profundas desigualdades e invisibilidades em relação aos povos indígenas.

Esta reportagem mergulha nas histórias e desafios enfrentados pela comunidade Guajajara em Teko Haw. É uma viagem ao coração de uma luta que mescla tradição e modernidade, e que expõe a distância entre a capital do Brasil e as populações indígenas que, ironicamente, sempre estiveram aqui. 

O local, situado na região noroeste da cidade, denominado Santuário dos Pajés, foi escolhido como refúgio após a vinda das famílias para manifestar contra o desmonte da FUNAI. Porém, a nova vida em Brasília esbarra em desafios diários.

“Aa gente tá sem apoio, apoio do governo federal (que) tem que manter o direito que a gente tem hoje. E assim a gente tá lutando aqui sobre a regularização fundiária do noroeste”, clama o Cacique Francisco. 

Cacique Francisco fala sobre as dificuldades na aldeia. Crédito: Otávio Mota

Com cerca de 60 famílias vivendo na aldeia, os Guajajara enfrentam uma realidade de exclusão e resistência. Embora estejam fisicamente próximos ao centro do poder político do país, as necessidades da comunidade permanecem invisíveis aos olhos das autoridades. A luta por saúde adequada, educação para suas crianças e o direito à terra são algumas das principais batalhas que marcam o cotidiano de Teko Haw.

O cacique Francisco acredita que a regulamentação/regularização facilitaria a chegada de toda e qualquer tipo de ajuda governamental. A comunidade sofre com a falta de poços artesianos e eles reivindicam uma educação inclusiva que respeite e abrace suas tradições.

Disputa entre o Estado e a Constituição

“A gente tem várias etnias aqui, mas só que essas outras etnias já fizeram acordos com o governo, com a Terracap, por isso eles ganharam as casas” – Cacique Francisco. 

Nem todas as outras comunidades foram contempladas pelo acordo. Em 2018, houve uma resolução envolvendo o MPF, a Terracap, o Ibram, a Funai e os indígenas da etnia Fulni-ô Tapuya. À época, foi estabelecida uma área de 32 hectares para uso exclusivo dessa comunidade. A área total do Santuário dos Pajés, que também abriga outras etnias, possui 50 hectares.

Em 2019, o GDF/Terracap firmaram um outro acordo, agora com os povos indígenas Kariri-Xocó e Tuxá. Segundo matéria da Agência Brasília, foram entregues oito casas provisórias para as famílias das comunidades, com objetivo de que desocupassem a área próxima a w9, a fim de construir a Avenida dos Ipês.  

“A gente batalhou muito para não entrar no noroeste aqui dentro do território indígena, que o pessoal falava que era reserva indígena, e hoje a reserva indígena sumiu. Para onde foi? Os próprios indígenas que negociaram, que venderam”

Cacique Francisco
Documento protegido e exposto no centro do salão de convívio. Crédito: Otávio Mota

Aqui, os Guajajara preservam suas tradições, sua língua e suas crenças, mas também convivem com as marcas de uma sociedade que os empurra para a margem. A aldeia tornou-se uma espécie de símbolo silencioso da resistência indígena em meio à urbanização crescente de Brasília.

Os Guajajara, um dos maiores grupos indígenas do Brasil, são originários do Maranhão e historicamente conhecidos por sua rica cultura e forte conexão com a natureza. A luta pela demarcação de suas terras ancestrais e a proteção de seu modo de vida foram fatores que impulsionaram muitos Guajajara a migrar para Brasília em busca de melhores oportunidades e segurança. 

Localizada no Noroeste, desde sua formação, a aldeia se tornou um ponto de referência para a comunidade, proporcionando um espaço seguro para a manutenção de suas tradições, práticas culturais e laços comunitários. Contudo, as condições atuais da aldeia apresentam desafios em termos de infraestrutura e recursos. 

“O governo disse que já está tudo resolvido aqui, mas para mim não está”, afirma o Cacique Francisco.

A vida cotidiana é marcada pela convivência em coletividade, onde se realizam atividades culturais, educacionais e de subsistência, como o artesanato e a produção de farinha a partir da plantação de mandioca.

Deusdete Guajajara mostrando o artesanato e cuidando do cabelo de Ayumi. Crédito: Otávio Mota

A aldeia não é apenas um lar, mas também um espaço de resistência e reafirmação da identidade Guajajara, em um contexto que frequentemente ameaça sua cultura e território. 

Por Alexya Lemos, Juliana Weizel e Otávio Mota

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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