Em casa, um verdadeiro inferno. As cenas eram repetitivas. O pai alterado pelas bebidas, agressões contra a mãe. Com apenas 11 anos de idade, Maurício não aguentou mais testemunhar e gritou contra a violência. Fugiu de casa, foi parar nas ruas e o único convite que recebeu foi para se juntar a um grupo que cometia assaltos.
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Entre idas e vindas, foi apreendido como menor e depois preso como adulto. Por 18 anos, não soube o que era liberdade. Quando voltou às ruas, o destino fez com que fosse estudar e ganhasse uma profissão (pastor) e tivesse uma família. “No início foi muito complicado pelo fato das pessoas julgarem muito, infelizmente. A minha maior dificuldade dentro da sala de aula (quando entrou na faculdade de direito) foi esse preconceito das pessoas que sabiam do meu passado”, relembra. Hoje, sonha em ser defensor público.
O começo
A infância do pastor foi conflituosa. Ele nasceu em uma família humilde, de baixa renda. Morava com os pais e os irmãos em Ceilândia. O ambiente era conturbado: o pai fazia uso excessivo de bebidas alcoólicas e agredia a mãe. “Até que um dia interferi na discussão para defendê-la. No dia seguinte nem conseguia olhar para ele (pai), de tanta vergonha. Senti-me envergonhado pelo que fiz. Não consegui ficar vendo aquela cena. No dia seguinte, resolvi sair de casa. Falei para minha mãe que ia à casa de um amigo e, desde então, não voltei mais”.
Mesmo sendo tão novo, foi dormir nas calçadas da W3 Sul, abrigado apenas pelo toldo das lojas. “Fizesse sol ou chuva, eu estava ali, dormindo no chão. Para não passar fome, eu pedia comida de porta em porta ou então vigiava carros para ganhar alguma coisa em troca”, conta.
Ele explica que passou a assaltar para poder sobreviver. “Hoje sei o quanto uma família faz falta. Eu tinha a cabeça muito vazia, enxergava esse caminho que eu estava trilhando como o certo”, lamenta. Foram 18 anos preso por assalto à mão armada. Ele também detalhou que as condições dos presídios eram péssimas. “Já passei por vários. Por um tempo fiquei na CPP, que é uma previdenciária patronal. Em outra época fui levado para o CDP, que é um centro de detenção provisória. Além disso, passei ainda, pela Papuda e pelo presídio Cascavel”, cita. A cela tinha o dobro de presos do que havia capacidade. “Era horrível estar ali. Eram cerca de 24 pessoas para uma cela onde cabiam 12. Além de ser pequena e apertada, a condição em si, era péssima”, acrescenta.
Tiros, facão e fugas
Durante os anos que viveu nas ruas, Maurício levou 14 tiros por causa de uma disputa de ponto de drogas. Além disso, levou um golpe de facão no pescoço após ser confundido com outro assaltante. Também já caiu do segundo andar de um apartamento depois de tentar fugir da polícia. Histórias marcantes de um tempo sem perspectiva. “Eu aceitei Cristo pela dor. Afinal, a dor passa e no meu caso passou. Eu vejo essa cicatriz que eu tenho da facada, por exemplo, e ela não me causa nenhuma dor porque eu sei que estou curado ”, sorri.
Em 1998, Maurício recebeu um convite que mudaria mais uma vez a sua vida. Um colega do sistema prisional o convidava com frequência para ir à igreja. “Ele me chamava tanto, que certo dia decidi ir só pela insistência e para ver se ele parava de me chamar”, relembra. Neste dia, antes de entrar na igreja, ele fez o uso de drogas com um conhecido e, após isso, entrou na igreja e sentou logo atrás. “Tudo que o pastor pregava me parecia ser em outra língua. Eu não entendia nada. Então, fechei meus olhos e comecei a conversar comigo mesmo”.
Por um momento, Maurício não lembrava mais do que havia acontecido. Quando se deu conta, estava ajoelhado e chorando feito uma criança. “Quando eu consegui me levantar, foi como se eu nunca tivesse usado nenhum tipo de droga. Me senti liberto. Desde esse dia, eu me converti”, emociona-se.
Maurício, no entanto, ainda cumpria pena de prisão. Em cárcere, ele conheceu a esposa, que na época trabalhava na Defensoria Pública e o ajudou bastante. “Em 2009, eu só tinha a quarta série do Ensino Fundamental. Ela viu em mim um potencial que eu nunca imaginaria ter e acreditou na minha capacidade. Fiz supletivo, depois vestibular e agora curso direito na faculdade”, conta Maurício com um brilho nos olhos demonstrando felicidade.
A força e a vontade de crescer que Maurício sente vêm do incentivo da esposa. Ele passou a ter um novo olhar sobre o ambiente familiar. “Ela me dá ânimo para seguir em frente e querer ser uma pessoa melhor a cada dia. Eu me levanto todos os dias com o objetivo de dar uma vida cada vez melhor para ela. É isso que me mantem de pé”, percebe.
Atualmente Maurício é pastor em três igrejas e viaja o país inteiro como palestrante ajudando pessoas em situações semelhantes às de seu passado. Ele conta que se sente realizado hoje e que tenta mostrar para o próximo que ele também é capaz de seguir adiante. “A mensagem que eu tento deixar para qualquer pessoa é que nunca desistam de um objetivo. Creia. A noite, por mais escura que ela seja, nunca vai impedir o sol de brilhar”.
Por Carolina Rabelo