“Se eu tivesse que resumir tudo em uma palavra é amor. Porque o amor não tem limite. E eu acho que este ano de entrega foi um ano de amor sem limite”. É assim que Arantza Ávila, jovem mexicana de 19 anos, resume sua vivência como colaboradora do movimento católico Regnum Christi no Brasil. Ela tem o trabalho de voluntária.
Além das atividades remuneradas, há um outro tipo de trabalho acontecendo, silencioso e constante, que move comunidades inteiras: o voluntário.
Ele permite o funcionamento de milhares de iniciativas sociais, culturais e religiosas no país.
Mais que caridade
Segundo a pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 2022, o Brasil contabilizou 7,3 milhões de pessoas com 14 anos ou mais realizando trabalho voluntário, o que equivale a 4,2% da população nessa faixa etária.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e foram divulgados no dia 9 de março de 2023.
Essas ações envolvem apoio a creches, visitas a hospitais, organização de eventos comunitários, ensino informal, mutirões religiosos, entre outras atividades realizadas sem remuneração — mas com valor social.
A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), entidade que representa a sociedade civil organizada, destaca que o trabalho voluntário é uma expressão fundamental da cidadania ativa.
Em suas publicações, como o relatório “Vínculos de Trabalho Não Remunerado nas Organizações da Sociedade Civil” (2021), a associação afirma que o voluntariado é uma das colunas que sustentam os mais de 820 mil projetos sociais ativos no país.
Florescer
Foi justamente depois de uma missão voluntária que nasceu o projeto Florescer, em Brasília. A ideia surgiu depois que Sofia Petrini Moral, a fundadora, participou da Missão Solidária Marista, evento missionário promovido pelo colégio que estudava na época, durante seu terceiro ano do Ensino Médio, e voltou para casa transformada.
Sofia conta que o nome da organização surgiu durante um brainstorm com o namorado, Cauã.
“Florescer combina muito com deixar um ambiente mais bonito, então é isso que a gente prega, é trazer alegria para os lugares”, comenta Vilela.
O símbolo do grupo é um girassol, flor que representa luz e alegria.
“Ela voltou com um mindset diferente, com sede de mudança”, relembra Cauã Vilela, seu namorado e parceiro na criação do projeto.
O grupo começou pequeno, com encontros simples, mas logo se tornou um coletivo fixo e estruturado.

Hoje, o Florescer atua diretamente com quatro instituições: a Casa de Paternidade, na Estrutural; a Organização W6, em São Sebastião; o Centro Comunitário da Criança, no Sol Nascente; e o Abrigo Flora e Fauna, no Novo Gama.
As ações vão desde atividades recreativas com crianças, apoio financeiro e doações de cestas básicas até a reforma de espaços e também acolhimento emocional.
“Uma das ações mais marcantes foi a de Natal. Entregamos brinquedos e brincamos com as crianças e cestas básicas para as famílias. Nos divertimos muito, foi uma ação linda”, recorda a fundadora.

Os voluntários da organização são, em sua grande maioria, jovens no final do ensino médio ou na faculdade, de 17 a 20 anos.
Os voluntários encontram na experiência um caminho para crescer pessoalmente. “Eles saem mudados. E a gente espera que essa chama continue, que o espírito de voluntariado não fique só no Florescer.”

Apesar de não ser formalmente remunerado, o compromisso é real. “Não é um trabalho CLT, mas não deixa de ser uma responsabilidade. A gente assumiu um compromisso com as instituições, e precisa cumpri-lo.”
Sofia revela seus anseios para o futuro e revela também que, depois de formada pretende seguir com a organização, buscando expandi-la cada vez mais.
“O meu maior sonho com a organização é expandi-la a ponto de conhecer comunidades de outros estados, de outros países, e, enfim, ganhar um nome e uma estrutura realmente conhecida.”
Encontro
O que une experiências como as de Sofia e de Arantza é o sentido de vocação.
“Eu sempre agradeço muito a Deus antes e depois de cada ação. Peço muita ajuda pra Deus também. Eu sinto muito que, de certa forma, eu tô fazendo um pouquinho do que ele queria, espalhar um pouco desse amor”, afirma a fundadora do Florescer.
Para elas, o voluntariado não é apenas um gesto de caridade, mas uma forma de viver a fé de maneira concreta, com os pés no chão e o coração disponível.
Ações missionárias
A jovem mexicana Arantza conheceu o Regnum Christi durante o ensino médio. O Regnum é uma Federação Católica Internacional, e tem como proposta a evangelização por meio da ação concreta especialmente entre os jovens.
Em agosto do ano passado, ela aceitou o desafio de virar colaboradora do movimento e entregou tempo, energia, fé e, principalmente, amor para participar de ações missionárias, viver em comunidade e experimentar, na prática, o que é servir por amor. Sem salário. Sem formação exigida. Sem falar português. Mas com muito propósito.
O movimento promove, ano após ano, as Missõesde Semana Santa, que acontecem em diversos lugares do DF e Entorno.
Essas missões são um exemplo poderoso da espiritualidade que se desdobra em ação. Jovens católicos, famílias, médicos e educadores se reúnem para levar a palavra de Deus e ações de solidariedade a regiões vulneráveis. A proposta é viver a Páscoa de forma dedicada ao próximo e se aproximar cada vez mais de Deus.
Esse ano, o grupo de meninas voluntárias foi missionar em Alexânia e as atividades duraram quatro dias: da quinta-feira santa ao domingo de Páscoa. Durante os dias da missão, os voluntários realizam visitas a casas, escutam moradores, oferecem momentos de oração e realizam atividades com crianças e adolescentes.
O simples ato de ouvir, acolher e estar presente já transforma.
“Tem muitas vezes que as pessoas só precisam de acompanhamento, estão muito carentes de amor.”
“Você tem que chegar com o coração disposto para trabalhar muito nesses quatro dias que você tem e tem que aproveitar muito. Eu amei como todo mundo já vai com o coração disposto para ter toda essa entrega”, conta Arantza sobre a missão em Alexânia (GO).
Ao se tornar colaboradora do movimento, Arantza aceitou o desafio de viver um ano no Brasil, em comunidade com consagradas, em total dedicação à missão.
Ela admite que sentiu medo no início, principalmente por ter que aprender outro idioma, mas logo percebeu que o acolhimento supera qualquer barreira.
“Senti muita compreensão e paciência quando eu comecei a aprender o português.”
Além disso, Arantza percebeu que a barreira linguística não seria um desafio tão grande assim: “Aprendi nesse período que temos o mesmo idioma, que é o amor. E o amor não tem barreira, o amor não tem um limite.”
Arantza relembra a primeira experiência que teve no Brasil, logo que chegou, no dia 8 de agosto de 2024, onde participou de uma atividade onde teve que rezar pela pessoa que estava ao seu lado, quando ainda não falava nada de português.
Ao longo dos meses, ela mergulhou na realidade local e cresceu em todas as dimensões: emocional, cultural e espiritual.
Com essa experiência se aproximando do fim, a jovem mexicana deixa um recado para os jovens que pensam em missionar em outros países
Por Beatriz Laviola
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira