“Não consigo esquecer…foi dia 11 de março, numa quarta feira, às 23h. Quando saiu a notícia na televisão, começamos a receber mensagens nos grupos de WhatsApp. A partir do dia seguinte, quinta-feira, 12 de março, não haveria, segundo o governo, mais aulas nas escolas, pois estariam fechadas”. Tio Beto não estava acreditando no que ouvia.
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Gilberto Pereira conhecido como Tio Beto, é motorista de van escolar há 26 anos no DF. Segundo ele, ele ficou aturdido naquele momento em que os casos de covid-19 começaram na capital, e o governo federal suspendeu as atividades. A pandemia trouxe consequências drásticas para esta categoria, deixando prejuízos. “Hoje não tenho um terço da clientela que eu tinha a dois anos atrás. Não tenho nem 30% e trabalho do mesmo jeito no mesmo ritmo, por questões de horário das escolas e pouquíssimos alunos dentro do carro.”
De acordo com o presidente do Sindicato dos Transportes Escolares do Distrito Federal (SINTRESC-DF) (), a categoria comporta, atualmente, 2046 transportadores.
Alex de Araújo também faz parte da categoria. No ramo há 4 anos, ele faz diariamente a rota Ceilândia Norte – Condomínio Privê. “Hoje minha jornada de trabalho está bem reduzida. Estamos trabalhando menos e gastando mais. A demanda caiu bastante. Minha clientela caiu 50%, antes transportava 30 alunos no total e hoje somente 15”, lamenta.
Outro fator está ligado às despesas. Com a alta do dólar, o país continua aumentando os preços dos insumos base para esta e outras categorias. “O custo operacional foi lá pra cima de janeiro até agora. “Será que vou conseguir cumprir as obrigações por causa do custo?”. O valor que entra, muitas vezes, não é o suficiente para os transportadores manterem o carro, gasolina, a manutenção e limpeza. “Até porque dobramos a higienização.Transporto adolescentes que entram no carro e falam ‘Tio, a gente vai ficar bêbado até chegar na escola de tanto álcool que o senhor passa na van’, brinca Gilberto.
Nazon Simões, que é presidente do Sindicato dos Transportadores, disse que a postura do órgão referente à pandemia foi de resolução rápida e a longo prazo. ”Logo no início passamos por bastantes dificuldades, mas conseguimos auxílio emergencial durante nove meses para os motoristas. Valor em três etapas, sendo a 1° e a 2° de R $1200 e mais três parcelas de R$ 600. Em relação a vacinação, nós até protocolamos um ofício para o governo, mas eles falaram que dependia do Ministério da Saúde”.
O momento pandêmico foi difícil para muitos. Agora, após quase dois anos, muitas categorias buscam se reinventar no mercado de trabalho. A mudança neste momento torna-se necessária para a sobrevivência não do mais forte, mas do mais flexível às mudanças.
Um novo caminho
Segundo o economista e matemático Robert Lamas, as consequências econômicas do DF partem também das escolhas tomadas pelo governo atual e anterior à pandemia, e que estão tendo seu grande impacto agora. “Em relação à gasolina, nós temos vários problemas , como por exemplo, o fato de não termos concorrência no mercado. A empresa atual (Petrobras), que fornece este insumo acompanha os valores do mercado externo e com a desvalorização do real o governo subsidia ou acompanha o preço. A ideia é que o preço seja regulado pelo mercado, mas infelizmente sofremos com as altas.”
O meio de transporte predominante adotado pelo país é o sistema rodoviário.O Brasil começou a investir em rodovias no auge do Governo JK. Nesse modelo de transporte são utilizados carros, ônibus e, principalmente, caminhões. “Acaba se tornando uma bola de neve. Temos uma situação de reavaliar contratos. Há algum tempo, a gasolina estava a R$ 3,29. Atualmente, o consumo do condutor é combustível, manutenção, pneu entre outros, por isso ele precisa ainda mais ter um lucro.”
Em meio a tudo isso, há um novo caminho. “É preciso se reinventar, procurar alternativas que até então não se sabia que poderiam existir, e que são possibilidades de sobrevivência. Buscar novos desafios tem sido o grande diferencial de todas as categorias. Muitos já buscam alternativas como entregador, uma área que cresceu muito na pandemia. Ela pode diminuir um pouco, mas não tanto porque as pessoas se acomodaram em fazer compras on-line. Esse comodismo trouxe a oportunidade de ganho/renda de outras pessoas que não sabiam que poderiam trabalhar dessa forma. É usar a tecnologia ao seu favor.”
Por Ana Carolina Tomé e Lucas Costa Pinto
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira