“Uma tragédia impensável se nada substituir auxílio emergencial”, diz jornalista

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Trinta anos de carreira e um currículo que é referência no jornalismo econômico e político no Brasil não afastaram Cristiano Romero do gosto pela “rua”, pelo contato com as pessoas, tanto as fontes quanto os colegas de redação. Ele entende que essa especialização noticiosa deve estar atenta aos principais temas sociais e ouvir efetivamente as pessoas. “O Brasil pode viver uma tragédia impensável se a partir de janeiro não houver nada para essas pessoas que receberam o auxílio emergencial”, alerta.

Também nesse contexto, ele considera que os dias de pandemia são muito prejudiciais para a atividade profissional. “Em primeiro lugar, tem a falta de encontro dos jornalistas. A troca de informação, o conversar na redação é um fator que acaba transformando a apuração do jornalista. Nós não estamos na rua. A gente não está conversando com as pessoas, a gente não olha para elas”, lamenta.

Cristiano Romero, editor-executivo e colunista do jornal Valor Econômico,  foi correspondente em Washington entre 2000 e 2003. Em 2008, recebeu o cobiçado prêmio “Citigroup Journalistic Excellence Award“, da Columbia University. Ele trabalha atualmente na redação do veículo em São Paulo.

Assista à palestra de Cristiano Romero

Com tamanha experiência, ele faz questão de orientar os repórteres a não perderem o espírito de curiosidade e que não use ferramentas de mensagens para fazer entrevista. “Falo para os meus repórteres ouvirem as pessoas, ligarem para elas”.

Cristiano Romero esteve em videoconferência, nesta segunda-feira (19), com profissionais e estudantes de comunicação, para discutir as mudanças do mundo do trabalho da comunicação provocadas pela pandemia, os riscos e oportunidades. O evento foi promovido pelo Centro Universitário de Brasília. A conversa foi mediada pelos professores Vivaldo Sousa e Gilberto Costa.

Depois da pandemia

Para o jornalista, o pós-pandemia levará ensinamentos para a área. “Não só no âmbito governamental, as empresas, nesse período, também optaram pela realização de lives. Porém, muitas empresas estão vendo que dá errado ao quererem anunciar suas informações sem jornalistas. Falta o contraponto, não tem o outro lado. Somos jornalistas porque queremos uma democracia. Não existe democracia sem liberdade de expressão. O jornalista trabalha para isso.”.

Quanto ao trabalho em casa, no futuro, o jornalista acredita que, para o modelo vigorar, depende-se de diversos fatores. “Temos que dar o direito para os profissionais de trabalharem em casa. Funciona para correspondentes internacionais e pessoas que moram em locais remotos, mas não deve ser uma tendência geral. A redação é uma sala de debate, de troca de informação, conversa diária.”

Cristiano Romero tem 30 anos de carreira e explica que adaptação dos profissionais ao distanciamento é complexa.

Desafios na economia

Cristiano Romero vê o jornalismo econômico e político associado diretamente aos impactos sociais da comunidade. Ele entende, por exemplo, que é necessário que a cobertura desses campos traga luz a questões como o fim do auxílio emergencial no Brasil ou das definições sobre pagamentos de juros e da dívida pública.

Para os futuros profissionais da área, Cristiano Romero recomenda muita leitura, curiosidade, sensibilidade e atenção. Ele não vê como necessária uma formação extra em economia para seguir na área. “É preciso ler muito sobre o tema e ouvir opiniões de diversos especialistas. A especialização vem com a experiência”.

Por Marina Torres e Gabriela Bernardes

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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