A adolescente Vanessa Alves Coelho de 17 anos se recupera em casa após quebrar a clavícula e ter coágulos no cérebro. Ela sofreu um acidente ao cair de ônibus no quilômetro 2 da marginal da rodovia BR-020, próximo à Região dos Lagos no ônibus da linha 513 que faz a rota Sobradinho / W3 Norte – Sul, da empresa Piracicabana, no dia 6 de março. “Eu fui pegar o ônibus. De manhã, é sempre lotado. Ai fiquei na frente perto da porta e minha mochila ficou presa. A porta abriu, eu caí e bati a cabeça”. A adolescente sofreu uma convulsão e teve que ser levada às pressas ao Hospital Regional de Sobradinho e depois encaminhada ao Hospital de Base. Ela ficou internada por três dias. Ela ainda passará por cirurgia no ouvido. Não há previsão para voltar à rotina, incluindo a escola (hoje, o sonho da garota). A mãe dela, Sandra, espera que seja o quanto antes. “Agora estou mais aliviada, mas não tem como não passar a andar com mais medo”, disse.
O trauma permaneceu diante da imagem do ônibus estava superlotado. Na rota que Vanessa fazia constantemente para ir ao colégio Gisno, na Asa Norte, é comum pessoas se arriscarem em ir encostadas nas portas por falta de espaço nos ônibus. O mesmo acontece no horário de retorno. Isso porque a demanda de passageiros é muito maior do que a de veículos disponíveis. No desespero e ansiedade para voltar pra casa depois de um dia cansativo de trabalho ou de estudos, em um ônibus onde o limite máximo de passageiros – segundo o exposto pelas próprias empresas em seus veículos- é de 36 sentados e 45 em pé, a equipe de reportagem contou pelo menos 13 pessoas a mais do que o limite previsto.

Os ônibus para Sobradinho e Planaltina, por exemplo, já são conhecidos pela grande quantidade de pessoas ocupando em horário de pico. Esses passageiros reclamam com frequência do custo/benefício do transporte público de Brasília. Como se isso não bastasse, o aumento das passagens não corresponde diretamente ao aumento da inflação. O maior prejudicado com os preços da tarifa é o passageiro. Segundo o pesquisador na área de transportes, Flávio Augusto de Oliveira Dias, a situação dos ônibus tem relação direta com o mercado de trabalho. “As tarifas de R$ 5 têm um valor considerado elevado pelos empresários, que preferem contratar pessoas que moram perto do local de trabalho. Como em Brasília a maioria das pessoas trabalham no Plano Piloto mas moram em cidades satélite, eles têm que encarar uma tarifa de R$ 5 para transportar o empregado. Desse ponto comercial é uma tarifa cara, alguns empresários terminam demitindo porque não consegue manter o empresário por conta das tarifas”.
“Frota nova”
Quando questionada sobre a infraestrutura dos ônibus, a Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal, afirma diz ter uma das frotas mais novas do país, com apenas quatro anos e mantém um rigoroso processo de inspeções em todos os veículos que operam no Sistema de Transporte Público Coletivo do DF e que a fiscalização da parte mecânica, elétrica, condição dos pneus, portas, faróis, itens de segurança, acessibilidade, entre outros estão em dia.
“Não há ônibus fora de circulação. Os reparos geralmente são pequenos e feitos no mesmo dia”. Sobre o incidente acontecido com Vanessa, nem o Dftrans e nem a Secretaria de Mobilidade quiseram se pronunciar, em virtude do episódio estar em investigação, e não ofereceram os dados necessários.
Por Brenna Farias e Lucas Mayon
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira