Voz, visibilidade e capacitação para talentos musicais das quebradas do DF

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Com o objetivo de promover a cultura urbana e proporcionar eventos abertos na periferia do Distrito Federal, um grupo de amigos se reuniu e criou, em 2014, o Movimento Underground de Brasília (MUB). Desde festas até projetos sociais, a produtora nascida na Ceilândia segue organizando eventos e tirando ideias do papel para enriquecer o cenário cultural da região.

3ª edição do Lazer das Quebradas, no JK Shopping (Foto: Divulgação/MUB Produtora)

Sem faturamento e com poucos recursos, o MUB enfrentou inúmeras dificuldades para organizar os eventos. O primeiro deles foi o “MUB is Ação”, feito no Gama, seguido por um dos primeiros projetos da produtora, o Lazer das Quebradas. Lançada em 2016, a iniciativa teve duas edições na Casa do Cantador e a terceira aconteceu no JK Shopping, marcando o primeiro baile de hip hop dentro de um shopping center em Brasília.

A chegada da pandemia mudou os planos de trabalho, e, para não fazer lives como a maioria dos artistas e ativistas culturais, surgiu a ideia de lançar a MUB Music. Com o novo selo inaugurado, a produtora focou em levar mais capacitação e formação para fomentar a carreira de artistas locais. Assim, em 2022 o Lazer das Quebradas adotou uma nova pegada e se tornou uma coletânea com 49 cantores, sete de cada sete quebradas do DF.

Na edição 2023, o projeto envolve artistas das regiões administrativas da Estrutural, Paranoá, Planaltina, Riacho Fundo, São Sebastião, Sol Nascente e Taguatinga. Após a realização das inscrições e de uma curadoria, os cantores selecionados ganham a gravação de uma música e a distribuição dela nas plataformas digitais, divulgação profissional e um cachê de R$ 610. Atualmente, o MUB Music já conta com mais de 19 mil ouvintes mensais no Spotify e segue com lançamentos novos até completar os 49 artistas do Lazer das Quebradas.

Para Lucas Pinheiro, coordenador geral e fundador do MUB, a influência da produtora para a cultura local é bastante positiva, mas acredita que o resultado real só será perceptível no futuro. “O Lazer das Quebradas abre portas para muitas coisas aos artistas, poder proporcionar isso para eles é de grande agrado para nós. Também damos um e-book onde ensinamos a fazer os registros, para os artistas ganharem seus royalties, direitos autorais. Acredito que o impacto é algo que a gente ainda não consegue mensurar, porque sabemos que tem artistas que estão gravando suas primeiras músicas. Quem sabe daqui um tempo estarão dentro do mercado nacional partindo da ajuda desse projeto”, torce o produtor.

Projeto Lazer das Quebradas conta com músicas de 49 artistas do DF (Imagem: Divulgação/Lazer das Quebradas)

Com mais de 98 artistas gravados, capacitados e lançados, o selo da MUB Music segue crescendo nas plataformas digitais e alcançando públicos para além do DF, como São Paulo e Belo Horizonte, e até mesmo para fora do país. Segundo Lucas, as músicas do Lazer das Quebradas já atingiram mais de 90 países pelo mundo, o que para o idealizador do projeto é motivo de orgulho por estar levando a cultura do DF para vários lugares.

Desde a criação em 2014, passando por todas as iniciativas executadas e chegando até o cenário atual, o Movimento Underground pode-se dizer que alcançou seu objetivo inicial, de contribuir na promoção da cultura urbana. “Hoje nossa entrega é muito boa. A informação que a gente leva para todos os envolvidos é uma informação rica, onde a gente sabe que ajuda a destravar várias situações que às vezes os artistas não tem informação, questão de cadastros, etc. Acredito que a gente tem conseguido trazer impacto para a juventude de Brasília, para os artistas independentes” comenta.

Gravação do Lazer das Quebradas de 2022 (Foto: Divulgação/MUB Produtora)

Os próximos passos de Lucas e da MUB Produtora é dar sequência nos projetos, como o “Vem pra Cei”, que visa incentivar o turismo na Ceilândia, e terminar a estrutura do escritório, juntamente com a do estúdio, que já está em fase de finalização. Com esse objetivo concluído, o foco será começar a fazer um trabalho de agenciamento de carreira de artistas locais e ajudá-los ainda mais na busca de seus sonhos e sucesso no meio musical.

Voz de Tagua

Uma das participantes do projeto é Ísis Zavlyn (@isiszavlyn), de 24 anos. A rapper começou na música entre 2017 e 2018, quando participava de batalhas de rima e escrevia letras pelo prazer de colocar seus sentimentos no papel. Seu som gravado para o Lazer das Quebradas foi justamente uma das primeiras composições que fez, ainda em 2017, que trata sobre racismo, violência policial, negritude e transgeneridade.

A artista diz ser muito significativo poder contribuir com seu trabalho para uma iniciativa  que acompanha há anos e que desempenha um papel fundamental na sociedade. “Sou muito grata. É muito bom ver o tanto de potência que a quebrada tem. Ter projetos assim, para difundir a cultura do DF, é de suma importância, porque muitas vezes as pessoas periféricas e talentosas não têm os acessos necessários para que possam mostrar o seu trabalho, seu talento, e colocar pra jogo toda a sua arte”, compartilha.

Ísis faz parte da coletânea de Taguatinga do Lazer das Quebradas (Foto: Henrique Janssen)

Ísis acrescenta que participar desta edição do Lazer das Quebradas foi um impulso em seu trabalho, principalmente para colocar as canções nas plataformas digitais. Os próximos passos da carreira envolvem a divulgação  de seu single, que faz parte da coleção de Taguatinga e será lançado em julho, e também liberar sua primeira música no Spotify, um single que fará parte do primeiro EP de Zavlyn.

Direto do Riacho Fundo

Laady B (@laadyb_), cantora, compositora e pedagoga de 27 anos, é outra artista da periferia do DF presente na coletânea. Ao iniciar a carreira em 2013 como MC, ela diz ter começado a se entender melhor e desenvolvido mais interesse na “música preta brasileira”. Após uma pausa entre 2014 e 2020, a artista, que se define como cantora de música preta brasileira, da cultura hip hop e R&B, retomou com tudo e lançou seu novo som “Fim da Linha” pela MUB Music.

Na visão da artista, o Lazer das Quebras se destaca não apenas pela importância social, mas também pelos  bastidores. “Além de dar a oportunidade de gravar a música, fazer parte do processo, conhecer outros artistas, o projeto contempla o artista no sentido de ter novas perspectivas. O cuidado que a equipe tem em todo o processo é muito importante. Me senti realizada, porque vi ali meu trabalho valorizado por pessoas que trabalham com produção musical, que têm essa visão mais sensível em artistas que podem até se tornarem grandes no âmbito nacional”, conta.

A realização em ser parte do Lazer das Quebradas também se transforma em números, já que a música “Fim da Linha” é a mais ouvida da cantora, com mais de 8.5 mil streams no Spotify. Agora o foco da artista é divulgar mais seu trabalho e se planejar para lançar um EP, que ela espera que venha “em breve e muito rápido”.

Laady B faz parte da coleção Riacho Fundo (Foto: Divulgação/Laady B)

Por fim, Laady B reforça o papel de se ter mais projetos de capacitação e incentivo à cultura no DF e entorno. “Isso faz com que novos artistas, novas vozes, sejam escutadas de uma forma muito forte. Temos artistas muito potentes na periferia, em vários lugares aqui do nosso quadradinho. Tem muito artista que não tem grana para soltar seu primeiro som, e como o Lazer das Quebradas faz todo um planejamento, com divulgação e tudo mais, o artista acaba aprendendo de alguma forma como é esse processo, como que funciona, distribuição, processo de gravação, várias coisas burocráticas”, encerra.

Por Arthur Ribeiro

Supervisão de Gilberto Costa

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