São diferentes corredores: um de alimentos, outro de casinhas, alguns de vestuário. Cada um destinado à necessidade do pet. À esquerda, uma farmácia com uma vendedora disponível para tirar dúvidas e vender os remédios protegidos por serem mais caros. À direita, os pets à venda. Marvim, um Pug macho, custa em torno de R$ 2.6 mil, já Mel, uma Bulldog francês custa R$ 4,6 mil. Fred sai mais em conta: R$ 3,7 mil da raça Jack Russell Terrier. Duda, Paçoca e Branca, da mesma raça, custam R$ 3,8 mil “por serem fêmeas”. Em uma das maiores lojas de pet shop do Distrito Federal, a aquisição de animais mostra que amor pelo bicho custa caro.
Segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Distrito Federal, há 265 lojas aptas para a venda de cachorros no DF e as fiscalizações devem ser feitas pelos próprios veterinários (credenciados pelo órgão) do local que os cachorros estão à venda. No caso dessa loja que a reportagem visitou, são vendidos animais de diferentes espécies. Gerente de um dos maiores estabelecimentos de pet shop, Raiane Rosa diz que a vantagem de comprar é ter mais segurança com a saúde do animal. Ela explica que, entre os motivos que levam os clientes a comprarem ao invés de adotar, está o da garantia da procedência. “Quando comprado, o animal tem o pedigree. Sabemos de qual canil vem. Aqui na loja, ele tem as vacinas certinhas, tem uma boa alimentação, tem vermifugação, é bem tratado. E o animal adotado, por mais que seja uma boa prática a adoção, não sabemos a procedência.”
Ouça a entrevista com Raiane Rosa:
“Filhos peludos”
A servidora pública Suyene Oliveira, dona de quatro cachorros, todos da raça Chihuahua, acredita que muitas vezes os donos precisam adequar o cão às características da família e da residência. “Temos necessidades distintas e, por isso, vamos atrás do que mais nos favorece. Eu precisava de um cão pequeno que desse para viajar comigo e minha família”. A vida deles mudou completamente desde a chegada do primeiro cachorro e Suyene ainda brinca que eles são seus filhos peludos.
Ela admite que gasta em torno de R$ 100 por mês com cada um de seus cachorros, caso não existam outras despesas com veterinário e cuidados extras de higiene. Quando compram mimos ou produtos como roupas, acessórios, desinfetantes e produtos para banho, o valor sobe para R$ 700.
Apesar de ter comprado os animais, Suyene afirma que é muito importante a adoção e diz que ajuda como pode nos grupos de apoio. “Já resgatei alguns animais e ajudo financeiramente para compra de remédios, rações e cirurgias nos grupos de resgate”.
Adoção
“Meu pai trouxe e colocou ele [Bob, cachorro da raça Chow-Chow] na minha cama, em cima de mim, me acordando de manhã. Eu fiquei sem acreditar que ia ser meu, chorei muito e amei logo quando vi. Ele tinha três meses e hoje já está com seis anos”.Foi assim que a estudante de farmácia Camila Alves ganhou o cachorrinho adotado. Uma cadela de um conhecido de Camila teve filhotes e doou um para ela. Para Camila, adotar é sempre bom, seja de rua ou de alguém conhecido.
“Meu pai adotou para me dar de presente. Poder adotar é maravilhoso! Prefiro adotar para não colaborar com o olho grande das pessoas que fazem comércio com animais e acabam escravizando os bichinhos em situação deplorável só para eles reproduzirem mais e mais para gerar lucro”.
Camila sugere que a compra deve ser feita a partir de uma pessoa conhecida e que saiba as condições da mãe do animal a fim de não dar força para contrabandos ou maus tratos. “Sabendo das condições e do local onde os cachorros se encontram, tendo em mente que não há nenhum tipo de exploração, não vejo problema em comprar”.
Quem adota também tem despesas com o cachorro. Camila gasta em torno de R$ 240 por mês com Bob. Mas alega que já gastou mais de R$ 3 mil quando o bicho precisou fazer duas cirurgias no olho. “Só a diária da internação era R$ 250 e ele ficou sete dias internado. Esse cachorro já deu prejuízo, viu?”, brinca.
É preciso check-up
O veterinário Marcelo Cardoso aconselha que, na decisão entre comprar e adotar, é importante observar algumas condições básicas. “Se for comprar, sempre compre cachorro de canil. Procure saber sobre o canil, como cuidam desses cachorros, se eles são vacinados, vermifugados. Se for adotar, procure um veterinário para fazer o check-up no animal e veja se ele está saudável e vacinado.”
Ele prefere a opção de comprar de um canil, pois acredita que adoção é “um tiro no escuro”. Ainda assim, vê a ação de adotar como algo bom. “Adotar é uma coisa boa porque vai tirar aqueles cães vadios da rua e vai diminuir essa população de cães que ficam transmitindo doenças não só para outros cães, mas para outros animais e seres humanos”.
Custos vão até a morte…
Camila e Suyene sofreram com a morte dos antigos animais de estimação. Para amenizar Camila da dor, os pais não falaram para ela o que fizeram com o corpo e do animal. Suyene preferiu usar o método de cremação. “Preferi cremar, pois eles buscavam o cachorro na clínica e eu não queria enterrar senão prolongaria o sofrimento. Não queria ter que pegar o corpinho dele no colo, colocar no carro, procurar um caixãozinho e enterrar”.
Em Brasília, não existe cemitério público para pets. Por e-mail, a Secretaria de Saúde do DF informa que está em andamento o processo de documentação para instalação, em um terreno do Setor de Indústrias e Abastecimento, de um cemitério público para animais, conforme prevê a Lei 2.095/1998, regulamentada pelo Decreto 19.988/1988. A área deverá ser explorada pela iniciativa privada, nos moldes dos cemitérios para humanos. As pessoas que desejam enterrar ou cremar o seu bichinho precisam recorrer ao Crematório e Cemitério do Município de Valparaíso de Goiás – Pet Garden, Cemitério Memorial Jardim dos animais ou Crematório Paraíso Animal, no entorno do DF.
No Crematório e Cemitério do Município de Valparaíso de Goiás – Pet Garden o valor, em média, para a cremação coletiva sai a partir de R$ 300. Se o dono do cachorro preferir o serviço de cremação individualizada, ele pagará em torno de R$ 400 e após a cremação, as cinzas são entregues em uma cinzaria de madeira. Já o sepultamento tem o valor a partir de R$ 505 e são realizados em três tipos de jazigo, variando de acordo com o tamanho do animal.
Por Letícia Silveira
*Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira