Dólar força mudanças na produção

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O dólar americano passou a apresentar maior instabilidade nos últimos meses com as crises econômica e política, com variações diárias. No início de março, a moeda rompeu pela primeira vez em 10 anos a barreira dos R$ 3. Já na segunda quinzena de setembro, o dólar comercial chegou a valorização de 2,45%, a R$ 4,24 na venda. O valor atingido é o maior desde o início do real, superando o dia 10 de outubro de 2002, quando a moeda norte-americana encerrou o recorde histórico de R$ 3,99.

SAIBA MAIS SOBRE A VOLATILIDADE DO DÓLAR

Razões da alta

A crise política e financeira da Europa e o fortalecimento da economia dos EUA são alguns dos problemas externos que estão atingindo o câmbio e provocando a desvalorização do real. O professor de economia da Universidade de Brasília, Newton Marques, avalia que o Brasil segurou por muito tempo o câmbio. “Depois o governo já não tinha mais condição de segurar isso e deixou realmente o câmbio flutuar com a nova política macroeconômica através do Joaquim Levy (atual Ministro da Fazenda), no segundo mandato, e juntando com a questão do desequilíbrio fiscal”. O especialista também considera que a desaceleração da atividade econômica e mesmo o rebaixamento que o país teve das agências de classificação de risco de crédito acaba criando essa volatilidade.

Além dos problemas externos, o Brasil também sofre em meio às preocupações políticas e econômicas que interferem no governo da presidente Dilma Rousseff. “Claro que isso sem esquecer do problema da queda de braço entre o Executivo e o Legislativo… É um governo que foi reeleito legitimamente, por mais que tenha prometido A e fez B, mas é um governo democrático. A oposição, juntando com alguns políticos no Congresso, não quer aprovar nenhuma medida de ajuste fiscal que o governo propõe”, diz Newton Marques.

O dólar deve escapar ainda mais do Brasil porque os norte-americanos planejam subir sua taxa de juros até o final de 2015, atualmente em 0,25%. Este fator pode fazer o dinheiro dos investidores render mais por lá do que aqui.

Impacto na produção

Há quase um ano em uma companhia de Brasília que personaliza artigos para festas, o designer Eduardo Massao, acredita que as dificuldades que enfrenta são normais para novas empresas que estão entrando no mercado. No entanto, o funcionário pondera que, se o país estivesse em melhores condições, mudaria os hábitos de consumo. “Se houvesse uma quantidade maior de dinheiro sobrando no final mês no bolso das pessoas, a gente poderia vender bem mais”.

Já na Zona Franca de Manaus, o industriário Caio Mendonça, que trabalha na linha de produção de uma fábrica de aparelhos áudio automotivos, afirma que com o aumento do dólar a demanda tem caído bastante nas últimas semanas. “Os pedidos acabam ficando reduzidos, então isso acaba gerando redução de custos em tudo”, diz. Ele defende que uma das consequências do atual cenário econômico é a demissão “em massa” e a queda na produção, principalmente no polo industrial. No caso da empresa em que trabalha, ele relata que o planejado, inicialmente, era ter produtos em estoque suficientes para o prazo de 2 meses. “Hoje a gente está com o estoque de 5 meses. Então já está fora do planejado que a empresa programou para o final do ano”.

Novos empregados

O engenheiro de produção Giovanny Eccher, que trabalha em Santo Antônio de Jesus (cidade baiana a 193 km de Salvador), onde está instalada um polo farmacêutico, considera que, no cenário sem crise, os equipamentos nacionais não são muito competitivos. “Os importados normalmente são mais modernos por causa de tecnologia que ainda não dominamos e saem a um preço não tão absurdo”, informa. Já no cenário de crise, ele explica que o preço dos importados foi para as alturas e esse diferencial não pesou favoravelmente na relação entre o custo e o benefício. “Com essa relação desfavorável dos importados, os nacionais passaram a ser estratégicos para um investimento com payback (retorno do investimento) atrativo”.

Para evitar a demissão de funcionários na empresa em que trabalha, o engenheiro diz que a fábrica tem procurado melhorar a eficiência. “Ao invés de demitir, estamos aproveitando para treinar e preparar mais pessoas para a linha de frente a um salário mais baixo do que o de mercado”, destaca. Uma estratégia tem sido capacitar os moradores da própria cidade, o que tem reduzido os custos Ele defende que outro caminho adotado é ter na linha de frente pessoas com salários competitivos e com know how do negócio já amadurecido. “Como estamos numa região fora dos grandes centros, pessoas táticas só vem pra cá com um salário muito bom, e às vezes acima da média do mercado”, relata Giovanny.

Por César Raizer

Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas

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