A pedagoga Fernanda Pereira (foto), de 34 anos, sem emprego fixo desde o ano passado, decidiu mudar de carreira. Trocou a área de ensino pela cozinha. Ela descobriu que tinha talento para produzir doces e salgados e fazer disso a nova profissão. A empresa deu certo com funcionamento em casa e atendendo sob encomenda. Essa é apenas uma das histórias de brasilienses que resolveram enfrentar a crise sob o risco de empreender. Dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que, no ano passado, só no Distrito Federal, existiam aproximadamente 196.526 mil pequenas empresas e 87.771 microempreendedores individuais.
“Trabalho sozinha e no momento não tenho condições de ter alguém me ajudando. O negócio esta dando certo e esta fazendo valer todo o esforço. Lucro o suficiente pra ajudar meu marido nas contas de casa, isso tem feito muita diferença para a família”. Dados do Portal Empreendedor, os últimos disponíveis sobre o assunto, apontam que só no ano de 2014, o número de trabalhadores autônomos cadastrados como microempreendedores individuais chegou a 4,1 milhões em todo o país.
Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, é natural que as pessoas procurem sobreviver e enfrentar os efeitos da crise se “empresariado”, em trabalhos por conta própria, uma vez que houve um “estreitamento” no mercado de trabalho.
“No momento em que a qualidade do emprego piora ou a pessoa corre o risco de se tornar informal, sem carteira de trabalho ou o salário cai, ela tende a procurar uma coisa que possa substituir essa atividade anterior”. O especialista cita que, em muitos casos, com a crise, a situação familiar pode ter piorado. “Pessoas que não trabalhavam começam a desenvolver atividades. Às vezes surgem bons negócios e, mais tarde, novos empresários. É uma situação comum em tempos de crise”, explica o Economista.
“É rápido”
Para o (Sebrae), existem benefícios no microempreendedorismo individual. “A formalização é simplificada, rápida e gratuita. O empreendedor pode obter CNPJ, Certificado da Condição de MEI (registro de atividade), emitir notas fiscais e ainda tem acesso aos benefícios previdenciários”.

O estudante Gabriel Campos, 29 anos, se cadastrou como MEI há três anos atrás. Ele conta que o processo é rápido, mas que requer atenção na hora de pagamento das taxas. O estudante tem um negócio de comida japonesa, com encomendas e entregas feitas em casa. A página da empresa dele na internet já tem mais de 2000 likes no facebook. “Lucro bastante. Como moro com os meus pais, acaba valendo a pena para mim, uma vez que o valor recebido é usado apenas para investimentos no negócio e gasolina.” Gabriel comenta que sua paixão pela culinária surgiu com um curso oferecido pelo próprio Sebrae.
Requisitos
Para Roberto Piscitelli, o microempreendedorismo passa a se tornar uma atividade de risco como qualquer outra atividade empresarial. É preciso desenvolver talento, iniciativa e tomar decisões por conta própria. “Isso é muito diferente da relação que o novo empreendedor mantinha com a empresa, em que o chefe que corria o riscos, aliviando o funcionário. Não existia tanta responsabilidade pelo negócio. Na condição de autônomo, o microempreendedor corre todos os riscos”, expõe.
O economista comenta, ainda, que os novos negócios surgem de forma positiva. “As pessoas passaram a se dedicar a atividades que, inclusive, estavam em desuso. Temos o surgimento de atividades e profissões que se tornam necessárias.” Para Piscitelli, crises como a atual servem para a valorização do trabalho e redução do desperdício, aspectos muito positivos na modernidade.
Os sonhos não param por ai. Fernanda e Gabriel são apenas dois dos tantos idealizadores que existem no Brasil e no Distrito Federal, que inovaram no mercado procurando uma saída para o problema com a crise, que em 2015 fez a taxa de desemprego crescer, tornando–se a maior em dois anos.
Por Amanda Ferreira