Desde os anos 1960, o Distrito Federal é considerado uma terra de prosperidade e muitas oportunidades de trabalho. Uma imagem atrelada às oportunidades de trabalho que vieram com a construção da capital e, posteriormente, ao serviço público que se instaurou aqui. Por outro lado, a capital tem o menor índice de trabalho por conta própria. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no ano passado o Distrito Federal apresentou o menor percentual de pessoas que trabalham dessa forma (18,9%), seguido de São Paulo (21,4%) e Santa Catarina (22,2%). Os maiores percentuais ficaram com os estados do Pará (34,8%), Maranhão (33,4%) e Amazonas (33,0%).
A analista Kátia Magalhães, consultora do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), explica que o trabalhador por conta própria “é aquele que não possui subordinação ou vínculo de trabalho com uma empresa e que presta determinado serviço a alguém”. Também fazem parte desse grupo os profissionais liberais, que prestam serviços, mas são especialistas em sua área de atuação, como médicos, dentistas e advogados. Além disso, a depender da realidade, o trabalho por conta própria pode ser considerado sinônimo de empreendedorismo, mas nem todo empreendedor necessariamente trabalha por conta própria.
“Burocracia excessiva”

Há quatro anos, a psicopedagoga Maria Carolina Pulido (foto ao lado), de 53 anos, apelou para o trabalho autônomo para tentar ganhar a vida em meio à crise. No ano passado, desistiu do negócio, um salão de beleza em Águas Claras. Ela tinha o objetivo de inovar na área e adquirir uma maior independência econômica.
Sobre os desafios que a impediram de seguir em frente, a atual corretora de imóveis lamentou os entraves legais no país. “As cobranças, exigências e burocracia eram excessivas, e eu tinha pouco, ou nenhum, retorno financeiro e evolutivo”. Casos como o de Maria Carolina não são raros. De acordo com Kátia Magalhães, especialista do Sebrae justamente pelo medo do pouco ou nenhum retorno, 70% das ideias de negócio próprio são deixadas de lado antes mesmo de saírem do papel.
Pesquisa antes do sucesso

Kelly Peixoto é parte dos 18,9% que optaram por trabalhar por conta própria e conseguiram se manter no mercado. A ex-professora da Secretaria de Educação deixou a profissão e em 2018 passou a se dedicar ao seu negócio próprio, uma loja de lembranças personalizadas montada em sua residência, a Chic Lembranças. Ela encontrou no trabalho em casa a flexibilidade que precisava para cuidar das filhas e fazer o que gosta.
Para manter o negócio, Kelly fez pesquisas e buscou referências de como ter continuidade nos negócios. “Realizei uma pesquisa de mercado em relação aos meus produtos e observei que teriam uma boa aceitação. Além disso, participei de alguns congressos onde pude aprimorar meu serviço e obter maior sucesso e lucratividade”, comentou a empreendedora. Confira abaixo como é o lugar.
Para os trabalhadores por conta própria que estão começando agora, Kelly recomenda que exista planejamento adequado. “Estamos passando por uma crise econômica no nosso país. Portanto, independente do investimento em qualquer ramo, sugiro uma grande pesquisa de mercado e a busca por ideias inovadoras”.
Ricardo Pereira é dono de uma dessas ideias inovadoras, mas demorou muito para chegar onde está. O empresário de Brasília começou a trabalhar por conta própria aos 19 anos, mas devido à pouca experiência, não conseguiu dar continuidade à atividade. Após a primeira tentativa, abriu mais duas empresas, mas não deu certo novamente.

O empresário entende que os custos de manter a empresa em funcionamento são desestimulantes: “Os impostos são mais altos e acima de tudo aqui temos uma grande diversidade cultural, o que forma um público extremamente diversificado e dificulta que os prestadores de serviço foquem em determinado público”. O empresário encontrou na internet a saída para esses problemas. Em 2016, criou um aplicativo para serviço de lavagem de carros (o Lavô). Ele considera que a persistência foi fundamental para alcançar o que ele considera hoje um sucesso.
Kátia Magalhães, do SEBRAE, concorda que a chave para ter um negócio por conta própria é estudar o mercado e a concorrência, além de elaborar um plano de negócio. “Empreender não é tarefa fácil. A primeira coisa que uma pessoa que está montando um negócio precisa fazer é conhecer sua afinidade, qual é o seu perfil e o que gosta de fazer”.
Confira abaixo entrevista com Kátia Magalhães
Maria Carolina de Morais
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira