A teologia, antes perplexa de dor, injustiça e sofrimento, se ressignifica para o escritor Valdir Steuernagel em seu novo livro ‘Fazendo teologia de olho na criança’.
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O evangelho é apresentado pelo religioso brasileiro por meio do contato com os netos e crianças atendidas pela organização World Vision, na qual o teólogo atua desde 1989.
O livro conversa com a realidade das crianças acolhidas pela World Vision. Por conta desse diálogo, o pastor percebeu que as coisas que sabia não eram tão importantes e nem tão verdadeiras assim. Ele precisava aprender. Ele cita Mateus 18:3, em que Jesus disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.”
Valdir explica que envelhecer fragiliza, afasta a racionalidade, e é por isso que a experiência de se tornar criança é importante. Por meio dessa visão é possível reconhecer, honrar e dignificar a caminhada de vida do outro. É necessário descobrir os mais frágeis, os abandonados. Ele tem o intuito de convidar o leitor a se olhar por dentro. Há a presença da criança no evangelho que o escritor precisava encontrar.
Valdir, de 73 anos, é um pastor luterano e atualmente está jubilado, o que seria como uma aposentadoria para aqueles que exerceram pastorado.
Ele começou sua faculdade na Escola Superior de Teologia São Leopoldo no Rio Grande do Sul aos 18 anos, mas conta que aprendeu e aprende a ser teólogo na medida em que faz sua caminhada, num processo contínuo de aprendizado.
A World Vision está ao lado da caminhada do pastor há mais de trinta anos, e o deu a experiência concreta da dimensão humana da realidade.
A ONG atua com foco nas crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade e tenta garantir para elas uma vida digna.
A organização mostrou ao luterano a importância da comunidade. Ele se voltou para as crianças e se deu conta de seus lugares. Ele teve contato com a maldade humana e percebeu que os pequenos são o elo mais frágil da nossa sociedade.
“Escrever é uma coisa que dói, é uma espécie de agonia”
Steuernagel conta que não nasceu escritor, mas foi se tornando um. Sem imaginar que se tornaria alguém que escreve, o evangélico foi aprendendo a usar as palavras no decorrer da sua caminhada, e a necessidade de escrever se tornou algo real. Segundo ele, a escrita brasileira é uma dança que o seduziu, então aprendeu a dançar numa linguagem clássica, aprendeu a dançar com a caneta na mão.
“Na caminhada da vida, eu aprendi essa outra dimensão que você não escreve simplesmente com a cabeça, você escreve com a poesia. É como uma dança. E eu gosto dessa dança então aprendi a dançar com a caneta na mão”, conta o missionário.
Foi por meio dessa dança escrita que Valdir percebeu que sua formação não é o suficiente, que a teologia clássica não dá conta. Em ‘Fazendo teologia de olho na criança’ expressa bem isso ao mostrar que tudo é mais simples nos olhos de uma criança. A fé precisa aprender a conversar. Ela precisa aprender a se encarnar e dançar.
Por Rebeca Kemilly
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira