Apesar do programa da Educação de Jovens e Adultos (EJA) dar prioridade a alunos mais velhos que não conseguiram estudar no tempo previsto, um fenômeno tem chamado atenção no Distrito Federal: o maior número de adolescentes que têm recorrido ao programa. Dos 58,4 mil estudantes matriculados, um total de 13.309 alunos está na faixa etária dos 15 aos 17 anos de idade, o que corresponde a cerca de 22,7% do total. Nesse grupo, 414 estão matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental, 11,9 mil nos anos finais e 910 estão no ensino médio. O número maior de estudantes é do gênero masculino.
Nos últimos quatro anos, a evasão escolar diminuiu consideravelmente no Distrito Federal. Confira os dados:
A diretora da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação do DF, Leoneide Rodrigues, diz que esse fenômeno tem comprometido, “significativamente”, os princípios da Educação de Jovens e Adultos, que dizem respeito à oferta de escolarização ao trabalhador que, por alguma razão, não concluiu seus estudos na idade considerada adequada ou regular.
O perfil do estudante da EJA – segundo ela – é formado, no geral, pela classe trabalhadora. São pessoas que, por algum motivo, não tiveram a oportunidade de estudar mais cedo, por isso procuram esse segmento de ensino. Leoneide Rodrigues afirma também que esse fenômeno é provocado pelo público de adolescentes, na faixa etária entre 15 e 17 anos que, pelas várias retenções ocorridas em seu percurso escolar, procuram a Educação de Jovens e Adultos para cursar o Segundo Segmento (anos finais do Ensino Fundamental). A intenção se caracteriza pela tentativa de “aligeirar” sua escolarização, com foco na certificação.
A empregada doméstica Valdilene Alves, 37 anos, moradora de Sobradinho, está matriculada na Educação de Jovens e Adultos. Ela não estudou mais cedo por dois motivos: a proibição do pai e a distância da casa dela até o colégio mais próximo. A sua rotina não era fácil. Veio de uma família de 11 irmãos, todos nascidos no sertão paraibano em uma cidade chamada São José de Caiana (a 426 km da capital João Pessoa). A escola ficava a cinco quilômetros de distância Tinha que ajudar nas tarefas domésticas e também na plantação na roça. Valdilene mora em Brasília há 16 anos. Mudou-se para a capital federal em busca de trabalho e melhores condições de vida. “Eu não estudei mais cedo porque o meu pai não deixava a gente estudar”, disse.
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Ainda de acordo com Leoneide Rodrigues, o processo de migração dos jovens para o EJA está sendo analisado para que os desafios que envolvam os alunos sejam identificados. “Os resultados da análise dos aspectos que envolvem essa convivência entre os dois públicos mencionados deverá fundamentar a construção de uma política ou de uma intervenção mais assertiva na EJA”, afirmou.
Combate ao analfabetismo
No Distrito Federal, ações contribuem para a diminuição do analfabetismo na região. É oferecido o primeiro segmento, que equivale aos anos iniciais do ensino fundamental. O programa prevê a alfabetização de jovens e adultos que não tiveram acesso à escolarização. Além disso, a Secretaria de Estado de Educação aderiu ao Programa Brasil Alfabetizado, proposto pelo Ministério da Educação, cujo objetivo é promover a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos. A SEE-DF desenvolveu também o Programa DF Alfabetizado, que oferece bolsas complementares, gerencia e acompanha a ação alfabetizadora desenvolvida em suas Coordenações Regionais de Ensino e promove a formação dos educadores voluntários que atuam nessa iniciativa.
Além da Educação de Jovens e Adultos, Programa DF Alfabetizado, a Secretaria de Educação do DF, pretende desenvolver um projeto piloto que visa promover a superação de dificuldades de leitura e escrita, alfabetização e letramento, por parte de estudantes matriculados no Segundo Segmento da EJA, em uma de suas Unidades Escolares. Intitulado Arte e Leitura na Educação de Jovens e Adultos, o projeto será implantado inicialmente no Centro de Ensino Fundamental Dra. Zilda Arns.
A coordenadora enfatiza que a SEE-DF tem fortalecido a EJA, principalmente, oferecendo a integração com a educação profissional. Isso acontece de duas formas: com adaptação curricular, que possibilita ao aluno ter a certificação da sua escolarização integrada à escolarização profissional como no caso das escolas Irmã Regina, em Brazlândia e do CED 02, no Cruzeiro e também oferecendo cursos de curta duração para Formação Inicial Continuada.
Por Flávio Lacerda