Professores de português e de redação em Brasília criticaram a decisão da Justiça Federal de não zerar mais a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que ferir preceitos dos direitos humanos. Segundo a professora de redação Sarah Benites, essa decisão significa um retrocesso já que a própria constituição do país é pautada nos preceitos da dignidade e cidadania.
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Para a professora, de forma geral, os efeitos da decisão, se mantidos, seriam mínimos. Segundo ela, a mudança não deve prejudicar os alunos que foram preparados para a prova de redação do Enem respeitando os direitos humanos. “Uma pessoa que se paute no desrespeito aos direitos humanos não representa uma ameaça para os outros participantes. Esse aluno provavelmente terá uma nota baixa”, explica.
“Como avaliar o ensino médio em decorrência de alguém que não entende de direitos humanos?”, questionou o professor e escritor Marlus Alvarenga. Para ele, seria problemático facilitar o acesso ao ensino superior para pessoas que tragam nas redação mensagens de viés de intolerância racial ou religiosa, por exemplo. O docente acrescenta que pode ter havido algum equívoco no processo de formação no ensino médio do aluno que escreva conteúdos preconceituosos.
A prova do Enem é baseada em um conjunto de habilidades que o aluno deveria ter ao concluir o ensino médio. Segundo o professor Hudson Oliveira, a prova não pode ser arbitrária, já que ela é pensada de acordo com o molde a educação de ensino médio brasileiro. “O modelo de educação aplicado no Brasil tenta se adequar à realidade brasileira”, comenta.
O que zera a redação?
Segundo os professores entrevistados, é difícil zerar a redação no ENEM. A orientação aos corretores é que se considere o que foi escrito, ressalvados os casos de quando há fuga completa do tema, desrespeito aos direitos humanos, desrespeito à tipologia textual (dissertativo argumentativo) ou quando há desenhos ou recados para o corretor . A professora Sarah explica que textos como o caso da receita de miojo ou hinos de times de futebol no ENEM de 2013 passaram a receber nota zero.
Os professores entrevistados pela reportagem recomendam que os estudantes façam textos com reflexões a partir das problemáticas levantadas. “A proposta de intervenção deve conter uma ação que seja cabível e que possa amenizar os problemas abordados na proposta de redação”, explica.