Eles precisam de atenção redobrada e de profissionais capacitados. E, principalmente, de estrutura física para atender as necessidades. A inclusão deixa a desejar. O professor não trabalha sozinho. A realidade da educação especial no Distrito Federal traz 6.510 alunos que carecem desses cuidados segundo o Censo Escolar de 2014. A Secretaria de Educação alega que, hoje, a maior limitação para esse ensino são as escolas tombadas, fato que impossibilita a expansão de novas salas e, consequentemente, prejudica o aprendizado dos alunos por não terem uma turma reduzida.
A Coordenadora de Ensino Especial, Ana Cristina Correia, diz que, apesar da quantidade de profissionais ser suficiente, muitas vezes não se atende da maneira correta por falta de estrutura física. “O atendimento fica prejudicado, às vezes a turma fica com um número maior de alunos que deveria”. O Distrito Federal possui 13 unidades de ensino especializado, além de classes especiais em escolas públicas regulares que permitem até dois alunos com transtorno de desenvolvimento e também turmas de integração inversa, que são 15 alunos no total, sendo dois ou três com alguma deficiência.
Para a psicopedagoga Cristiane Mesquita, a atenção adequada por parte dos professores é fundamental para o desenvolvimento e a alfabetização de crianças, jovens e adultos especiais. Segundo ela, existem muitos alunos que estão na escola e que ainda não foram alfabetizados, mas que o ambiente e a conivência com colegas também são importantes para todo o processo. “Eles precisam ter acesso à escola para se socializarem e viverem em sociedade precisam fazer amigos e dessa rotina de acordar, se preparar para ir”. A alfabetização e letramento dentro das salas de aula para alunos especiais são mais difíceis, e, muitas vezes, torna-se necessário um trabalho paralelo e específico, com estimulações, psicólogos, psicopedagoga e fonoaudiólogos.
Profissionais
A dona de casa Viviane Benon é madrasta de Ana Luíza Sampaio, de oito anos, e possui autismo em grau moderado. Ela diz que a proposta inicial do ensino especializado no DF atrai muitos pais. A Classe Especial pública é diferenciada da classe normal de uma escola particular. Nesse caso, um professor ensina apenas duas crianças especiais a fim de que a atenção e o foco fique mais direcionados. Isso, na teoria. “Uma professora não consegue desenvolver o trabalho adequado com duas crianças ao mesmo tempo, caso uma seja mais dependente de atenção do que a outra, como é com a Ana Luíza”, afirma Viviane.
Segundo Ana Cristina Correia, é preciso ser pedagogo e ter habilitação na área de autismo. A capacitação é oferecida pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE). Em quase 3 anos de rede pública, Ana Luíza Sampaio teve de duas a três professoras em um mesmo ano. Desde 2013, as professoras nunca haviam trabalhado com crianças especiais.
No ano passado, Viviane Benon diz que pediu um estudo de caso a escola para avaliarem Ana Luíza como uma criança dependente, que necessitava de um atendimento especializado, um profissional só para ela. “Há quase um mês conseguimos esse estudo que deveria ter sido realizado em sua triagem quando entrou na rede pública o que não ocorreu”.
A psicopedagoga Cristiane Mesquita diz que na rede pública e privada o atendimento específico ainda não é o que os alunos especiais precisam. Inclusão começa pelo preparo adequado dos professores e funcionários das escolas para as necessidades dessas crianças. Com espaço físico adequado, brinquedos pedagógicos e investimento em cursos e especializações para os pedagogos. “Vejo muitos educadores completamente desinformados sobre autismo, síndrome de Down e desesperados em como lidar com essa nova realidade em sala de aula”.
Hoje, algumas escolas adotam o sistema de dois professores para quatro alunos especiais. A coordenadora da educação especial diz que o atendimento é feito na medida do possível. “Mesmo que a secretaria de educação tenha tido problemas no início desse governo atual, temos bons profissionais”. Viviane Benon acredita que a falta de apoio por parte do governo desmotiva muitos professores “É um absurdo. É não apoiar os poucos educadores que querem e assumem o amor a essa turmas. Estamos perdendo os poucos que ainda temos”, disse.
Por Júlia Campos