O ambiente escolar pode causar diferentes tipos de impactos na saúde de crianças e adolescentes, quando os alunos tiverem algum tipo de deficiência.
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Para especialistas a avaliação precisa ser diferenciada. A psicopedagoga Ana Paula Barbosa, professora do Centro Universitário de Brasília (Ceub), destaca que cada caso deve ser estudado individualmente. “É preciso sempre fazer uma avaliação da aprendizagem e, assim, traçar metas, caminhos e propostas”, disse.
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Guilherme, de 9 anos, tem transtorno do espectro autista (TEA), e a mãe dele, Márcia Bonfim, recorda que o filho não gostava de ir à escola em função da dificuldade no aprendizado. No entanto, ele já se adaptou e disse que foi fundamental para isso a ampliação de amizades. “Ele gosta muito dos colegas. É o que o anima ae ir para a escola. Ele quer ser aceito, inserido nos grupos”.
Durante a pandemia, Guilherme foi transferido para o colégio público, em uma turma considerada inclusiva (possui, no máximo, duas crianças com deficiência). Na sala, tem 20 alunos, a professora e um monitor para auxiliar especialmente as duas crianças.
A mãe do garoto acredita que os professores do ensino público são mais capacitados. Ela viu uma melhora significativa do aprendizado e do tratamento do filho com a mudança de escola.
Ela destaca a importância da parceria escola-família. “É uma relação em que a escola e família tem que trabalhar juntos. Os dois têm que estar alinhados, em comunicação, para que a criança possa progredir”.
Desde 2016, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) assegura a oferta de profissionais de apoio para estudantes com deficiência auditiva, visual, física, intelectual ou com autismo matriculados em qualquer nível de ensino de escolas públicas ou privadas.
Em 2011, o decreto 7.611 regulamenta o Atendimento Educacional Especializado (AEE), para alunos do ensino regular. Nele, é elaborado um plano pedagógico e de acessibilidade para cada estudante.
Segundo a coordenadora de um colégio particular em Brasília, Bernadete de Carvalho, a escola busca fazer as adaptações possíveis para atender todos os alunos. “Alguns alunos têm o viés da aprendizagem do ponto de vista acadêmico, mas que representa muito pouco, mas também tem o lado da socialização, mesmo que com limites”. E tudo isso é formalizado por meio do AEE.
“Eu era invisível”
Maurícyo de Oliveira, 14 anos, nasceu surdo profundo bilateral, usuário de dois implantes cocleares desde 11 meses de idade, já se mudou de escola porque não estava feliz. Na escola antiga sofreu algumas dificuldades de aceitação dos amigos e se entristecia por conta da exclusão que sofria. “Eu era invisível”.
Na escola nova, começou a fazer amizades e se sente melhor e feliz. Gosta de brincar com os amigos. Recebe ajuda dos professores e atendimento especializado no contra turno. No caso dele, foi mais questão social na escola do que questão dos estudos. O diretor de um colégio particular em Brasília, Ricardo Timm explica que o papel da escola é tentar se ajustar à necessidade de cada um. “Existem diferentes tipos de problemas: acadêmicos e de socialização. Às vezes uma criança tem um e não o outro e vice versa”.
Maria Eduarda tem 15 anos e está no 1° ano do ensino médio, tem uma deficiência auditiva. Ela descobriu a surdez com nove anos e, desde então, usa aparelho auditivo bilateral, mas ainda tem 20% perda de audição. Ele lamenta que sofre bullying na escola desde pequena.
Durante a pandemia, ela conta que os professores muitas vezes não conseguiam atender suas necessidades e nem faziam questão de ajudar. A mãe sempre tentou marcar reunião com os diretores e coordenadores para falar sobre as limitações da filha, mas nunca conseguiu marcar.
Hoje em dia, depois do caos na pandemia, muitos professores começaram ajudá-la como podiam. “Embora eu reconheça que esses professores têm se esforçado para me auxiliar, sinto que falta a eles a empatia pelos alunos que necessitam de um apoio”.
Um relatório feito em 2021 pelo Unicef mostra que crianças com deficiência têm 49% mais probabilidade de nunca terem frequentado a escola do que crianças sem deficiência. O documento aponta que crianças com deficiência estão em desvantagem em comparação com as outras crianças na maioria das medidas de bem-estar infantil.
Para a coordenadora da Escola Classe 104 de São Sebastião, Rosane Oliveira, as crianças com algum tipo de deficiência geralmente gostam de ir à escola inclusiva.
“Em alguns casos, a aprendizagem das crianças comuns ou deficientes ficam um pouco prejudicada devido à atenção maior que estas crianças demandam por parte do professor e na maioria das vezes a criança especial não têm qualquer condição de acompanhar o mesmo desenvolvimento de aprendizagem da criança comum, fazendo com que neste sentido a inclusão se torne improdutiva”, disse.
Nesse sentido, a psicopedagoga acredita que toda escola deveria ter mais psicólogos, psicopedagogos, neuropsicopedagogos e assim ampliar o suporte aos alunos. “A inclusão é um processo exigente, que deve ser feito por uma equipe especializada, com melhores arcabouços técnicos e teóricos para amparar as crianças e as famílias”.
Na avaliação da psicopedagoga Ana Paula Barbosa, a convivência no ambiente escolar faz bem para crianças deficientes. “A escola tem um papel fundamental. A criança passa boa parte do tempo se constituindo naquele espaço, desenvolvendo-se nas interações. As crianças que convivem, aprendem sobre as diferenças e tudo isso faz com que tenhamos o movimento de mudança “, ressalta.
Por Maria Eduarda Lima e Natalia Francescutti
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira